O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, elogiou nesta quarta-feira (10), em sabatina do jornal "O Globo", a iniciativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de lançar o Bolsa Família. Aécio também defendeu o legado de seu colega de partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele ainda afirmou que a presidente Dilma Rousseff "desmoralizou" a reeleição.
Aécio argumentou que as circunstâncias que envolviam o governo de Fernando Henrique eram diferentes daquelas em torno de Lula. Ele disse que não haveria o governo do PT se não tivesse havido o do PSDB. Aécio afirmou que FHC foi fundamental no controle da inflação e que Lula acertou também em manter os pilares macroeconômicos de seu antecessor.
"Eu não acho que o PT só errou, não. Eu tenho a capacidade de compreender que a construção que temos hoje - hoje o Brasil é muito melhor do que era há algumas décadas atrás -, é uma construção de vários governos. Ao manter os pilares macroeconômicos de meta de inflação, de câmbio flutuante, de superávit primário real, ele [Lula] acertou. Esqueceu seu discurso, mas acertou. Ao unificar os programas de transferência de renda , que nós já deveríamos ter feito no nosso governo, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Vale Gás, que se transformaram no Bolsa Família, ele acertou", disse Aécio.
O candidato também foi questionado sobre um eventual segundo mandato e se, caso eleito, acabaria com a reeleição. Ele alegou que a presidente Dilma Rousseff "acabou por desmoralizar a reeleição". Aécio disse, no entanto, que não vai afirmar neste momento da campanha que vai acabar com o segundo mandato, para não parecer "algo eleitoreiro".
"Não morreria de amores por um segundo mandato. Só não vou fazer essa afirmação agora para não parecer algo eleitoreiro. [A reeleição] foi uma experiência. A reeleição não foi votada pelo Fernando Henrique, foi votada por prefeitos, pelo Congresso. Foi uma experiência que o Brasil buscou naquela época. Eu acho que a reeleição faz mal ao Brasil. É uma covardia, uma disputa desigual. E a presidente Dilma acabou por desmoralizar a reeleição. Eu acho que nós temos que ver aquilo que deu errado e modificar. O governo não é para aprenderem a governar no governo", disse.
Aécio chegou ao local da sabatina, no Museu de Arte do Rio, acompanhado do senador Francisco Dornelles, candidato a vice governador de Luiz Fernando Pezão no estado do Rio. Antes de começar a entrevista, ele brincou com crianças de uma escola municipal que visitavam o museu.
Na mesma resposta em que reconheceu a importância dos programas sociais do governo Lula, Aécio disse que a gestão do ex-presidente deixou de respeitar os pilares da macroeconomia a partir da segunda metade do segundo mandato. Para Aécio, isso prejudicou a economia do país.
"A partir da metade do segundo mandato do governo Lula, começaram a ser flexibilizados esse pilares e de lá para cá é o que está acontecendo. Economia fora de controle, sem previsibilidade, e o Brasil vivendo um processo recessivo com inflação alta, o pior dos cenários possíveis", disse.
Reforma política - Aécio comentou também a necessidade de promover uma reforma política no país. Ele criticou a proposta da presidente Dilma Rousseff de realizar um plebiscito para tratar do tema. Ele disse ainda que, além da reforma política, pretende negociar com o Congresso as reformas tributária e previdenciária.
"Sobre a reforma política, acho que isso [plebiscito proposto pelo governo] é um engodo. Será que esse é um tema para ser discutido num plebiscito? Não acho. Acho que o referendo pode ser um melhor caminho. Eu acho que a coisa se deteriorou tanto que existe espaço para isso [reforma política] acontecer. Nós temos que tentar. Não é possível que eu ache que o parlamento é composto por pessoas sem compromisso com a ética. Se eu vencer as eleições, eu procurarei esses partidos para construir uma agenda. Eu gostaria de entrar na primeira semana de funcionamento do Congresso com essas três reformas [política, previdenciária e tributária] negociadas", afirmou.
Privatizações e Petrobras - Um dos temas abordados pelos jornalistas que participaram da sabatina foi a privatização de empresas estatais. Para Aécio, o processo de privatização que ocorreu no governo tucano foi "muito importante" para o país.
"O PSDB conduziu lá atrás um processo de privatização de setores da economia que deveriam sair das mãos do Estado. Eu acho que nós fizemos, bem ou mal, com equívocos em um ou outro processo, o melhor para o Brasil, algo muito importante para o país", disse.
Aécio também criticou o que chamou de "aparelhamento absurdo" das agências reguladoras. Segundo ele, as ag~encias foram "das melhores heranças" do governo FHC.
"Houve no Brasil nos últimos anos algo extremamente grave que foi o aparelhamento absurdo das agências reguladoras. Das melhores heranças do governo FHC foram as agências reguladoras. Essas agências foram sucateadas, ocupadas por amigos e amigas do rei ou da rainha", criticou.
O candidato do PSDB também teve de responder se, caso seja eleito, estaria comprometido a não privatizar a Petrobras. Segundo Aécio, o compromisso é de "reestatizá-la". O candidato usa esse termo frequentemente em atos de camapanha para criticar o fato de, na opinião dele, o governo ter entregado a estatal a setores políticos sem qaulificação.
"Absoluto compromisso com a não privatização. Mas mais do que isso, eu vou reestatizá-la. Eu vou tirar a Petrobras da política, vai ser ocupada por quadros qualificados", completou.
Política externa - O candidato do PSDB foi questionado sobre o que pensa da atual política externa brasileira e o que mudaria, caso eleito. Para Aécio, nos últimos anos o Brasil foi "vítima" de uma "certa esquizofrenia" em sua política internacional.
"O Brasil foi vítima ao longo desses últimos anos de uma certa esquisofrenia na nossa política externa, onde houve um estímulo permanente a um alinhamento ideológico. E olha que eu não sou opositor dessa relação, acho até importante, mas não pode ser a única, o centro das preocupações do Brasil. Nós ficamos amarrados no Mercosul, nessa união aduaneira, que não nos permitiu avançar na busca de parcerias com outras regiões do mundo", afirmou Aécio.
Ele também disse que, enquanto o mundo "avançou em relações bilaterais", o Brasil se "amarrou" em acordos com poucos impactos na economia.
"Quando o mundo avançou em relações bilaterias, nós nos amarramos com acordos com a Palestina, com o Egito, com Israel, com consequências muito pouco expressivas na nossa economia, nos nossos mercados, enquando o mundo está indo embora", complementou.
Apoio de Marina Silva - Aécio Neves também foi questionado sobre se espera o apoio de Marina Silva caso ele dispute o segundo turno contra a presidente Dilma Roussef. O candidato do PSDB disse que "lamentou" que Marina não tenha apoiado, em 2010, o então candidato tucano, José Serra. Aécio também afirmou que a eleição não é para "homenagens" e sim para "dar uma virada no Brasil.
"Lamentei muito que ela não tivesse dado na eleição passada o seu apoio ao companheiro José Serra. Talvez, se tivesse ocorrido, nós não estaríamos vivendo esse caos de governo que ela tanto condena, tanto ataca. Eu tenho uma seleção brasileira com gente experiente e qualificada em todas as áreas. Eu não tenho o segundo melhor, o terceiro melhor, são os melhores. Eu acho que vai chegar a hora que as pessoas vão perceber com muita clareza que essa eleição não é uma eleição para homenagens, essa eleição é para dar uma virada no Brasil. E a virada positiva, consistente, experiente, sem riscos, somos nós que representamos", completou Aécio.
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).