A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu nessa segunda-feira (14.10) duas pessoas suspeitas de envolvimento em um esquema que resultou na infecção de seis pacientes com o vírus HIV após transplantes de órgãos. De acordo com informações divulgadas pelo Jornal Nacional (JN), um dos motivos por trás do erro seria a ordem dada pelo laboratório responsável para economizar reagentes usados nos exames de sorologia, essenciais para detectar doenças como HIV.
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Segundo a reportagem, os detidos são o técnico de laboratório Ivanilson Fernandes dos Santos, que era responsável pelos testes no PCS Lab Saleme, e o médico Walter Vieira, um dos sócios do laboratório e responsável técnico por assinar os laudos que liberaram os órgãos para transplante.
Segundo o depoimento de Ivanilson, que o JN obteve, o laboratório reduziu o controle de qualidade dos exames de diário para semanal. Essa mudança teria ocorrido por ordem da coordenadora do laboratório, Adriana Vargas, com o objetivo de economizar reagentes, considerados caros. "A partir do início do ano de 2024, o controle de qualidade passou a ser semanal e de responsabilidade da coordenadora Adriana Vargas", afirmou Ivanilson. Ele ressaltou que realizar o controle semanal aumentava o risco de erros, uma vez que os reagentes poderiam se degradar com o tempo. "O controle é uma segurança da certeza do resultado e, por isso, deve ser diário", acressentou o técnico em seu depoimento.
Ainda segundo Ivanilson, a ordem para reduzir a frequência dos testes foi dada explicitamente para cortar custos. "Adriana Vargas disse que a ordem era para economizar porque estava tendo muitos gastos", detalhou o técnico, que afirmou ter previsto que algo de errado poderia acontecer, o que o levou a considerar seu desligamento do laboratório. Dias antes de ser preso, ele foi demitido e recebeu aviso prévio.
O médico Walter Vieira, por sua vez, afirmou à polícia que a culpa pelos laudos incorretos recaía sobre o coordenador de biologia do laboratório, Cleber de Oliveira Santos, que teria falhado ao verificar os equipamentos de teste. Cleber está foragido. Vieira também afirmou que um dos erros ocorreu devido à digitação incorreta de um resultado feita por Ivanilson, e que outra funcionária, Jaqueline Bacellar, teria deixado de conferir o laudo final.
Jaqueline, que teve sua prisão decretada, afirmou em entrevista ao repórter do JN, que sua assinatura foi usada indevidamente e que suas funções no laboratório eram apenas administrativas, não técnicas.
Além das infecções dos seis pacientes, o escândalo trouxe à tona outro erro grave cometido pelo laboratório PCS Saleme. Tatiane Andrade, que deu à luz em 2023, recebeu um diagnóstico falso positivo para HIV logo após o parto, o que a impediu de amamentar sua filha recém-nascida por um mês, levando a um tratamento desnecessário e ao desespero da mãe. "Era meu sonho amamentar, e eu não pude. Secaram o meu leite", contou Tatiane, que registrou uma denúncia na delegacia após reconhecer o laboratório na reportagem do Jornal Nacional.
A Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro informou que o laboratório PCS Saleme não realiza mais exames para o estado e que uma comissão foi criada para acolher os pacientes afetados. O laboratório, por sua vez, declarou que prestará suporte médico e psicológico aos infectados e reafirmou que o erro no caso de Tatiane Andrade foi corrigido em um terceiro teste.
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