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Nacional Quarta-feira, 06 de Março de 2013, 17:12 - A | A

Quarta-feira, 06 de Março de 2013, 17h:12 - A | A

Caso Eliza Samudio

'Eliza foi enforcada e teve o corpo jogado para cães', afirma Bruno

por Ezequiel Fagundes/O Globo

 

O goleiro Bruno disse, em depoimento no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, nesta quarta-feira, que o amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, ajudou a matar a modelo Eliza Samudio em 2010. Segundo o réu, acusado de ser o mandante do crime, Eliza foi enforcada e em seguida, ela teve o corpo esquartejado e jogado para os cachorros. Bruno disse que Jorge Luiz Rosa, o primo que era menor na época, foi quem revelou a informação para ele:

- Fiquei desesperado uma hora e meia, chorei muito. "Macarrão o que você fez?", eu perguntei. Ele falou que resolveu o problema porque a menina estava "demais". Ele disse que ela estava incomodando demais, atrapalhando seus projetos, seus planos. Naquele momento senti medo.

Segundo o goleiro, Jorge contou que Macarrão deixou Eliza perto do Estádio do Mineirão, parou para conversar com uma pessoa pelo telefone. Nesse momento, uma moto apareceu. Bruno disse que o carro seguiu e ela foi entregue numa casa para um homem conhecido como Neném.

- Lá, ele perguntou se ela era usuária de drogas e cheirou a mão dela em seguida. Nessa hora, o homem pediu para o Macarrão amarrar a mão dela, e ela foi enforcada. Depois, Macarrão chutou Eliza, que depois teve o corpo esquartejado e jogado para os cachorros.

Questionado diretamente se sabia ou não se Eliza seria morta, Bruno declarou que aceitou e, pela primeira vez, envolveu o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola.

- Não sabia, não mandei, mas aceitei. Mandar eu jamais mandei. O Macarrão falou que contratou o Bola. Então, eu aceitei. Meu compromisso com ela foi pagar os R$ 30 mil - disse.

Após as perguntas da juíza, o promotor Henry Vasconcelos iniciou o interrogatório, mas a defesa de Bruno já havia dito que o réu não responderia às perguntas do MP. Bruno seguiu em silêncio.

Bruno afirma que se sente culpado pela morte de Eliza

No terceiro dia de julgamento do caso Bruno, realizado no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, desde segunda-feira, o goleiro negou ser o mandante da morte da modelo Eliza Samudio, mas declarou que se sentia culpado.

- Como mandante dos fatos, não, eu nego. Mas de certa forma, me sinto culpado - disse ele, emendando que desejava falar mais.

Bruno, que fez a declaração ao responder a uma pergunta da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, começou a chorar quando falou que transou só uma vez com Eliza. Em seguida, o atleta disse que seu sonho era ter um menino.

Sobre a amizade com Luiz Henrique Romão, o Macarrão, Bruno afirmou que amigo administrava seus negócios, mas queria tomar conta de tudo. O goleiro afirmou que, após uma série de brigas, se afastou de Eliza. Foi nesta mesma época que Macarrão resolveu ir para o Rio, e acabou se aproximando da modelo.

- Ele arcava com as despesas, administrava meu dinheiro, minhas contas bancárias. Ele tinha as senhas das minhas contas. Eu pedia dinheiro para o Macarrão para sair ou fazer festas. Nossa relação era de amizade forte, quase irmãos. Quando parei de conversar com Eliza, ele (Macarrão) passou a conviver com ela - disse o goleiro.

Bruno contou que, na sua casa no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, chegou a morar com Ingrid Calheiros, sua atual mulher, por quatro meses. Mas ela teria saído por causa da presença constante de Macarrão.

- Ela saiu porque estava perdendo a liberdade naquela casa - disse Bruno.

Na noite em que Bruno tentava se reconciliar com Ingrid, Macarrão, segundo o goleiro, ligou insistentemente para o celular dos dois. Segundo o réu, ele dizia que precisava do amigo para "resolver um problema". Macarrão encontrou com Bruno no hotel onde estava concentrado com o Flamengo, que se preparava para uma partida contra o Goiás. Lá, ele disse que o problema era Eliza.

- Eu falei para ele, eu já estou respondendo processo, já até paguei por isso, e você está me trazendo mais problemas - disse Bruno para o amigo, que, no encontro, não teria dito que a mulher estava machucada.

Bruno disse que depois do jogo, passou na concessionária de um amigo para pegar emprestado uma BMW, pois a sua havia sofrido um acidente. Ao chegar em casa, encontrou Fernanda Gomes de Castro, a ex-namorada condenada a cinco anos em regime semiaberto, com o filho Bruninho no colo, o que lhe causou estranhamento. Na casa também estavam o primo Jorge Luiz Rosa, então menor, e Macarrão. Bruno afirmou que não ficou surpreso com Fernanda, mas sim, com o fato de ela estar segurando o Bruninho.

- Eu fiquei surpreso, o que está acontecendo, perguntei. Ela disse que: "não sei de nada, estou aqui só para ajudar" - relatou o goleiro.

Macarrão teria dito a Bruno que Eliza estava no andar de cima. Segundo o goleiro, o amigo disse que Jorge teria espacando Eliza:

- Ela estava lá machucada, com hematomas no rosto e na cabeça, mas não estava sangrando. Eu cheguei a bater no Jorge. Eu cheguei a dar uma surra nela na frente da Eliza. Ela até falou para eu parar, que não precisava daquilo. Perguntei para Eliza se ela gostaria de ir no médico, na farmácia, se ela gostaria de alguma coisa.

Bruno disse que Eliza aceitou um remédio para dor de cabeça, por isso, ele saiu, comprou e, quando voltou, ele mesmo fez o curativo na cabeça dela. E que, depois disso, ele, Eliza e Macarrão conversaram.

- Nós tivemos uma conversa. Ela teria feito um acordo com Macarrão de conseguir, pegar em mãos uma certa quantia em dinheiro, no valor de R$ 50 mil. Naquele momento foi passado para mim. Eu falei que não tinha R$ 50 mil, eu tinha R$ 30 mil - contou Bruno

O goleiro contou que todos foram para o sítio Turmalina, em Esmeraldas, em Minas Gerais, onde Eliza foi mantida em cárcere privado antes de morrer. Segundo Bruno, Eliza foi para Minas contra a vontade dele.

- Fizemos duas paradas. Dei carona para um policial rodoviário e nos seguimos viagem e chegamos num posto de gasolina desativado. Nós tentamos entrar em contato com o caseiro, para saber se o sítio estava sendo usado pela minha ex-mulher. Como não conseguimos contato, Macarrão seguiu para um motel e fui com Fernanda para a casa da minha mãe (a avó que o criou) em Belo Horizonte.

Os dois acabaram não entrando na casa, porque Dayanne Rodrigues, a ex-mulher, estava lá. O goleiro decidiu, então, levar Fernanda para conhecer "suas origens" em Ribeirão das Neves (MG). Bruno contou que reencontrou Eliza no jogo do time 100%, que ele patrocinava na cidade na época. Com a vítória do time, todos foram comemorar em um bar. Eliza foi levada por Jorge e Macarrão até o local. Após a comemoração, Bruno voltou para o sítio, onde estava parte do dinheiro combinado com Eliza.

Perguntado pela juíza se iria sacar o dinheiro na segunda-feira, Bruno entrou em contradição. Primeiro, afirmou que tinha a quantia em espécie em seu sítio em Esmeraldas, mas que já havia reservado o valor para custear uma excursão do time 100% para o Rio. Por isso, não teria passado o dinheiro para Eliza no mesmo dia que ela chegou ao sítio. Depois, falou que Macarrão foi até o Rio, na segunda-feira de manhã, para entregar o carro emprestado em que vieram para Minas, e também para sacar os tais R$ 30 mil. Viajaram juntos Eliza, Macarrão, Bruninho e Jorge Luiz.

Na volta para o sítio, Bruno disse que estranhou ao ver Bruninho nas mãos de Macarrão.

- Perguntei: poxa, cadê Eliza, pela amor de Deus, o que vocês fizeram com ela? Neste momento, o Macarrão falou assim: resolvi o problema que tanto te atormentava. Naquele momento, peguei o Bruninho no colo e entreguei para Dayanne porque precisava conversar com os meninos sobre o que tinha acontecido.

Bruno disse que, segundo Jorge, Macarrão foi até uma casa em Vespasiano e lá tinha entregado Eliza para um homem chamado Neném. A juíza perguntou, em seguida, se o indivíduo que executou Eliza tinha o apelido de "Bola". Bruno disse apenas que o Jorge o chamou de "Neném" e que somente o conheceu na Penitenciária Nelson Hungria, depois que ambos já estavam presos.

Justiça nega pedido de habeas corpus ao goleiro

O terceiro dia de julgamento do caso Bruno começou com a leitura das acusações contra o goleiro. Enquanto a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, o ex-goleiro do Flamengo se manteve cabisbaixo. A defesa iniciou os trabalhos da tarde desta quarta-feira declarando que o réu não ia responder as perguntas do promotor Henry Wagner.

- O silêncio dele é uma determinação - afirmou o criminalista Lúcio Adolfo.

Também na tarde desta quarta-feira, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais informou que os desembargadores negaram o pedido de habeas corpus ao goleiro Bruno Fernandes. A decisão foi unânime entre os magistrados da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O julgamento do ex-atleta e de sua ex-mulher dele, Dayanne Rodrigues, foi retomando na tarde desta quarta-feira, com 10 minutos de atraso. No terceiro dia de júri, Bruno chegou ao Fórum de Contagem, em Minas Gerais, às 12h. Ele deixou a Penitenciária Nelson Hungria por volta de 11h30m.

O depoimento do atleta era o mais aguardado, já que ele tem a oportunidade de quebrar o silêncio e dar sua versão sobre a morte de Eliza Samudio. O ex-goleiro do Flamengo é acusado de ser o mandante do assassinato da modelo, ex-amante do atleta, em junho de 2010. Ele responde por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e sequestro e cárcere privado de Bruninho, filho da jovem com ele. Dayanne é acusada de sequestro e cárcere privado da criança. Ela foi ouvida por cerca de quatro horas nesta terça-feira.

A expectativa é de que o interrogatório de Bruno seja longo e tenso. Um dos advogados do atleta, Tiago Lenoir, disse que o depoimento será “bombástico”. Se tudo ocorrer conforme planejado pelo Tribunal de Justiça, quinta-feira a juíza Marixa Fabiane deve bater o martelo após o debate da defesa e acusação. Ministério Público (MP) e defesa prometem um duelo de nove horas no último dia do julgamento. A tendência é que Bruno faça uma confissão parcial para evitar uma pena de mais de 40 anos.

Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), não houve sessão na parte da manhã para que os jurados possam descansar, já que, nesta terça-feira, Dayanne foi ouvida até as 22h30m. O momento mais revelador do depoimento da ex-mulher do atleta foi quando ela envolveu o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, na trama do crime. Dayanne admitiu ter recebido orientação de Macarrão para não atender nenhum policial, com exceção de Zezé, alvo de uma nova investigação da polícia do Ministério Público (MP). Foi Zezé quem teria apresentado o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para Macarrão, até então o braço direito de Bruno.

 

 

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