As mortes por Covid-19 no Brasil em janeiro ultrapassaram, no domingo (24.01), as registradas em todo o mês de dezembro, mostram dados apurados pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde do país. O mês já é o segundo consecutivo, desde julho, em que as mortes de um mês superam as do mês anterior.
Enquanto dezembro teve 21.811 vidas perdidas para a doença, do dia 1º de janeiro até as 20h de domingo (24), 22.105 mortes por Covid foram registradas. O número é maior que o de novembro e outubro e fica próximo do visto em setembro.
As médias móveis diárias calculadas pelo consórcio de imprensa também apontam que houve uma tendência nacional de aumento nos óbitos por 14 dias consecutivos de janeiro – do dia 8 ao dia 21.
O dado parcial referente a janeiro foi calculado subtraindo-se as mortes totais de dezembro (194.976) do total de mortes até as 20h de domingo (217.081). Os números dos meses anteriores foram determinados com a mesma metodologia, mas considerando o último dia de cada mês.
Colapso em Manaus: Antes mesmo de terminar, janeiro já viu um colapso dos sistemas de saúde em Manaus, única cidade do Amazonas com unidades de tratamento intensivo (UTIs). O estado tem, de forma ininterrupta, tendência de alta diária na média móvel de mortes por Covid desde 22 de dezembro.
A falta de oxigênio na cidade fez com que mais de 200 pacientes tivessem que ser transferidos para outros estados e cilindros com o gás tivessem que ser doados pela Venezuela. Mesmo dias depois de o problema ser anunciado, familiares de pacientes internados ainda tinham que comprar cilindros por conta própria.
Especialistas ouvidos pelo G1 creditam o aumento das mortes no país às festas de fim de ano e à variante detectada no Amazonas, mais transmissível. Eles também preveem que o colapso visto em Manaus deve se repetir no resto do Brasil.
"Manaus está sempre à nossa frente. O que acontece em Manaus vai acontecer em outros lugares. É uma questão de tempo", afirma Ethel Maciel, enfermeira epidemiologista e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Maciel avalia que, sem campanhas de conscientização ou medidas restritivas e com o espalhamento da nova variante, muitas pessoas ainda irão morrer.
"Nós não reconhecemos o problema, continuamos como se o vírus não estivesse aqui. Ele está matando e vai matar muita gente. Essa variante no Brasil se espalha muito rápido e tem muitos indícios de que despista o sistema imune. E a gente continua com tudo aberto, tudo normal", diz.
O médico e pesquisador Marcio Bittencourt, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que a situação da pandemia ainda é diferente de um estado para o outro, mas faz previsões semelhantes.
"O que a gente tem em janeiro é o aumento [de casos e mortes] em várias regiões, em grande parte relacionado às medidas de flexibilização. As pessoas não estão fazendo [as medidas de prevenção], estão se contaminando mais e morrendo mais. Isso é o principal", afirma.
"O segundo ponto é a saturação da estrutura hospitalar – que faz com que pessoas que deveriam conseguir sobreviver acabem falecendo porque o sistema colapsou, foi incapaz de oferecer assistência à saúde, em vários aspectos, na Região Norte, principalmente na região que tem Manaus como referência", explica Bittencourt.
Existe, ainda, a questão da nova variante do coronavírus na região – mais transmissível.
"[Há] uma nova variante do vírus – que caracteriza maior transmissibilidade e, aparentemente, quadros mais graves, potencialmente justificando parte da mortalidade. A curva de mortalidade lá é impressionante, muito maior que no ano passado. Pessoas de 40, 50, 60 anos morrendo", diz o médico.
Por fim, Bittencourt lembra que esta é a época de gripe no Norte do país. "Se tudo seguir esse padrão, a gente vai ter um novo episódio nos próximos meses – março, abril, maio no Nordeste e, mais para frente, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Vai haver uma piora sazonal independentemente da variante", afirma.
No dia 20, o Amazonas registrou mais de 5 mil novos casos de Covid, um recorde; 3,6 mil foram detectados em Manaus. Ao todo, o estado tem 249.713 casos e 7.146 mortes pela doença.
Enem: O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorreu nos dias 17 e 24, teve índice recorde de abstenção: 55,3% dos inscritos não compareceram à prova.
"A gente falou tanto de adiamento do Enem. O governo não adiou, colocou várias pessoas em risco", diz Ethel Maciel, da Ufes.
"Tivemos um número de abstenção recorde, mas mesmo assim vimos imagens de aglomeração por todo o Brasil. Esses protocolos [de segurança] nós sabíamos que não iam funcionar. Não fizemos nenhuma restrição. Estamos continuamente ajudando o vírus. É difícil", afirma a epidemiologista.
No 1º dia de provas, alunos foram barrados em ao menos quatro estados porque a lotação máxima das salas já havia sido atingida. Em 58 cidades (56 do Amazonas e duas de Rondônia), as provas foram suspensas para tentar conter a alta na transmissão do coronavírus.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, afirmou que o índice de comparecimento foi maior do que o esperado.
"O Brasil, com todas as suas dificuldades logísticas e todas as suas desigualdades, você assegurar no meio da pandemia que 5 milhões pudessem fazer a prova e que 2,5 milhões façam a prova, eu acho isso uma vitória", disse Lopes.
O próximo domingo terá a aplicação do projeto piloto do Enem digital, com provas para 96 mil inscritos. A prova será reaplicada nos dias 23 e 24 de fevereiro para os alunos que não conseguiram realizá-la.
Vacinação: Este mês também viu o início da vacinação contra a Covid no país. No dia 17, São Paulo foi o primeiro a começar a aplicação da CoronaVac, minutos depois da aprovação do uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A vacina de Oxford, aprovada no mesmo dia, começou a ser aplicada neste final de semana.
O balanço da vacinação contra Covid-19 no país aponta que, até domingo (24), 15 estados e o Distrito Federal vacinaram, ao todo, 580.806 pessoas, segundo dados divulgados até as 20h.
Metodologia: O consórcio de veículos de imprensa começou o levantamento conjunto no início de junho. Por isso, os dados mensais de fevereiro a maio são de levantamentos exclusivos do G1. A fonte de ambos os monitoramentos, entretanto, é a mesma: as secretarias estaduais de Saúde.
Outra observação sobre os dados é que, no dia 28 de julho, o Ministério da Saúde mudou a metodologia de identificação dos casos de Covid e passou a permitir que diagnósticos por imagem (tomografia) fossem notificados. Também ampliou as definições de casos clínicos (aqueles identificados apenas na consulta médica) e incluiu mais possibilidades de testes de Covid.
Desde a alteração, mais de mil casos de Covid-19 foram notificados pelas secretarias estaduais de Saúde ao governo federal sob os novos critérios.
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