O corpo do arquiteto Oscar Niemeyer, 104, foi embalsamado no laboratório da Santa Casa de Misericórdia, no bairro de Inhaúma, na zona norte do Rio de Janeiro, durante a madrugada desta quinta-feira (6).
No início da manhã, foi levado em cortejo de volta ao Hospital Samaritano, em Botafogo, zona sul da capital, onde morreu na noite de ontem (5). Ele estava internado desde o dia 2 de novembro, vítima de complicações renais e desidratação.
De acordo com informações do hospital, por volta das 11h o corpo será levado, também em cortejo, para o Aeroporto Santos Dumont, de onde seguirá para Brasília em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), que deve sair ao 12h. O velório será no Palácio do Planalto.
O enterro deve ocorrer na sexta-feira (7) à tarde, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Segundo o neurocirurgião Paulo Niemeyer, sobrinho de Oscar Niemeyer, a própria presidente Dilma Rousseff entrou em contato com a família e ofereceu o Palácio do Planalto como local para velar o corpo do arquiteto. A capital federal é considerada a maior realização de Niemeyer.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, esteve no Hospital Samaritano, em Botafogo, prestando os pêsames à família do arquiteto. Segundo ele, após o velório na capital federal, o corpo de Niemeyer retornará ao Rio e será velado no Palácio da Cidade, sede da prefeitura, em Botafogo, que ficará aberta à visitação pública.
Paes decretou luto oficial de três dias na cidade. Em nota, o prefeito disse que um dos maiores gênios que o Brasil deu ao mundo, Oscar Niemeyer foi mais do que um arquiteto brilhante e inovador que desafiou a lógica e contorceu as formas para criar verdadeiras obras de arte.
Ele construiu marcos e deixou a sua marca na paisagem e na história de nosso país. Carioca, ele tinha com o Rio de Janeiro uma relação especial”, disse. "O Brasil e o mundo perderam hoje um homem que dedicou toda a sua vida a produzir beleza. Mas o que ele criou ficará entre nós como a lembrança de um grande carioca que fez a diferença.", completou Paes na nota.
O Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), fez hoje um minuto de silêncio em memória do arquiteto. A homenagem, a pedido do governo brasileiro, serviu para lembrar o prêmio Unesco que ele recebeu em 2001, na categoria Cultura. Niemeyer participou da concepção da sede das Nações Unidas em Nova York, matriz da Unesco e projeto de seu mestre, Le Corbusier.
Infecção respiratória
O médico intensivista e clínico Fernando Gjorup, que nos últimos anos foi o médico do arquiteto, disse que o arquiteto morreu às 21h55 ao lado membros da família, entre eles netos e sobrinhos.
Segundo Gjorup, "de ontem para hoje, o paciente apresentou uma piora. Os exames de sangue já vinham mostrando isso. Hoje pela manhã, o estado de saúde piorou ainda mais e ele precisou da ajuda de aparelhos para respirar", disse. Muito abalado, o médico declarou que o arquiteto morreu vítima de infecção respiratória.
Gjorup declarou ainda que Niemeyer, neste último mês, onde ficou internado por 33 dias no Hospital Samaritano, nunca falou em morte, sempre falou da vida. "Pela manhã apresentou insuficiência respiratória, teve que ser entubado e ventilado por aparelho e à noite ele não tolerou e veio a falecer".
Vida e obra
Niemeyer foi um dos principais expoentes da arquitetura moderna e projetou o Brasil internacionalmente. O carioca ganhou reconhecimento a partir da exploração das possibilidades plásticas e construtivas do concreto armado, produzindo obras grandiosas e inventivas, marcadas pelo abuso de curvas em detrimento das linhas e ângulos retos.
Suas obras --prédios públicos e privados, monumentos, esculturas e igrejas-- marcam a paisagem das principais cidades brasileiras e espalham-se por vários países do mundo, como Estados Unidos, França, Espanha, Alemanha, Itália, Argélia, Israel e Cuba, entre outros.
Niemeyer projetou grande parte das obras de Brasília, entre elas a praça dos Três Poderes, os prédios do Congresso Nacional, do STF (Supremo Tribunal Federal) e o Palácio do Planalto.
Considerado um revolucionário e um dos pais do modernismo na arquitetura, Niemeyer, um comunista ferrenho, seguiu trabalhando até praticamente o fim de seus dias.
Em São Paulo, projetou o Memorial da América Latina, o edifício Copan e as construções do Parque do Ibirapuera; no Rio, concebeu o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e a Marquês de Sapucaí; em Belo Horizonte, projetou todo o Conjunto Arquitetônico da Pampulha.
O arquiteto desenhou também esculturas e mobílias, escreveu livros e, depois do centenário, lançou até um disco de samba. Marxista convicto, militou no PCB (Partido Comunista Brasileiro) durante várias décadas, mudou-se para a França durante a ditadura militar e manteve amizade com Luís Carlos Prestes e Fidel Castro.
Últimos anos
A mulher do arquiteto, Annita, morreu em 2004; dois anos depois, Niemeyer casou-se com Vera Lúcia, que era sua secretária.
Em 2007, ao completar cem anos de idade, Niemeyer recebeu diversas homenagens e foi tema de muitas exposições e eventos. No ano seguinte, fundou no Rio a revista "Nosso Caminho". Dois anos depois, aventurou-se no mundo da música, com o disco de samba de raiz "Tranquilo com a Vida", gravado em parceria com seu enfermeiro Caio Almeida e com o músico Edu Krieger.
Também em 2008 foi inaugurada uma escultura do brasileiro em homenagem ao povo cubano na Universidade de Ciências Informáticas de Havana; um presente de Niemeyer ao líder Fidel Castro.
Em 25 de março de 2011 foi inaugurado em Avilés, na Espanha, o Centro Cultural Oscar Niemeyer, mas o espaço foi fechado nove meses depois, por determinação do governador da província. O fechamento irritou Niemeyer e provocou protestos na cidade.
No dia 8 de fevereiro de 2012, em sua última grande aparição em público, o arquiteto acompanhou a inauguração do sambódromo do Rio, que havia passado por reformas de ampliação e adequação da obra ao projeto original.
Na ocasião, Niemeyer foi aplaudido por operários da obra e agradeceu: "Estou muito feliz. Essa obra não é só minha, é do grupo que trabalha comigo. Estou muito contente e entusiasmado em ver um trabalho como esse, que foi feito para alegrar o povo."
Niemeyer deixa uma filha netos, bisnetos e trinetos. Sua filha, Anna Maria, morreu em junho, aos 82 anos, por complicações decorrentes de um enfisema pulmonar.