Esse não foi o combinado. Quando o ex-presidente Lula resolveu entrar de cabeça nas articulações que renderam à Arena Corinthians - o Itaquerão - o direito a ser palco da abertura da Copa do Mundo de 2014, o então presidente corintiano Andres Sanchez saltou à frente como o grande coordenador da empreitada. Enquanto Lula pensava, também, na dinamização econômica da Zona Leste, Andres enxergou no plano uma oportunidade para brilhar.
Voluntarioso e senhor de si, o cartola lançou mão de sua amizade com Lula para fazer pontes entre o clube e a construtora Norberto Odebrecht, com a mídia e o Comitê Organizador, na direção da Fifa e dos órgãos governamentais envolvidos. Ex-diretor da Confederação Brasileira de Futebol, Andres buscou, ainda, aproveitar o espaço conquistado de manda-chuva do último grande estádio a ser entregue para Copa como base para sua candidatura à presidência da entidade máxima do futebol brasileiro.
Por volta do meio-dia desta quarta-feira 27, porém, quando o guindaste que carregava a última grande estrutura metálica da cobertura das arquibancadas leste cedeu, derrubando a peça e, com isto, fazendo desabar três setores daquele setor do estádio – matando dois homens --, não apenas o sonho de Lula ganhou contornos de pesadelo, como toda a prepotência de Andres veio à tona.
A primeira reação do dirigente sem cargo diante da tragédia foi culpar a midia. Descontrolado, o cartola se valeu de seguranças da Odebrecht para agredir um jornalista da Folha de S. Paulo e fazer com que o fotógrafo do jornal apagasse as imagens que havia obtido logo após o acidente. Em entrevista coletiva, poucos momentos depois da agressão, Andres chamou o profissional de "mais um jornalista mentiroso".
A falta de compostura tem sido um traço de Andres Sanchez ao longo dos mais de dois anos em que tomou a frente dos preparativos e do canteiro de obras. Em diferentes entrevistas, ele sempre falou considerando-se encoberto pela impunidade. Ao jornalista Luiz Maklouf de Carvalho, da revista Época, em novembro de 2011, usou as palavras de tal modo a lançar a responsabilidade da parte mais polêmica do estádio até antes do acidente – o custo da obra – nos ombros de Lula:
Andres – Quem fez o estádio fui eu e o Lula. Garanto que vai custar mais de R$ 1 bilhão. Ponto. A parte financeira ninguém mexeu. Só eu, o Lula e o Emílio Odebrecht (presidente do Conselho de Administração da Odebrecht).
Maklouf – O dia em que essa história vier a público, vai ficar feio para quem?
Andres – Não vai ficar feio pra ninguém. Vai ficar, talvez, não imoral, mas difícil para o Lula.
Maklouf – Por quê?
Andres – Porque vão falar: "Pô, como é que uma empreiteira se submete a fazer isso? Por que o presidente pediu?". É o que insinuam até hoje.
Quando a revista circulou, Andres procurou desmentir seu conteúdo, mas tudo havia sido gravado e foi disponibilizado no site da revista (abaixo).
Mais tarde, o cartola passou a desenhar da Fifa e da decisão formal de fazer a Arena Corinthians o palco de abertura da Copa do Mundo:
- Não pedimos nada, nem estou pensando em Copa. Se não querem mais, que escolham outro lugar, disse ele, no momento em que o financiamento da obra pelo Banco do Brasil encontrava mais empecilhos.
Os reptos de Andres terminaram por criar um atmosfera pesada e obscura em torno do no estádio. Sem dialogo na CBF, ele procurou correr em faixa própria na tentativa de conquistar a presidência da entidade, usando seu prestígio com Lula e o fato de estar á frente da obra na tentativa de angariar apoios.
Presente no dia a dia dos trabalhos, mesmo sem cargo formal na estrutura do Corinthians ou do canteiro de obras, Andres tornou-se uma espécie de capataz pleno de poderes. Agora, quando a polícia investiga as causas do trágico acidente, espera-se que Andres, como a mesma desenvoltura mostrada até aqui, assuma sua parcela de responsabilidade – e de uma vez por todas adote um mínimo de respeito diante de seus interlocutores, contando, afinal, se a obra foi apressada para ter cumprida a promessa de cronograma apertado.
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