por Manoel Vicente de Barros*
Não é de hoje que o Portão do Inferno, um precipício de 50 metros nas curvas que ligam Cuiabá ao paraíso de Chapada dos Guimarães, é local de tentativas de suicídio. Não sabemos quantas pessoas já tentaram ou conseguiram retirar suas vidas nesse mirante que deveria ser apenas mais uma bela paisagem na MT 251, mas é certo que os moradores da região convivem há anos com essa situação. O assunto foi reavivado pela divulgação de um vídeo em que um motoqueiro salva um jovem de saltar no último minuto. O ato heroico e o drama que o tema carrega trouxeram de volta o assunto à nossa região.
Muitos acreditam que o nome do local possui impacto nesse comportamento e a ideia de “Inferno” atrai as mentes desesperadas, mas está longe de ser o único cartão postal com esse estigma.
De Nova Iorque, com o Edifício Empire State, a Paris, com a Torre Eiffel, vários países possuem pontos turísticos que se tornaram palco de suicídios.
Suicídio não é mais um tabu. É assunto de utilidade pública e precisamos falar sobre isso.
O suicídio é uma tentativa desesperada de aliviar uma dor, de buscar saída em meio ao sofrimento e desesperança sobre o futuro. A Depressão é a maior causadora do comportamento suicida - é como uma lente de pessimismo e negatividade, não deixa a pessoa enxergar outra saída, afinal, como você se livra de algo que dói na alma?
É mais que comprovado que a Depressão é uma doença, causada por fatores biológicos e sociais, associar o ato de suicídio ao Inferno talvez seja resquício de nossa cultura religiosa que acredita que quem comete o ato merece punição eterna. Talvez a própria pessoa esteja convencida disso.
No entanto, o mais provável é que o ponto seja associado no imaginário local a “um fim garantido”, sem chance alguma de sobrevivência. Quem está deprimido quer alívio, e só vislumbra esse caminho como solução do seu sofrimento, mas a verdade é que não é.
Um estudo feito com mais de quinhentas pessoas salvas do suicídio da ponte Golden Gate em São Francisco – o local com mais suicídios registrados no mundo – após 20 anos descobriu que 95% delas estavam vivas ou faleceram de mortes naturais. Isso aponta que o comportamento suicida é impulsivo – um ato desesperado de sanar uma crise depressiva - que na maioria das vezes é resolvida.
Quem tenta suicídio não é um condenado sem salvação, as crises passam e o pensamento suicida também. Estender o braço e oferecer tratamento realmente salva vidas.
Medidas preventivas como instalação de grades de proteção, câmeras de vigilância e equipes de pronta resposta conseguiram zerar suicídios em diversos locais. A oferta de tratamento com psicologia e psiquiatras em um sistema de saúde mental eficiente e acessível é indispensável nessa luta.
Não precisamos observar mais episódios como quem aprecia uma paisagem, medidas incisivas são possíveis, necessárias e urgentes. O que estamos fazendo para mudar esse cenário?
Se você tem Depressão, procure auxílio profissional, o tratamento moderno com psicoterapia, medicamentos e até abordagens não medicamentosas como a Estimulação Magnética Transcraniana são cada vez mais acessíveis.
Ao contrário do que se pensa, Depressão tem tratamento!
*Manoel Vicente de Barros é Médico Psiquiatra e Diretor Clínico do Instituto de Psiquiatria e Estimulação Cerebral, formado pela UFMT, CRM MT 8273, RQE 4866 e atua no tratamento de Depressão e Ansiedade.
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