Desde 2008, quase 3.000 policiais militares deixaram as ruas para trabalhar em funções administrativas no Estado, enquanto cresceram os principais índices criminais, com exceção do homicídio doloso (intencional).
A conclusão é do TCE (Tribunal de Contas do Estado) no relatório de análise das contas de 2011 do governador Geraldo Alckmin (PSDB), aprovadas há uma semana.
Segundo o órgão, em 2008, havia 60.347 PMs atuando nas ruas, número que caiu no ano passado para 57.630. Já o efetivo administrativo aumentou de 20.542 para 23.301.
O relatório cita a "diminuição do efetivo existente (...) em contraponto ao aumento dos indicadores de criminalidade" e pede "melhor aproveitamento dos recursos humanos à disposição da PM".
"Há uma interpretação superficial de dados", afirma o comandante-geral da PM, coronel Roberval França, que cita o fato de o TCE contar como administrativos 2.000 PMs que atuam nos Copoms (centros de emergência que recebem chamados da população). "A operação não existe se você não tiver o Copom."
Apesar disso, a transferência de contingente administrativo para as ruas é uma das prioridades de França, que assumiu o cargo há 90 dias.
Ele apresentou a Alckmin um plano que prevê transferir 7.000 policiais do setor administrativo para as ruas neste ano. Até 2015, a ideia é redirecionar 21 mil homens.
Especialistas divergem sobre o impacto de ter menos policiais atuando nas ruas.
Para o pesquisador da FGV e ex-diretor da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Guaracy Mingardi, a redução é prejudicial. "Como o Estado não vive uma redução da criminalidade, principalmente os crimes patrimoniais, não tem sentido tirar PM da rua."
Já para Daniel Cerqueira, do Ipea, não dá para dizer que, quanto maior o policiamento ostensivo, menor é a taxa criminal. "O policiamento é só um dos fatores que interferem na redução da criminalidade."
POLÍTICA
Para o deputado estadual Olímpio Gomes (PDT), major da reserva da PM e membro da Comissão de Segurança Pública da Assembleia, o contingente administrativo foi inflado pela influência política.
Segundo ele, "por questões de politicagem", foram criados ao menos 16 batalhões nos últimos anos na Grande São Paulo. Um batalhão exige estrutura administrativa mínima. "O governo faz anúncio de siglas. Aumenta o número de caciques e diminui o de índios."
"A tropa reclama. Comandantes não se manifestam por questões de carreira, hierarquia e disciplina." Mingardi concorda e diz que a escolha de locais para batalhões ou delegacias é puramente política. "Não tem lógica. Atende quem tem mais influência."