As investigações sobre o assassinato de duas adolescentes foram concluídas sem que a suspeita, Mary Vieira Knorr, 53 anos, fosse ouvida pela Polícia Civil de São Paulo. De acordo com o delegado Gilmar Contrera, do 14º Distrito Policial, em Pinheiros, o inquérito foi encaminhado nesta segunda-feira (23.09) à Justiça sem o interrogatório da mãe das garotas. "A gente tentava falar com ela, mas ela fazia de conta que estava dormindo", diz o delegado.
Segundo o delegado, a suspeita se recusou a falar com a polícia na sexta-feira (20). Indiciada pelo homicídio, ela está internada no Hospital Universitário, onde está presa preventivamente, sob escolta da Polícia Militar, à espera de seu eventual julgamento.
Os corpos das irmãs Giovanna, de 14 anos, e Paola Knorr Victorazzo, de 13, e do cão da família foram encontrados por policiais militares no sábado (14) retrasado, quando a Mary também foi achada “alterada” e precisou ser medicada.
Segundo peritos da Polícia Técnico-Científica, o crime pode ter sido cometido no dia 12, uma quinta-feira. Os corpos tinham sinais de asfixia. As hipóteses mais prováveis são de que as vítimas tenham sido esganadas ou intoxicadas por inalarem gás de cozinha.
Os laudos periciais que irão determinar as prováveis data e horários das mortes serão anexados posteriormente ao inquérito, mas não mudarão a convicção da polícia. "A polícia concluiu o inquérito e o relatou à Justiça apontando a mulher como assassina das próprias filhas. O motivo seria um surto que ela teve em decorrência dos problemas financeiros que enfrentava e de divergências com as filhas", disse o delegado Gilmar Contrera.
Segundo ele, Mary não quis se defender das suspeitas. "Tentamos falar três vezes com ela para interrogá-la, mas, nas duas primeiras, ela não tinha condições médicas até por causa dos remédios que estava tomando”, afirmou o delegado. "“Na última, ela teve autorização do médico para conversar conosco, mas se recusou a falar”, disse.
O G1 não conseguiu localizar nesta segunda o advogado de Mary, Lindenberg Pessoa de Assis, para comentar o assunto. Na semana passada, o defensor da suspeita havia dito que ela não tinha condições de ser interrogada, ainda estava “surtada” e não sabia que as filhas tinham sido mortas. “Ela perguntou como estavam as meninas”, comentou Lindenberg de Assis.
Segundo o delegado do caso, o inquérito será distribuído na Justiça e no Ministério Público, onde um juiz e um promotor serão designados para analisar a investigação. Poderão ser pedidas mais diligências policiais ou a Promotoria poderá denunciar Mary à Justiça pelos assassinatos. Caberia então ao magistrado aceitar ou não a acusação para dar seguimento ao processo.
Apesar de Mary não ter sido interrogada, Contrera alegou que isso não muda a convicção da polícia de que ela cometeu o crime. “Temos os depoimentos de dois policiais militares e de uma médica que contaram que a mulher confessou que matou as filhas”, afirmou o delegado.
A defesa da suspeita já havia contestado essa versão, sugerindo que a confissão só ocorre quando o próprio investigado admite o crime que cometeu em depoimento formal à Polícia Civil. “Mary sequer foi ouvida ainda para reconhecer o que teria dito aos PMs e a médica”, falou Assis na semana passada.
Ao entregar o inquérito a Justiça, o delegado afirmou que pediu ainda a realização de um exame de insanidade mental de Mary. O resultado do teste servirá para eliminar dúvidas a respeito de seu perfil psicológico. Para a investigação, ela pode ter cometido um crime em decorrência de um surto psicótico. Se a solicitação for concedida, poderá ser feita no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc).
O caso - Informações preliminares da perícia dão conta de que as estudantes teriam sido mortas na quinta-feira (12) retrasada devido ao estado de decomposição dos cadáveres. Vizinhos ainda disseram ter visto Mary passear com o cão na sexta-feira (13), o que aumenta a suspeita de que a mulher velou as filhas por dois dias. Os corpos foram encontrados no sábado (14) pela Polícia Militar, que foi à residência atender um chamado de vazamento de gás. Como Mary não atendia as ligações de seus filhos de outro relacionamento, eles acionaram a PM.
De acordo com a investigação, Mary se identificava como corretora de imóveis, mas não possui registro no Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci). Além disso, a mulher é investigada pela Polícia Civil por suspeita de estelionato e apropriação indébita porque estaria se passando por corretora e usando o nome de uma imobiliária de “fachada” para enganar pessoas que queriam comprar imóveis. Há a suspeita que ela tenha conseguido R$ 214 mil em golpes.
Segundo o delegado, a mãe respondeu também por maus-tratos. O policial, porém, não soube informar se a acusação era de que teria maltratado as filhas. Segundo a investigação, a mãe era rigorosa com as filhas, chegando ao ponto de pregar um papel na geladeira com tarefas das meninas e punições caso não as cumprisse. As filhas relatavam nas redes sociais divergências com a mãe.