por Rosana Leite Antunes de Barros *
O último censo do IBGE apontou que 52% da população é composta por negras e negros, assim entendidas as autodeclaradas negras e pardas. As discriminações são frequentes a essa grande camada social, consequência da escravização e do racismo.
A classe mais pobre do país tem 70% de negros e negras. E, em se cuidando dos abastados, apenas 15% dos ricos e ricas pertence à raça negra. A nossa herança é macabra, sendo o Brasil o país que mais traficou escravos e escravas do continente africano. Estimou-se 5 milhões de pessoas traficadas no Brasil contra 400 mil nos EUA. Quanto ao racismo, 90% das pessoas pesquisadas pelo Datafolha afirmam que existe. Entretanto, 95.7% negaram ser preconceituosos e preconceituosas.
A violência simbólica é aquela que passa "despercebida", sendo praticada diariamente por alguns e algumas, reforçando estereótipos negativos. E entre as mulheres negras, fica manifesta as situações e pechas a elas atribuídas.
Alguns termos são destinados às negras. A nomenclatura "mulata", por exemplo, que no carnaval é sinônimo de Brasil, é derivada do latim "mulus", que significa mula. É a mula a filha problemática da égua com o jumento. E, da mesma forma, são enxergadas as denominadas mulatas, como souvenir brasileiro a serviço dos turistas. Os "gringos" são pontuais ao afirmar que o melhor das terras brasileiras são as mulatas.
Os corpos das mulheres negras são tidos, no imaginário masculino, a disposição de prazeres sexuais. As "Mulatas do Sargentelli", que não ouvíamos a voz, víamos os corpos desfilando na televisão brasileira com roupas minúsculas, e com o chamado samba no pé. Na época da copa do mundo de 2014, sediada pela Terra de Cabral, homens do mundo inteiro vieram não só para assistir às partidas de futebol, mas, também, em busca de conhecer as "Mulatas tipo exportação".
A absurda sensualidade atribuída às negras também as torna "mulheres perigosas" ou "sedutoras", na fantasiosa, tosca e deprimente cabeça de parte da sociedade. Se intitulou, ademais, que as mulheres negras são fortes ao extremo, podendo suportar a dor e trabalho pesado com maior facilidade que as outras raças. Existem inúmeras reclamações no serviço de saúde quanto ao descaso atribuído no atendimento dessas mulheres. Acredita-se piamente que elas são mais tolerantes a doenças e dores, sendo deixadas para segundo plano.
"É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito", afirmou o atual Albert Einstein. Se a linguagem é capaz de mostrar como enfrentamos as mazelas sociais, não há como compactuar e associar a negritude a ações ilícitas e imorais. Dizer que "a coisa está preta" para firmar situação pouco agradável, é concordar com a negatividade de tudo que é negro ou preto, englobando pessoas. Narrar que determinada mulher negra é da "cor do pecado", em um país laico, todavia, com grande influência das questões cristãs em decisões, é induzir que as negras são associadas ao pecado, descontrole, e falta de civilidade.
O Brasil precisa urgentemente de avanços quanto à forma de tratamento e reconhecimento dos negros e negras. Atenho-me à mulher negras, que sofre dupla discriminação, chegando a perceber salário mensal 40% menor que o homem branco. As perguntas são essenciais para a compreensão do assunto, firmando ações que extirpem a mesquinhez. Como as mulheres negras são prejudicadas com a violência e a pobreza? Como está o mercado de trabalho para as negras? Existe racismo estrutural? A solução é a continuidade do período escravagista, onde as negras eram sequestradas, torturadas, traficadas e vendidas como animais?
Que o dia 25 de julho, Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, seja de absoluta meditação.
* Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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