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Nacional Segunda-feira, 08 de Dezembro de 2014, 08:40 - A | A

Segunda-feira, 08 de Dezembro de 2014, 08h:40 - A | A

Popularização do produto usado por Urach preocupa dermatologistas

Hidrogel provocou infecção na coxa da modelo, que já se recupera.

G1.com

Produto que provocou a infecção na coxa esquerda da modelo e apresentadora Andressa Urach, que está internada em Porto Alegre, o hidrogel é uma mistura de soro fisiológico com uma substância sintética. O gel é injetado na camada mais profunda da pele, para dar volume, e se fixa no local da aplicação. A popularização da substância vem causando apreensão na Sociedade Brasileira de Dermatologia, conforme reportagem veiculada neste domingo (7) no Fantástico (confira no vídeo).

"A Sociedade Brasileira de Dermatologia está muito preocupada com essa situação, porque isso está disseminado. Em qualquer lugar você vê uma plaquinha: ‘Injeta-se isso, faz aquilo’", afirma a presidente da entidade, Denise Steiner.

A principal substância que compõe o hidrogel se chama poliamida. Após a aplicação, o organismo reage ao corpo estranho e cria uma membrana ao redor da substância, o que pode causar risco de infecção. Quanto maior a quantidade de hidrogel, maior o risco de infecção. "Não há estudos que comprovem a segurança do produto quando aplicado em grandes quantidades", afirma.

Ex-vice-miss bumbum e rainha de bateria no carnaval de São Paulo, Andressa, de 27 anos, aplicou o produto há cinco anos por conta própria, sem avisar o cirurgião plástico Júlio Vedovato, que a acompanha, conforme o relato do médico. A infecção nas pernas começou há 10 meses. "Ela veio à clínica e eu encontrei, de fato, uma bola inflamada, um acúmulo de líquido na mesma região onde estava o produto", disse Vedovato.

O médico chegou a realizar um procedimento para retirar parte do hidrogel da modelo, no final do mês passado, mas ela não resistiu à infecção. Há uma semana, foi internada em estado grave na UTI do Hospital Conceição, em Porto Alegre. Aos poucos, ela foi melhorando do quadro de infecção generalizada. De acordo com o último boletim médico, Andressa está acordada, conversando e respirando espontaneamente, sem ajuda de aparelhos.

Para o médico, as consequências poderiam ser ainda mais graves. "As principais complicações que poderiam ocorrer seriam, por exemplo, necrose, se você atingir uma artéria", ressalta.

O hidrogel é importado da Ucrânia, e começou a ser vendido no Brasil com o nome de Aqualift. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou, em nota, que o registro que permite a comercialização do Aqualift venceu há oito meses. Atualmente, portanto, o produto não pode ser importado e vendido no Brasil. Apenas os lotes fabricados até o dia 31 de março deste ano estão liberados.

Facilidade em marcar consultas

Na internet, é fácil encontrar propagandas que prometem resultados milagrosos. Nos consultórios, os médicos confirmam que o hidrogel está em alta, principalmente nesta época, em que o verão se aproxima. A produção do Fantástico marcou consulta em uma dessas clínicas, no Rio de Janeiro.

"Semana que vem eu estou com a agenda toda cheia. O Aqualift é o único que eu não tenho nada. Acabou tudo, sai muito. Não tem mais ninguém natural", afirma uma médica que, em um exame rápido, garante resultado imediato. "O que você precisa fazer é mais esse andarzinho aqui de cima. Daí você dá uma empinada", explica.

A especialista cobra R$ 3,7 mil para aplicar 100 ml de hidrogel no bumbum. "O Aqualift vem uma bolsa de soro fisiológico. Ali vem 100 ml. Então eu abro e faço em você", afirma.

A quantidade é 20 vezes maior que a recomendada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, de no máximo 5 ml para o corpo. No lugar do hidrogel, os dermatologistas preferem substâncias absorvidas facilmente pelo organismo, como o ácido hialurônico. Para aumentar as coxas e o glúteo, apenas a prótese de silicone é indicada. E qualquer um desses procedimentos deve ser realizado apenas por médicos.

"Não podem ser feitos por profissionais não médicos, profissionais de outras áreas da saúde e muito menos por pessoas leigas. São procedimentos privativos dos médicos", afirma o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital.

Em Goiânia, hidrogel fez uma vítima

No mês passado, o hidrogel fez uma vítima em Goiânia. Maria José Brandão, de 39 anos, teve complicações depois de uma aplicação nos glúteos e morreu. Raquel Policena Rosa, a falsa biomédica que atendeu a vítima, foi presa, mas agora responde em liberdade por homicídio, exercício ilegal da medicina, lesão corporal e distribuição de produtos farmacêuticos sem procedência.

A notícia assustou outras clientes de Raquel, como uma mulher de 35 anos que não quis ser identificada. "Eu não posso ficar muito tempo sentada que começa a inflamar, a formigar, chega ao ponto que eu começo a mancar. Eu ainda não estou conseguindo viver direito. Eu quero a minha saúde de volta", lamenta.

Muitas mulheres que já aplicaram o hidrogel se assustaram. A Sociedade Brasileira de Dermatologia orienta a procurar o médico para fazer exames. "Existem tratamentos, e estes tratamentos não envolvem só antibióticos, mas o uso de corticoides de anti-inflamatórios", explica Júlio Vedovato.

Modelo arrependida

O médico de Andressa Urach afirma que a modelo está arrependida, e que relatou a ele que nunca mais realizará qualquer nova cirurgia para fins estéticos. "Ela fará algumas pequenas intervenções para corrigir as cicatrizes, mas abandonou para sempre as plásticas. O objetivo dela é passar a ser uma embaixadora de mulheres que já passaram pelo mesmo drama, e são contra essas aplicações", adiantou Vedovato.

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