Metroviários, policiais militares, trabalhadores da usina, professores. Nesses primeiros seis meses do ano, o País já enfrentou dezenas de greves em diversas categorias. E, segundo especialistas, a onda tende a se espalhar ainda mais durante o resto do ano. É o que aponta, por exemplo, José Dari Krein, pesquisador do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho).
— O quadro desse ano é de intensificação das greves, não apenas para o setor público, como o setor privado.
Entre as categorias que vão discutir a reposição salarial ainda em 2012 estão metalúrgicos, funcionários dos Correios e bancários. Segundo os especialistas, porém, não é possível adiantar quais grupos realmente entrarão em greve.
O professor Ruy Braga, do departamento de sociologia da USP (Universidade de São Paulo), concorda com o aumento recente no número das greves e diz que uma análise permite perceber que, a partir de 2006, existe uma retomada de mobilizações importantes da classe trabalhadora brasileira. Mas diz acreditar que é desde 2011 que o movimento vem se intensificando.
— Na verdade, essas greves vêm desde o ano passado. Só nas obras do PAC tivemos 170 mil grevistas ano passado, juntando com a greve dos Correios, que foi uma greve nacional forte, também tivemos os trabalhadores bancários e os educadores do ensino fundamental. O ciclo grevista está se estendendo para esse ano.
Segundo José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), é visível que há uma maior intensidade das greves, especialmente no setor de transportes.
— A impressão que temos é que muitas das greves que aconteceram no ano passado já aconteceram nesse ano. O que eu não me lembro é de ter tido ano passado um movimento de greve tão intenso nos transportes.
As impressões dos especialistas são embasadas em dados de uma pesquisa realizada pelo Dieese. Apesar de não ter os números fechados de 2011 nem balanço parcial de 2012, o departamento avalia que os anos de 2009 e 2010 registraram aumento em relação aos demais anos do século 21.
O Dieese registrou a ocorrência de 518 greves em 2009 e 446, em 2010. Antes, o maior número de greves havia sido registrado em 2008, quando foram feitas 411 paralisações. O estudo foi realizado a partir de 2004, quando o Dieese retomou a publicação dos balanços anuais sobre o tema.
O secretário geral da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Quintino Severo, afirmou que também consegue enxergar este aumento nas paralisações e diz que, além de mais constantes, elas têm uma intensidade maior.
— Nós temos acompanhado as greves, tanto do setor público, quando do setor privado. E realmente nesse período, ela tem aumentado. Você tem mobilizações mais intensas no ponto de vista da capacidade de buscar resultados pela greve.
Motivos - Ruy Braga explica que não existe um fator único que explicaria a razão do crescimento das paralisações. Por um lado, ele diz, o País está passando por um crescimento econômico menor do que nos anos anteriores.
— A média do governo Lula foi 4,1%. Já no ano passado, crescimento foi de 2,7%. Esse ano também está patinando. Isso acrescenta um movimento de tensão.
Por outro lado, o sindicalismo já percebeu que o modelo de desenvolvimento atual conseguiu criar muito emprego. Mas, ele ressalta que a grande maioria desses postos de trabalho paga até 1,5 salário mínimo.
— Então você tem um aumento, uma concentração gigante, na base da pirâmide salarial. Isso mostra que o atual modelo de desenvolvimento foi capaz de crescer extensivamente, mas ele é incapaz de crescer intensivamente, ou seja, incapaz de produzir empregos que rompam com essa barreira do 1,5 salário. Isso cria uma certa inquietação nas bases.
Questão eleitoral - Durante a greve dos metroviários em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a afirmar que a paralisação tinha motivação eleitoral. Questionados pelo R7 sobre a influência das eleições nas paralisações, os especialistas disseram acreditar que essa não é a maior motivação.
Quintino diz que o que define uma greve "é o momento da conjuntura econômica, da situação econômica e da situação social de cada categoria e do País como um todo".
— É isso que define para nós a intensidade das greves. Porque nos anos 90 você teve várias eleições, mas nem por isso teve tantas greves e elas não tiveram tanta intensidade como agora.
Reivindicações - De acordo com o estudo realizado pelo Dieese, as demandas de natureza econômica motivaram a maioria das greves em 2009 e 2010. A exigência de reajuste salarial permaneceu predominante ao longo dos dois anos.
Em proporção um pouco menor, aparecem reivindicações de introdução, manutenção ou melhoria de auxílio-alimentação e cumprimento, implantação e/ou reformulação de Plano de Cargos e Salários — reivindicação que cresce de um ano para outro: de 94 ocorrências em 2009, para 121, em 2010.
Esquizito 17/06/2012
Me diga uma coisa , quando um vigia e morto em serviço o Estado para por 3 dias? ou o Estabelecimento (local onde o guarda faleceu e fechado por 3 dias?)
José 17/06/2012
No País da corrupção e impinidade somente magistrados e parlamentares são bem remunerados, sem contar que os magistrados têm duas férias por ano, ou seja, 60 dias. O restante dos mortais recebem uma miséria a título de salário e devem trabalhar, em média , 44 horas semanais. GREVE JÁ!
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