O Grupo Gay da Bahia, mais antiga ONG de cidadania LGBT no país, divulgou nessa quinta-feira (28.01) o novo relatório sobre o número de mortes de gays, lésbiscas, travestis e transexuais no Brasil. Segundo o levantamento, houve 318 assassinatos em 2015, o que significa uma morte a cada 27 horas. O número é ligeiramente menor do registrado em 2014, quando 326 assassinatos foram catalogados. Do total em 2015, 52% dos mortos eram gays, 37% travestis, 16% lésbicas e 10% homossexuais.
Segundo o levantamento do GGB, proporcionalmente as travestis e transexuais são mais vitimizadas: o risco de uma trans ser assassinada é 14 vezes maior que de um gay. Na comparação com os Estados Unidos, o risco é nove vezes maior. Enquanto no Brasil 119 trans foram mortas, apenas 21 trans norte-americanas foram assassinadas no ano passado. Segundo organismo de direitos humanos internacionais, mais da metade dos assassinatos de transexuais no mundo ocorrem no Brasil.
Os estados com maior número de mortes foram São Paulo, com 55 assassinatos, e Bahia, com 33. Proporcionalmente, o estado de Mato Grosso registrou maior violência contra LGBTs, 6,49 assassinatos por 1 milhão de habitantes, seguido do Amazonas, com 6,45. Em termos regioanis, o Nordeste lidera com 106 óbitos, seguido do Sudeste, com 99. A vítima mais jovem foi um adolescente de 13 anos, que gostava de se vestir com trajes femininos, encontrado morto com 15 facadas em Rio Claro, interior de São Paulo. O mais idoso foi um médium carioca, de 74 anos, encontrado com sinais de tortura e espancamento pela ex-esposa.
Segundo o GGB, em apenas 1/4 dos homicídios o criminoso foi identificado (94 de 318) e apenas 10% dos casos resultou em abertura de processo e punição dos culpados. 16% dos acusados eram menores de 18 anos e 87% menores de 29 anos.
Tudo é homofobia?
Seriam todos esses 318 assassinatos crimes homofóbicos? Para o antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB não há dúvida que sim. “99% desses homicídios têm como motivo seja a LGBTfobia individual (quando o assassino tem mal resolvida sua homossexualidade), seja a LGBTfobia culturaL (que expulsa as travestis para as margens da sociedade onde a violência é endêmica), seja a homofobia institucional (quando os governos não garantem a segurança dos espaços frequentados pela população LGBT e nem aprovam leis condenatórias da LGBtfobia). Mesmo quando uma trans está envolvida em um ato ilícito, sua condição de “viado” aumenta o ódio e a violência na execução do crime. De norte a sul do Brasil se ouve que viado tem mais é que morrer e pais e mães repetem a fala do deputado Jair Bolsonaro que diz preferir um filho morto a um filho gay”.
O presidente do GGB, Marcelo Cerqueira, reforça a opinião do fundador da ONG. “Ser gay, lésbica, travesti ou transexual é um agravante de periculosidade dentro da intolerância machista dominante em nosso país”, disse.
Produtor cultural foi morto na Baixada Fluminense
Em um dos casos de maior repercussão no país, o produtor cultural Adriano da Silva Pereira foi morto em Queimados, na Baixada Fluminense, em julho do ano passado. O corpo foi achado com sinais de facadas e espancamento em um córrego da região. O acusado, André Luís dos Santos Vieira, o André Chupeta, foi preso em Alagoas por agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
De acordo com as investigações, os dois se conheceram na noite do crime em uma festa e foram, com mais dois amigos, no carro de André para outra comemoração. Segundo a polícia, o acusado teria flertado com a vítima no trajeto. Ao sair do carro, no entanto, André deu uma joelhada no rosto de Adriano. Antes de cair desmaiado, o produtor cultural ainda perguntou: “O que eu fiz para você?”.
Testemunhas tentaram impedir as agressões, mas o acusado tentou passar com o carro por cima de Adriano e repetia a todo momento que “odiava homossexuais”.
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