As doações se multiplicam para restaurar a Notre-Dame, em Paris, após o incêndio que destruiu parte da catedral na segunda-feira (16.04). Mesmo sem uma avaliação completa dos estragos e custos de reconstrução, já foram arrecadados em poucas horas mais de 600 milhões de euros (ou R$ 2,6 bilhões).
Dois grandes empresários franceses do setor do luxo fizeram doações que, somadas, ultrapassam R$ 1 bilhão. Bernard Arnault, dono do grupo LVMH, que tem como marcas Louis Vuitton e Dior, anunciou nesta terça-feira uma contribuição de 200 milhões de euros (cerca de R$ 875 milhões).
A gigante de cosméticos L'Oréal, anunciou que está doando 200 milhões de euros. A companhia francesa de petróleo Total, também participa com 100 milhões de euros e pelo menos dois dos grandes bancos franceses também doaram milhões de euros. O Société Générale prometeu 10 milhões de euros e o Crédit Agricole anunciou doação de 5 milhões de euros.
François Pinault, dono do grupo Kering (Saint-Laurent e Gucci), já havia doado na noite de segunda-feira, enquanto os bombeiros ainda lutavam contra o fogo, 100 milhões de euros (cerca de R$ 440 milhões).
Nesta terça, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, anunciou a liberação de 50 milhões de euros (quase R$ 220 milhões) para restaurar o monumento mais visitado de Paris, que recebe por ano mais de 12 milhões de pessoas.
Hidalgo propôs ainda a realização em Paris de uma conferência internacional de doadores. A região da Ile-de-France, onde se situa a catedral, anunciou outros 10 milhões de euros (R$ 44 milhões) em recursos.
Mobilização nacional - Uma campanha nacional de arrecadação foi anunciada ontem pelo presidente francês, Emmanuel Macron. "Nós a reconstruiremos todos juntos. É sem dúvida uma parte do destino francês e estará no projeto que teremos para os próximos anos", disse Macron. "A Notre-Dame de Paris é nossa história, nossa literatura. É o epicentro de nossa vida. (...) Trata-se da catedral de todos os franceses, mesmo daqueles que nunca vieram aqui."
A campanha nacional, realizada pela Fundação do Patrimônio, organização privada que promove uma loteria para angariar fundos destinados à conservação de monumentos franceses, iniciou a arrecadação online nesta terça-feira.
Ontem, o site da fundação chegou a ter problemas de funcionamento em razão do grande número de acessos simultâneos.
Várias outras campanhas de arrecadação foram lançadas na internet, que já arrecadaram dezenas de milhares de euros. As autoridades recomendam verificar a ligação oficial entre arrecadadores e os responsáveis pela reconstrução, a fim de acompanhar a efetiva destinação dos recursos.
A campanha "Notre-Dame de Paris Je t'aime", por exemplo, já levantou mais de 22 mil euros (quase R$ 100 mil).
A restauração após incêndio deverá levar anos. Alguns especialistas chegaram a estimar que poderia durar décadas. Os danos totais ainda não são conhecidos.
As causas do incêndio também não são conhecidas, mas as investigações apontam para um acidente, segundo o procurador de Paris, Rémy Heitz. "Eu posso afirmar com clareza que pelo que se sabe até agora não há nada que indique um ato voluntário", disse ele nesta terça.
Obras titanescas em curso - Considerada uma obra-prima da arquitetura gótica, a catedral da Notre-Dame integra o patrimônio mundial da Unesco desde 1991 e é considerada um símbolo de Paris.
Grande parte do telhado foi destruído, parte da abóbada caiu e a torre conhecida como "flecha" ou "agulha", com 93 metros de altura, feita com toneladas de madeira e chumbo, desabou no incêndio. A estrutura de pedra da fachada e das duas torres com campanários foi salva.
O fogo começou na parte superior da estrutura gótica que estava em obras. Ali o prédio estava envolvido por uma enorme estrutura de andaimes, instalada a 100 metros de altura, com 500 mil tubos de aço e que pesava 500 toneladas, considerada um verdadeiro desafio técnico.
As obras que estavam em andamento desde julho do ano passado, consideradas como "titanescas" pela imprensa francesa, deveriam durar cerca de 20 anos.
O primeiro objetivo era restaurar a "agulha", a torre mais alta da catedral, construída durante uma reforma feita no século 19. A cobertura de chumbo deveria ser refeita, as esculturas de cobre (retiradas antes do incêndio) seriam restauradas e parte da estrutura em madeira seria inspecionada.
O restauro dessa torre duraria quatro anos e tinha custo estimado em 11 milhões de euros (cerca de R$ 48 milhões).
Também seria restaurada a área do altar, prevista para começar em 2019, com duração de dez anos, e que incluía arcos, vitrais e esculturas.
O orçamento previsto para os dez primeiros anos de obras era de 60 milhões de euros (cerca de R$ 260 milhões). Boa parte dos recursos foi obtida por meio de mecenato pela Fundação Amigos da Notre-Dame de Paris, que levantou dinheiro principalmente nos Estados Unidos.
O Estado francês havia anunciado a liberação de 2 milhões de euros por ano. O valor poderia chegar a 4 milhões anuais, mas para isso exigiu, em contrapartida, que a fundação obtivesse a mesma soma por meio de mecenato.
As obras visavam remediar problemas causados pela poluição. O último restauro importante da Notre-Dame ocorreu nos anos 1990.
Normas de segurança em xeque - O ministério da Cultura realizou alguns investimentos no sistema de segurança contra incêndios na catedral, que inclui agentes especializados que acompanham monitores 24 horas por dia.
Mas especialistas em patrimônio, arquitetos e historiadores de arte afirmam que o incêndio poderia ser evitado e apontam normas de segurança insuficientes nas obras de renovação de monumentos históricos.
Entre os problemas, eles destacam a rapidez com a qual o fogo se propagou.
Segundo o jornal francês Le Monde, não há registro de mortes decorrentes do incêndio, mas dois policiais e um bombeiro envolvidos na operação ficaram feridos.
Jean-Claude Gallet, comandante dos bombeiros de Paris, afirmou à imprensa que, graças ao trabalho da corporação, a estrutura principal do monumento gótico de 850 anos, incluindo as duas torres, está "a salvo e preservada em sua totalidade".
Ainda não há notícias sobre o estado de alguns itens internos como vitrais e obras de arte – mas, segundo o reitor da catedral, Patrick Jacquin, duas das principais relíquias do monumento não foram danificadas: a Coroa de Espinhos e a túnica de São Luís.
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