Os alimentos — que foram os mocinhos da inflação e deram um alívio no bolso no ano passado — deverão pesar mais no orçamento familiar, em 2018. As previsões apontam para uma safra de grãos quase 10% inferior à colheita recorde de 2017. Entre os produtos que poderão pressionar os preços estão o arroz, que sofrerá redução da área plantada e, portanto, diminuição da oferta, além do feijão e da carne — que dependem de fatores climáticos —, dos pães e dos derivados do trigo, e do leite. Para André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), como ocorreu há dois anos, os itens da cesta básica vão pressionar mais a inflação:
— O ano passado foi muito, muito bom. Agora, não há mais espaço para quedas de preços. A taxa dos alimentos no ano passado foi negativa, e a alimentação fora de casa caiu 3%, o que é muito relevante dada a importância desse grupo para a despesa familiar. Mas, agora, sofreremos mais os efeitos dos custos de produção, como preços de insumos e fertilizantes, de máquinas e defensivos agrícolas.
No ano passado, o preço total da cesta básica recuou 5,64%. Os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços foram o feijão, a banana e o açúcar (-32,78%, -30,24% e -25,20%, respectivamente). A manteiga, a batata e o pão apresentaram aumentos de 25,49%, 4,80% e 2,85%, respectivamente.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em dezembro, no entanto, os preços começaram a subir, e a cesta básica do Rio registrou o maior aumento do país, quando os produtos ficaram 2,78% mais caros em relação ao mês anterior, totalizando R$ 418.
Entre os itens que tiveram maiores altas no estado, estão o arroz (11,44%), a banana, (8,51%) e o café (7,55%). Dos 13 produtos pesquisados, apenas a batata recuou, caindo 2,96%. Com isso, o custo da cesta fluminense comprometeu 48,57% do salário mínimo líquido no último mês do ano.
Os hortifrutigranjeiros também deverão pressionar os preços dos alimentos em janeiro, por causa das chuvas. Na Ceasa, neste início de ano, já são esperados os aumentos das verduras, entre 20% e 30%, em relação a dezembro.
— A produção de folhas, como alface e couve, sempre cai. Geralmente, com menos oferta e demanda aquecida, o preço aumenta — disse Rosana Moreira, diretora do departamento técnico da Ceasa, que em 2017 movimentou mais de um milhão de toneladas, com R$ 2 bilhões em vendas.
Impacto em energia e combustíveis
Além da alimentação, que representa 25% dos gastos das famílias, outros itens devem fazer papéis de vilões na cesta de compras, como a tarifa de energia elétrica e o preço da gasolina, que tendem a ter altas superiores a 10%. As correções quase diárias no preços dos combustíveis feitas pela Petrobras têm exigido planejamento. De julho a dezembro de 2017, o reajuste do litro da gasolina foi de 15%, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
— Como o petróleo está em alta no mercado internacional, os combustíveis líquidos acompanham a tendência de elevação no Brasil também — avaliou a pesquisadora da FGV Energia, Fernanda Delgado.
Os aumentos dos preços já alteram a rotina dos consumidores, com a redução do consumo de gasolina (-3%, de julho a outubro, no Rio; -13%, em Minas Gerais; e -12%, no Paraná), e a maior procura pelo etanol (30% de crescimento da demanda).
A conta de luz também poderá pesar no orçamento.
— Em 2017, os níveis dos reservatórios das hidrelétricas ficaram baixos, e o governo teve que ligar as termelétricas, mais caras, o que levou a muitos meses de cobrança extra nas contas de luz. A tendência é parecida para 2018 — disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
Menos folga no orçamento
Se, por um lado, a inflação baixa ofereceu uma boa folga no orçamento em 2017, por outro, os trabalhadores tiveram reajustes mais magros a partir de 2018. No dia 1º de janeiro deste ano, entrou em vigor o novo salário mínimo, que subiu de R$ 937 para R$ 954 — uma alta de apenas 1,81%. Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, o trabalhador deverá sentir os efeitos da inflação com mais intensidade:
— O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) em 2017 ficou abaixo do que era esperado quando foram feitos os cálculos do Orçamento federal. O problema é que, quando a inflação de 2018 acelerar, como é esperado, haverá uma perda do poder de compra em relação ao salário mínimo.
Para o economista da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto, um dos maiores riscos para a inflação de 2018 está ligado às eleições:
— Temos ainda um quadro benigno, embora estejamos nos aproximando do fim do ciclo da queda de juros. O cenário eleitoral pode ter efeitos na percepção de risco, e isso pode levar o mercado a desvalorizar o real, pressionando a inflação.