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Artigos Segunda-feira, 04 de Março de 2019, 09:10 - A | A

Segunda-feira, 04 de Março de 2019, 09h:10 - A | A

Opinião

Stress, depressão, suicídio. Quem vai cuidar dos nossos policiais?

por Sirlei Theis*

"Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida”, diz Augusto Cury. Para ele, a pessoa que comete suicídio na realidade ama a vida e quer muito viver, mas não suporta a dor que o aflige e quando decide cometer o ato suicida apenas está querendo se livrar da dor.

Nesse feriado prolongado, pensei em escrever sobre o carnaval, seus excessos e como resultado o aumento da violência, mas fui surpreendida com a notícia de uma tragédia no sábado de carnaval, que me fez mudar o assunto, que mais uma vez trago para fomentar uma reflexão e debate.

O suicídio da policial militar, Márcia Cristina Motta, de 46 anos, uma amiga da família, caiu como uma bomba aqui em casa. Tudo isso faz a gente se perguntar, como não percebi a dor que a afligia? Ela que sempre demonstrou gostar tanto de viver, exemplo de superação e a mais recente foi o AVC (Acidente Vascular Cerebral), que sofreu no ano de 2016, que a afastou por 2 anos das funções policiais. Ela lutou como quem queria viver, voltou ao trabalho quando poderia se aposentar, mas alguma dor que não tínhamos conhecimento lhe tirou de perto da gente.

O mais triste nisso tudo é saber que Márcia não foi e não será a última. Dados disponibilizados pela Secretaria de Estado de Segurança do Estado de SP, mostra que em 2017, 16 (dezesseis) policiais militares e 10 (dez) policiais civis se suicidaram, número maior que o de mortos no exercício da função. Há muito que tenho falado que nossos policiais estão ficando doentes. Em 2009 e 2010, um grupo de trabalho na Secretaria de Estado de Segurança Pública,liderado pela psicóloga Marilda Novaes Lipp, especialista em tratamento de stress, identificou que 52% (cinquenta e dois) por centos dos policiais de MT, apresentavam sintomas significativos de stress, índice superior à média do Brasil que era de 35% (trinta e cinco) por cento.

A atividade policial é considerada a segunda mais estressante (Bezerra, Minayo, & Constantino, 2013), uma profissão que apresenta fatores de estresse maiores do que deoutros profissionais. Necessitam de ficar em alerta permanentemente, atuando no confronto contra a criminalidade na defesa dos cidadãos, arriscando a própria vida para salvar a vida de outro. Trata-se de atividade de risco,levando a problemas emocionais e incidência de suicídio mais elevados. A rotina do trabalho dos policiais, abrange agressões verbais, abuso de autoridade e humilhações dos superiores, principalmente aos militares, onde impera a obediência hierárquica, escala de trabalho puxada, risco permanente de ser ferido ou morto em uma operação, somado a falta de treinamentos periódicos; falta de equipamentosapropriados ou, em muitas vezes, quando os tem, estão vencidos, baixos salários, agravados em alguns casos com atrasos de pagamentos. Em 2011, já como secretária adjunta de Administração Sistêmica da SESP, tive oportunidade que contribuir para a transformação da pesquisaem um projeto para tratamento do estressedos servidores que integram a Segurança Pública do Estado do Mato Grosso.

Até 2013, algumas centenas de pessoas foram acompanhadas pelo projeto. Nesse mesmo ano, ainda na gestão do governo Silval, o projeto perdeu os recursos federais que o mantinham e o Estado não deu continuidade com recursos próprios. Pedro Taques, sequer olhou para essa questão e Mauro Mendes ainda tem tempo para mostrar que o bem-estar dos servidores, principalmente dos policiais, será uma prioridade na sua gestão.

Lembro que entre 2011 a 2013, policiais que estavam afastados voltaram ao trabalho e também, muitos outros, deixaram de se afastar porque tiveram a sua saúde como prioridade do Estado. Retomar o projeto qualidade de vida dos nossos policiais seria o primeiro passo para garantir o sucesso da atual gestão na Segurança pública de Mato Grosso.

Para aqueles que não a conheceram posso afirmar que a Marcia Motta era uma mulher empoderada, uma lutadora. Venceu um câncer, um AVC e perdeu para a depressão. Uma pessoa muito querida. No dia de sua morte pessoas em todo o estado lamentaram o ocorrido. Vai deixar saudades e o mundo com certeza fica pior sem ela. Poderíamos ter evitado esta tragédia ou tudo deveria ter mesmo terminado da forma que terminou? Quantos casos mais vão acontecer sem que pouco ou quase nada possa ser feito?

São muitas as questões que precisam ser levadas em consideração até que a próxima morte aconteça. A vida tem pressa e em se tratando no mais precioso bem que temos, não entendo por que o governo não corre para apresentar uma solução. Perde-se tanto tempo discutindo questões que estão fora do controle do Estado e aquilo que é palpável, é possível de ser realizado e que trará resultados eficientes, nem entra para as pautas de discussões. É sabido que investir em prevenção é muito mais econômico para os cofres públicos em todas as áreas. Então eu pergunto, até quando vamos só correr atrás do crime e esquecer de cuidar das pessoas?

*Sirlei Theis é advogada, especialista em gestão pública.

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