A estrela política do Brasil na abertura dos Jogos Olímpicos de Londres não foi a presidente Dilma Rousseff. Marina Silva, que perdeu a última eleição presidencial para a petista, chamou as atenções do mundo ao lado de estrelas do esporte como o campeão olímpico Haile Gebrselassie, o pugilista Muhammad Ali e o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, ao carregar a bandeira olímpica na festa de abertura dos Jogos. E, ao que consta, a presidente Dilma não ficou muito feliz ao ser ofuscada.
A situação ainda teria gerado constrangimento para o governo brasileiro, porque Marina é adversária política de Dilma. Neste sábado, a ex-ministra do Meio Ambiente concedeu entrevista ao Estado de S.Paulo para dizer que o governo tentou "apequenar" a sua participação na cerimônia, "em uma disputa política". Segundo a reportagem, a política chorou ao saber da reação da presidente e de seus ministros. Ela lamentou que a equipe de Dilma "não sabe separar as coisas".
"Não acho que a gente deve apequenar isso em uma disputa política. Aqui é o interesse maior do Brasil. Isso me entristece", disse Marina, no Hotel Corinthia, onde está hospedada a convite do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres (Locog). "Meu apelo é para a presidente Dilma: que a causa que eu represento, e ali não era eu como figura política, não seja uma afronta para o Brasil, que seja uma dádiva", disse Marina.
A ex-ministra destacou que as pessoas com quem conviveu durante 30 anos não são seus inimigos. "Do mesmo jeito que eu fico feliz de ver as autoridades brasileiras cumprindo seu papel num evento dessa magnitude, eu imaginava que, nesse momento, eles não misturariam as coisas", disse. "Eu estou aqui em nome de uma causa que na história do Brasil é de todos nós. Começou lá atrás com o Chico Mendes e o presidente Lula, como companheiro do Chico Mendes, tem participação nisso", completou.
Ironias
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, chegou a ironizar a participação de Marina no evento. "Marina sempre teve boa relação com as casas reais da Europa e com a aristocracia europeia", disse. A ex-ministra, que rivalizou com Rebelo durante as discussões do Código Florestal, relatado na Câmara por ele, rebateu dizendo que gostaria que o ministro "entrasse no espírito olímpico sugerido por aquela cerimônia".
"Não quero apequenar esse momento com qualquer tipo de desconstrução da grandiosidade de saber que o Brasil é uma referência na luta ambiental pelo mundo. Desconsiderar isso é o mesmo que desconsiderar toda a contribuição dada pelo PT na construção da democracia brasileira", disse. "Eu estava ali pela causa que defendemos do desenvolvimento sustentável, quando digo defendemos, falo de todos aqueles que acreditam que o mundo precisa mudar. Não sou oposição ao governo da presidente Dilma, eu apenas tenho uma posição. Mas há quem não entenda assim", completou.
A ex-ministra explicou ainda por que o governo brasileiro não sabia nada sobre sua participação no evento. "Eu fiz como eles (Locog) me disseram. Falei apenas com meus filhos e maridos e pedindo a eles segredo. Não tinha como revelar isso ao governo, a ninguém. Foi um pedido", disse. "O mais importante é que estou fazendo meu trabalho. E isso ficará como legado para o Brasil", destacou.