por Maurício Moraes*
No atual cenário internacional, com a globalização sendo fortemente questionada e barreiras ao livre comércio sendo levantadas por diversos países, as incertezas no comércio mundial se tornam cada vez maiores, desafiando os líderes de empresas a adaptarem suas estratégias. De acordo com a 21ª Pesquisa Anual Global com CEOs da PwC, entre 2017 e 2018, enquanto o excesso regulatório permaneceu como a principal preocupação dos CEOs, a preocupação com incertezas geopolíticas subiu da quinta para a terceira posição.
Para o agronegócio brasileiro, estes movimentos protecionistas igualmente são preocupantes. Diversos produtos brasileiros são bastante competitivos no mercado internacional, levando determinados países a impor barreiras ou sobretaxar às exportações das commodities agrícolas brasileiras.
A guerra comercial entre os Estados Unidos e China, principal conflito comercial desencadeado em 2018, causou muitos impactos. A China é o principal destino das exportações agrícolas brasileiras e os EUA, além de ser o terceiro principal destino, é um importante competidor do agronegócio brasileiro nas cadeias de soja, algodão e proteína animal.
No caso da soja, com a tributação da oleaginosa americana em 25%, os asiáticos, maiores consumidores e importadores mundiais, recorreram ao Brasil, valorizando o preço e aumentando as exportações. O cenário positivo também estimulou o aumento da área plantada do grão e as incertezas do mercado anteciparam a comercialização da safra 2018/19.
Reflexos também foram sentidos no algodão. No comparativo entre as safras 2017/18 e 2018/19, com o aumento de área plantada podendo chegar a 21,4%, a produção de algodão em pluma pode atingir 2,3 milhões de toneladas, crescimento de 16,5%.
Outro segmento que se beneficiou da disputa foi o da proteína animal. Em um ano em que o segmento sofreu diversas barreiras às exportações de carnes, as exportações só não foram ainda menores devido ao aumento da demanda chinesa.
Mas até quando esse cenário vai continuar? No início de dezembro, os presidentes dos EUA e China, acertaram uma trégua válida por 90 dias, a partir de 1º de janeiro de 2019, onde se comprometeram a não elevar ainda mais as tarifas e concordaram em iniciar negociações para esfriar as tensões comerciais. Além disso, as empresas estatais chinesas voltaram a buscar a soja norte-americana, reservando mais de 1,5 milhão de toneladas para serem entregues de janeiro a março de 2019, a primeira grande compra da China do produto dos EUA nos últimos seis meses.
Apesar deste recuo nas medidas protecionistas, as incertezas continuam. As práticas protecionistas de comércio tiram dinamismo da economia internacional e afetam seu crescimento, proporcionando um ambiente adverso e complexo.
Nesse sentido, além de olhar para a safra que está no campo, as empresas do agronegócio brasileiro devemestar atentas, entre tantas importantes questões ligadas as suas atividades, aos acordos bilaterais e multilaterais que estão sendo firmados e aos conflitos comerciais, principalmente em relação à China e EUA.
*Maurício Moraes, sócio e líder da indústria de Agribusiness da PwC Brasil
Brasil unido pelo Rio Grande do Sul
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).