Depois de apresentar dois atestados médicos para não depor na CPI do Cachoeira, o presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, suspeito de envolvimento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, afirmou neste domingo (15) ao G1 que irá comparecer ao depoimento marcado para o dia 22 de agosto no Congresso. O integrante do governo de Goiás falará aos parlamentares após ser flagrado em escutas telefônicas da Polícia Federal (PF) conversando com o suspeito de comandar jogos ilegais no estado, preso durante a Operação Monte Carlo.
Ex-tesoureiro da campanha do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), em 2010, Rincón disse que, desta vez, comparecerá à CPI e, inclusive, abrirá mão de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir um habeas corpus para ficar em silêncio. "Vou com a disposição de falar", assegurou o presidente da Agetop.
Reportagem publicada no domingo (15) pelo jornal "O Popular" revelou a transcrição de um diálogo entre Rincón e Cachoeira pelo celular do ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez (PSDB). Na ocasião, o tucano liga para o chefe e fala sobre uma suposta “moeda de negociação” em uma vistoria técnica. Ele passa o telefone para Rincón, que recebe convite para tomar vinho. Ao fim da conversa, o presidente da Agetop diz: “Ó, pode deixar que (...) está tudo organizado, o Wladimir fala com você. E o outro assunto aqui tá caminhando”.
Após divulgada a gravação, Rincón recebeu jornalistas do G1 e da TV Anhanguera em sua casa, na noite de domingo, para falar sobre o conteúdo do diálogo. Disse que só soube do início da conversa, quando Garcez fala a Cachoeira da "moeda de troca", após a divulgação dos áudios. “Não sei de moeda nenhuma. Ele me usou para tentar mostrar bom relacionamento, tentar se impor no esquema empresarial. Não quero polemizar, mas acho que ele se excedeu”, reclamou.
Rincón conta que estava na sala, com dois diretores da Agetop, quando o ex-vereador chegou, e pediu para que ele aguardasse no sofá. “Ele começou a falar no telefone e, de repente, chegou e me disse: 'fala aqui, é o Carlinhos'. Eu nem queria atender, mas fui pego de surpresa", relatou.
Questionado sobre o que estaria "organizado" e qual outro assunto estava "caminhando", o presidente diz não se lembrar exatamente do que se tratava e apontou três possíveis assuntos: o empréstimo de uma casa em Búzios, imóvel que pertence a um deputado do Rio de Janeiro, a licitação do programa Rodovida ou uma parceria público-privada para a duplicação de estradas (Procedimento de Manifestação de Interesse -PMI).
Casa em Búzios
Rincón conta que estava de viagem marcada a Búzios (RJ), para verificar a pintura de uma casa de um amigo de Brasília, que ele e outro amigo ajudam a manter, para passar temporadas. O ex-vereador teria ouvido ele pedir para a secretária reservar uma hotel e ofereceu uma casa, no mesmo condomínio, para que ele ficasse no fim de semana. O imóvel seria de um deputado do Rio de Janeiro.
"Depois da viagem ele [Garcez] veio com a história de que o Carlinhos tinha arrumado a casa. Era só conversa, para parecer que eu devia algum favor para ele", diz o presidente da Agetop, citando como possível "outro assunto" que estaria "encaminhado". Mas depois diz não estar se esse foi o motivo.
Rincón não vê problema no fato de ter aceitado a casa de Búzios emprestada porque mantinha com o ex-vereador uma relação de cunho pessoal. "O Wladimir já foi casado com uma prima minha. Me encontrei com ele em várias reuniões de família. Sempre tive uma boa relação com ele e isso não deve mudar".
Encontros
O presidente da Agetop negou ter relações de amizade com Cachoeira. Afirmou ter conversado com ele por telefone apenas uma vez e se encontrou com o então 'representante da Delta' por três vezes, uma delas na casa do ex-senador Demóstenes Torres (sem partido), para tratar de assuntos relacionados a obras de pavimentação asfáltica nas rodovias goianas.
Nenhum dos três encontros teria sido para tomar vinho. "Não sou muito de tomar vinho, prefiro uísque, e quando saiu para beber, saio com o meu grupo de amigos", disse. O gestor público diz que recebeu diversos convites de pessoas ligadas ao contraventor, mas não aceitou nenhum deles.
Dinheiro
Jayme Rincón aparece em outros dois episódios a serem apurados pela CPI: um suposto empréstimo de R$ 600 mil fornecido pelo grupo de Cachoeira e o pagamento de R$ 10 mil ao radialista Luiz Carlos Bordoni, que trabalhou na campanha de Marconi Perillo em 2010, e alega ter recebido dinheiro de caixa dois.
Investigações da PF apontam que o grupo de Carlos Cachoeira depositou R$ 600 mil na conta da empresa Rental Frota Ltda., da qual o gestor público é sócio. Uma negociação que o contraventor chama de empréstimo, mas que Rincón disse se tratar de uma pagamento pela venda de 28 veículos intermediada por Wladimir Garcez.
Segundo o presidente da Agetop, o ex-vereador não teria conseguiu pagar o dinheiro na data marcada e pediu um prazo. “Penso que ele deve ter usado meu nome para conseguir o empréstimo com Cachoeira”, justificou. Disse ainda que se quisesse dinheiro emprestado procuraria um banco, e não um desconhecido.
Rincón nega que tenha concedido algum privilégio à Delta. “Durante o período das interceptações eu apliquei mais de R$ 2 milhões de multas à Delta, por causa de problemas nas execução de obras em rodovias. Na licitação do Rodovida, eles queriam o lote 18 e não conseguiram”, pontua.
Bordoni
Tesoureiro da campanha de Perillo em 2010, o presidente da Agetop foi apontado pelo jornalista Luiz Carlos Bordoni como uma das pessoas que o pagaram, pelos serviços prestados à coligação tucana, com dinheiro de caixa dois (não declarado à Justiça Eleitoral).
Segundo Rincón, o jornalista o procurou e disse que precisava receber, mas não tinha nota fiscal. Ele teria respondido que só faria o pagamento com o documento. Mas Bordoni teria reclamado que estava em dificuldades e não tinha como pagar da nota. “Eu disse que pagava o valor da nota, por isso o valor não é redondo, é R$ 33 mil e alguma coisa”, explica.
Aneurisma
Rincón falou, durante a entrevista ao G1, sobre o problema de saúde que enfrenta desde que descobriu três aneurismas na cabeça. Disse já ter ido até para a França atrás do melhor tratamento, tentando evitar uma cirurgia. Mas a possibilidade ainda está sob análise. Está indo à comissão, segundo ele, contrariando a orientação médica. "Uma CPI é uma situação de estresse intenso que eu deveria evitar, mas eu vou", garante.
Sobre a venda da casa do governador de Goiás, o presidente da Agetop disse que não tomou parte na transação. Ele criticou a postura de membros da CPI em relação ao negócio: “Querem transformar a comissão na CPI da venda da casa do Marconi. Eu não vou lá para falar disso. Vou para falar de contratos. Porque se você dissociar o Cachoeira da Delta não vai chegar a lugar nenhum”.
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