Um vídeo, onde o delegado Bruno França, invade, com três policiais da Gerência de Operações Especiais (GOE), uma residência no Condomínio Florais do Lago, em Cuiabá, na noite dessa segunda-feira (28.11), viralizou em grupos de Whatsapp, nesta terça (29).
Conforme informações, ele foi até a residência cumprir um mandado de prisão contra a suspeita, que segundo ele teria descumprindo uma medida protetiva contra um rapaz, que seria o enteado do delegado. No entanto, de acordo com a vítima, Bruno não apresentou nenhum documento, apenas arrombou a porta, justificando ser da Polícia Civil e repetindo por diversas vezes que ela teria descumprido a tal medida protetiva.
A defesa da mulher, negou que ela soubesse dessa medida, e que nunca teria sido citada ou intimada sobre a medida protetiva.
Conforme as imagens registradas pela câmera de segurança da residência, Bruno abre violentamente a porta e se identifica como delegado. Ele saca a arma e vai em direção as vítimas [mãe e filha] gritando: "É a Polícia Civil, deita no chão, deita filha da puta".
O marido que estava em outro cômodo da casa aparece e pede calma, mas o delegado revida: "Deita no chão desgraçado". Em determinado momento, ele pergunta se a mulher é F., e quando ela responde que sim, ele indaga se ela sabia que não poderia chegar perto daquele 'rapaz' [enteado do delegado que estava visitando um amigo no condomínio]. "A senhora sabe que não pode chegar perto daquele rapaz? Não pode ô filha da puta. A senhora sabe que tem uma medida protetiva para não chegar perto?".
A mulher responde que não, que não sabe de medida nenhuma. O delegado continua com os gritos e as ameças, momento que um policial do GOE pede calma, e sugere acompanhar a vítima para pegar uma camiseta, para que ela se desloque à delegacia.
No final do vídeo, Bruno ainda ameaça: "Da próxima vez que você chegar perto do meu filho, eu vou estourar a cabeça dela. Eu vou explodir a cabeça dessa menina”, disse, referindo-se à criança".
Em relação ao outro vídeo divulgado na mídia, feito pelo advogado da vítima, Rodrigo Pouso, no Cisc Verdão, onde ele chega para acompanhar sua cliente e pergunta para o delegado qual o motivo da mulher estar sendo presa, o advogado acaba sendo ofendido por palavras de baixo calão pelo delegado.
Em entrevista a um programa de TV, Pouso disse que esteve no local, acompanhando a vítima que foi conduzida com a determinação de flagrante delito. Segundo ele, só queria saber o que estava acontecendo.
"Primeiro ele [delegado] me disse que ela estava presa por flagrante de injúria, ameaça e descumprimento de medida protetiva. Quando eu questionei que a minha cliente não sabia da medida protetiva e nem havia sido citada. Falei ainda que era sigiloso. Aí ele falou aquilo [as ofensas]".
A vítima, moradora da residência invadida, também em entrevista ao programa de TV, contou que está operada, e que no momento que o delegado entrou na casa dela, ela estava com a filha de 4 anos assistindo televisão e o marido estava em outra sala fazendo massagem (com uma profissional).
Segundo ela, Bruno bateu na porta com muita força e entrou após praticamente arrombar a porta. "Eu gritei, o que está acontecendo? Ele então entrou e veio em minha direção muito agressivo, mandando deitar no chão. Minha filha gritava - para tio".
Chorando, ela contou que o delegado mandou a criança calar a boca - e ainda mirou a arma na cabeça da menor. A mulher então falou para Bruno que ele não mandava a filha dela calar a boca, e ele revidou que era para ela também calar a boca por que se não "iria estourar sua cabeça".
Ela disse que tentava perguntar o que estava acontecendo, pois não estava entendendo nada, e ele dizia ter uma medida protetiva e que ela teria invadido. Ela disse: "Eu não, não recebi nada, você está louco. E ele gritava: Deita no chão e cala a boca".
A vítima contou, ainda, que o delegado ficava a todo o tempo ameaçando ela e humilhando o marido com a arma em punho. Quando estava debaixo da mesa, ela disse que conseguiu contactar seu advogado.
Sobre o motivo da medida protetiva, uma suposta briga entre o filho da vítima e enteado do suspeito [delegado]. A mulher contou que morava em outro condomínio de alto padrão na Capital, e saiu de lá após seu filho ter apanhado de sete garotos, entre ele, o enteado de França.
Segundo ela, entrou na Justiça, e mesmo assim nunca nenhuma família foi falar com ela, pelo contrário, os garotos passavam em frente a casa amedrontando seu filho. Por isso ela decidiu se mudar para ter paz. Mas, conforme ela, a paz não aconteceu, pois o enteado do delegado passou a frequentar esse novo condomínio também.
Em áudio a um programa de TV, o delegado pediu desculpas para o advogado. Em relação à invasão, ele disse que não iria se manifestar e que o caso era sigiloso. O delegado, que é genro do conselheiro do Tribunal de Contas, Antõnio Joaquim, está em estágio probatório.
Outro lado - Em nota, a Polícia Civil informou que, por meio da Corregedoria Geral da instituição, que já tomou as providências para apuração sobre a conduta do delegado Bruno França Ferreira, diante de um episódio registrado na noite de segunda-feira (28.11), em Cuiabá, quando ele se dirigiu à residência de uma mulher que teria descumprido uma medida protetiva em relação a um adolescente, enteado do delegado. A instituição informou que tal ação foi de decisão exclusiva da autoridade policial.
A Corregedoria da Polícia Civil está apurando os fatos e tomará as medidas legais cabíveis ao caso em questão.
Repúdio - A Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Mato Grosso (OABMT), repudiou o tratamento dispensado pelo delegado de Polícia Civil, Bruno França Ferreira, ao realizar atendimento ontem (28.11), no Cisc Verdão, ao advogado Rodrigo Pouso. O delegado proferiu palavras de natureza desrespeitosas, afrontosas e não condizentes com o cargo e a função que exerce, de servidor púbico, em especial, quando em atendimento a um profissional da advocacia.
Imagens de um vídeo – que já se encontra em poder desta Seccional – não deixam dúvidas da ausência de urbanidade e, ainda, da utilização de palavras de baixo calão proferidas contra o advogado mencionado, que se encontrava em seu regular exercício profissional.
"A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECCIONAL MATO GROSSO (OAB-MT) repudia veementemente atos como o ora narrados e que não condizem com a importância do cargo e da função de um delegado de Polícia Civil, bem como, não representam o tratamento dispensado à Advocacia pela grande maioria dos Delegados de Polícia e demais servidores da instituição Polícia Judiciária Civil.
A OAB-MT deixa claro que não tolerará vilipêndios desta natureza. A Seccional já estuda as medidas cabíveis a serem tomadas em razão do caso em questão".
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