Reprodução/ Corpo de Bombeiros
Médica Mariana Fossati, resgatada quase 30 horas após um acidente de carro, em hospital.
A médica Mariana Fossati, de 30 anos, passou momentos de apreensão após sofrer um acidente de carro e precisar esperar quase 30 horas para ser encontrada. Ao mesmo tempo que relata o medo que teve de morrer sozinha na ribanceira em que estava em 18 de abril, ela brinca que a espera pelo resgate "parecia uma prova do BBB". Atualmente, ela se recupera dos ferimentos em casa, em Curitibanos, no Oeste catarinense.
Ela sofreu o acidente na manhã de 18 de abril, um domingo, em Pouso Redondo, a um pouco mais de 70 quilômetros de Curitibanos. Ela estava indo para Taió, cidade vizinha a Pouso Redondo, onde faria um plantão em um hospital. O carro caiu em uma ribanceira e ela precisou passar a noite no local do acidente até ser resgatada, 29 horas depois. Ela foi levada ao hospital e teve alta em 27 de abril.
"Só rezava para não me deixar morrer sozinha. Tinha medo de morrer sozinha de madrugada. Teve hora que passei muito frio. Também estava com sede, a minha garrafa de água, tudo voou de dentro do carro. Não tinha comida, não tinha nada, parecia uma prova do BBB", disse Mariana.
Desvio e capotamento
O acidente aconteceu depois que ela tentou desviar de um animal na pista. "Eu lembro que eu estava cantando. Estava tocando Fernando e Sorocaba. Olhava no relógio, eram 5h10 e logo em seguida vi um cachorro. O pessoal da região diz que ali não tem cachorro, tem capivara. Mas estava escuro, tinha cerração, a pista estava molhada. Eu estava enxergando muito pouco. Estava de óculos, mas não vi direito. Freei muito rápido para desviar. Bati a cabeça no vidro da lateral, não vi o carro capotar", contou.
Quando acordou, eram 6h30. "Todas as janelas quebraram. A única coisa que sobrou foi o celular, que estava no carregador. O resto, voou tudo", relatou. No acidente, o carro capotou várias vezes, até ficar com a traseira presa em árvores. O veículo ficou em posição praticamente vertical na ribanceira, com as duas rodas da frente ainda não chão. Mariana disse que a posição ficou até "confortável" para ela.
Noite no carro
A médica passou o domingo dentro do carro. "Sentia muita dor na coluna. Estava com medo de lesionar a coluna e acabar ficando paraplégica. Via que mexia bem as pernas e os braços", relembrou.
Inicialmente, ela conta que não ficou muito assustada. "Meu pai é uma pessoa preocupada, imaginei que daria falta logo de manhã, estava muito calma. Pensei 'eles vão encontrar hoje mesmo, vou ficar dentro do carro'. Não pensei que eu estava abaixo da rodovia. Era um buraco, acabava a pista e era um buraco".
Ela tentou ligar para a emergência, mas o celular estava fora de área. Também não conseguiu contato com os parentes por aplicativo de mensagens. Ela tentava buzinar e gritar, sem sucesso. Conforme a noite se aproximava, ela começou a ficar preocupada.
"Fiquei com medo de bicho, cobra, de aranha. Estava com todas as janelas abertas, bem no meio do mato. Passei muito frio à noite", relatou.
Além da baixa temperatura, ela enfrentou uma chuva com cacos de vidro. O para-brisa estava rachado e o frio ajudou a quebrá-lo ainda mais. Os cacos foram caindo em cima de Mariana. "Eu escutava o vidro quebrando em cima de mim. Não foi o suficiente para me cortar, a chuva não foi muito grande. Mas eu fiquei bem gelada, minha temperatura ficou muito baixa", contou.
Manhã do resgate
Quando amanheceu, ela resolveu sair do carro. "Pensei 'se não me encontraram até agora, devo estar num lugar muito longe'. Passei pro banco do carona. Tive que fazer sete tentativas para sair, sentia muita dor. Na segunda, já estava com dor abdominal, nos braços, com dificuldade de respirar. Subi em cima do capô do carro, fui deslizando, comecei a subir a ribanceira", relatou.
"Estava gritando. Ali era uma região que ninguém passava a pé, mas eu não sabia. Um guincheiro estava me procurando e viu o rastro do carro. Quando ele respondeu aos meus gritos, tomei um susto, caí e rolei um pouco no caminho que tinha feito para subir a ribanceira, fiquei presa numa árvore. Ele ligou para os bombeiros. Todo mundo já sabia a minha localização, mas não tinham me encontrado ainda", contou Mariana.
Os socorristas a colocaram em uma maca, que foi puxada por uma corda. O pai dela e um primo que é policial também foram até o local do acidente após a médica ter sido encontrada.
São Jorge e Big Brother
Devota de São Jorge, ela acredita que o santo a ajudou. Ela levava dentro do carro uma figura impressa dele.
"Eu sempre carrego aquela imagem comigo. Aquela que estava caída [encontrada perto dela no dia do resgate] estava no painel do carro. Eu tinha feito há alguns meses algumas cópias e distribuído para a família, é um santo que eu acredito. O dia de São Jorge é 23 de abril, que é aniversário da minha mãe".
"Medicamente falando, é impossível eu ter sobrevivido. Sangrei muito, tive rompimento do baço, sangrei por 30 horas. Os pulmões bateram dentro da caixa torácica, tiveram contusão os pulmões, tive sangramento dentro do pulmão. O lado esquerdo já não entrava mais ar, era só sangue. Do lado direito, respirava por metade do pulmão", contou.
Mariana precisou ficar em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ela foi atendida em Curitibanos, na mesma cidade onde nasceu, mora e trabalha. Porém, ela atua no posto de saúde do município, não no hospital. O plantão de Taió ao qual ela se dirigia no dia do acidente era o segundo que ela faria na cidade do Vale do Itajaí.
Agora, a médica está se recuperando em casa. A mãe a ajuda, já que ela ainda sente muita dor. Ela contou que a ficha ainda não caiu em relação ao acidente. "Ainda parece que não é comigo, parece que não é a minha história que estou contando", disse.
Por causa disso, ela quer ver o carro, que deu perda total. O veículo está em uma concessionária em Lages, cidade da Serra catarinense a cerca de 90 quilômetros de Curitibanos. "Eu quero ver o carro para ver se me despeço disso e viro a página", resumiu.
Mesmo diante da gravidade da história que relatou, a bem-humorada médica encontrou espaço para brincar. "Agora eu vejo prova do BBB, vejo que eles ficam rodando [em um carrossel]. Mas não tem caco de vidro chovendo neles. Acho que ia me dar bem no Big Brother!".
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