O ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em audiência na tarde desta quarta-feira (8) na Justiça Federal de Curitiba que o esquema que desviou dinheiro da empresa serviu para financiar partidos políticos na campanha eleitoral de 2010. As informações são do advogado do doleiro Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, que acompanhou a audiência dos dois presos na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
De acordo com o advogado, que falou à imprensa após a audiência, o doleiro Youssef afirmou ao juiz federal Sergio Moro que os mandantes do esquema bilionário de desvio de dinheiro investigado na Lava Jato “são agentes políticos”.
“Agiam em nome deles [dos agentes políticos]", afirmou Basto. "O que foi dito é que eles financiavam um esquema político. Inclusive o Paulo deixou bem claro que esse esquema financiou a campanha de 2010, só não pode dizer de quem, mas de muita gente”.
Ainda segundo Basto, o doleiro Youssef também disse que há partidos envolvidos no esquema e, ao juiz, listou quais são. O advogado, porém, apenas afirmou que um deles concorre ao segundo turno na eleição presidencial.
“A única coisa que ele [Youssef] não confirmou é quem era o líder da quadrilha. Ele falou que os líderes estão fora desse processo. São agentes políticos”, afirmou. “Três partidos grandes foram citados, que dividiam integralmente o bolo da propina na Petrobras. Ficou muito clara uma coisa, que eu acho que é fundamental: o meu cliente não era o chefe dessa quadrilha, não era chefe de nada. Era o operador. Era um cara que era peça da engrenagem. Diria não insignificante, mas muito menor do que todo esse esquema”, afirmou Basto.
Esta foi a primeira vez que o ex-diretor Costa depôs à Justiça. João Mestieri, advogado de Costa, não revelou o que seu cliente disse ao juiz. Entretanto, ele afirmou que o ex-diretor não citou novos nomes além dos já citados na delação premiada.
Também falaram ao juiz nesta quarta outros três réus: Pedro Argese Junior, Esdra de Arantes Ferreira e Leandro Meirelles. Contudo, os dez acusados da denúncia formulada pelo Ministério Público Federal (MPF) pela prática de crime de lavagem de dinheiro e de crimes de pertinência a grupo criminoso participaram da audiência.
Os demais réus no processo são: Antônio Almeida Silva, Márcio Andrade Bonilho, Murilo Tena Barros, Leonardo Meirelles e Waldomiro Oliveira. Eles serão ouvidos no dia 20 de outubro, conforme a Justiça Federal.
Operação Lava Jato
Paulo Roberto Costa é um dos acusados na operação Lava Jato, que foi deflagrada no dia 17 de março deste ano em vários estados brasileiros e no Distrito Federal. A operação investiga um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões.
De acordo com a PF, a organização criminosa era liderada pelo doleiro Alberto Youssef, que está detido em Curitiba. Após ser preso, Costa chegou a ser libertado no dia 19 de maio por ordem do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), mas foi preso novamente no dia 11 de junho a pedido Ministério Público Federal (MPF).
Depois de homologar o acordo de delação premiada no dia 30 de setembro, Zavascki transferiu para a Justiça Federal do Paraná a decisão sobre a prisão domiciliar de Costa. O juiz Sérgio Moro oncedeu o benefício.
No dia 1º de outubro, Costa foi transferido para o Rio de Janeiro, onde cumpre prisão domicilar, em um condomínio no Bairro da Tijuca. Ele está sendo monitorado por uma tornozeleira eletrônica.
Entenda a delação premiada
O processo de delação premiada é a confissão de informações em troca da possibilidade de redução de pena ou outros benefícios. Costa começou o acordo com a Justiça no dia 29 de setembro. De lá pra cá, foram vários depoimentos na sede da PF do Paraná. Alguns, inclusive, aos fins de semana. Durante esse período, Costa denunciou políticos que teriam se beneficiados de um esquema de pagamento de propina em contratos da Petrobras com outras empresas.
Segundo a homologação feita pelo ministro Zavascki, há a confirmação oficial de um possível envolvimento de várias autoridades com foro privilegiado, inclusive parlamentares federais, citados na delação de Paulo Roberto. No entanto, o conteúdo detalhado dos depoimentos é sigiloso para resguardar as investigações.
Em nota divulgada no dia 30 de setembro, o MPF informou que a colaboração premiada é um método de investigação moderno e valioso para elucidar crimes complexos. “Por vezes, somente quem tem conhecimento dos detalhes da atividade criminal são os próprios agentes. As informações prestadas pelo colaborador ficam sempre sujeitas à verificação e à corroboração”, diz um dos trechos da nota.
O ex-diretor Paulo Roberto ocupou a direção de Refino e Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012, nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.