Em Pequim, o ex-presidente FHC fez um comentário sobre a polêmica Mendes-Lula. Para ele, se confirmada a pressão para influenciar o Supremo na escolha da data do julgamento do mensão, Lula "está insistindo em tapar o sol com a peneira". Leia na matéria de Fabiano Maisonnave, da Folha.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, 80, afirmou ontem que, se o seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, realmente tentou influenciar na escolha da data para o julgamento do mensalão, ele "está insistindo em tapar o sol com a peneira".
"Ele tem a tese de que o mensalão é uma farsa. Ele fez aquela declaração em Paris [em julho de 2005] em que tenta minimizar o mensalão. Se ele fez isso -eu não posso afirmar, porque não tenho dados-, está insistindo na mesma tese, em tapar o sol com a peneira", disse FHC em Pequim, onde participa de um seminário do banco Itaú.
A "Veja" revelou que Lula, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim se reuniram em abril. Segundo Mendes, o petista disse que o julgamento deveria ocorrer após as eleições deste ano. Lula e Jobim negam esse relato.
"Como presidente, você não pode pressionar o tribunal. É até mais ilegítimo como presidente. Como cidadão, tem até mais liberdade. Ainda assim, acho que a gente deve guardar a distância necessária para que as instituições tenham a sua respeitabilidade. Mas eu não quero entrar [na discussão]."
FHC ressaltou que é preciso "ter calma, deixar que os acontecimentos tomem a sua dimensão verdadeira" e que está confiante num julgamento correto pelo STF.
"Eu acho que o Brasil amadureceu", disse. "Esse episódio não vai contaminar as decisões [do STF]." Para FHC, "tentativas de tumultuar uma decisão dessa, de qualquer dos lados, não ajuda".
Questionado sobre a economia, FHC disse que ajustes têm de ser feitos sem mudar o rumo e que não é recomendável abaixar as taxas de juros "a qualquer custo".
"Temos de olhar as consequências. Não dá pra você ter reduções definidas, que a taxa de juros não tem importância, tem de abaixar a qualquer custo. Não é a qualquer custo. O custo é a inflação."