Enquanto correm o mundo as imagens de milhares de brasileiros indignados com os mais de R$ 28 bilhões gastos com a Copa do Mundo de 2014, a Inglaterra ganha força para sediar o próximo Mundial, que está marcado para o Brasil.
Considerados desde sempre como o 'plano B' caso o País não conseguisse entregar a estrutura para o Mundial, nos padrões da Fifa, os ingleses têm tudo pronto para receber o torneio. E, desde que o Brasil foi indicado, em 2007, os meios de comunicação da Inglaterra começaram uma cruzada para mostrar ao mundo tudo o que está evidente agora também para os brasileiros: os atrasos, superfaturamentos, as promessas não cumpridas e a desorganização do Governo e da CBF podem fazer com o Mundial de 2014 no País seja o pior da história das Copas.
A preocupação com a mudança de sede já assombra o Governo Brasileiro. Após uma noite agitada na quinta-feira (20), com mais de 1,5 milhão de pessoas tomando as ruas de mais de 120 cidades brasileiras e pedindo o fim do festival com o dinheiro público, a presidente Dilma cancelou viagens e convocou reunião extraordinária com ministros logo de manhã. Acordou com a suposta ameaça da Fifa de cancelar a Copa das Confederações tirar o Mundial de 2014 do Brasil.
A linha que a presidente escolheu até agora, de intimidar os manifestantes que vão protestar na frente dos estádios, têm surtido o efeito contrário. Ao levar a Força Nacional para 'reestabelecer a ordem' nas cidades-sede da Copa das Confederações, só deixou o povo mais inflamado. Alinhado com a Fifa, o Governo transformou os arredores dos dois primeiros jogos do Brasil na Copa das Confederações em verdadeiras praças de guerra. A polícia tem reprimido os manifestantes para mantê-los a pelo menos três quilômetros dos estádios.
A insatisfação dos brasileiros e a vontade de ver a Copa longe do País é tanta que os manifestantes resolveram divulgar uma petição online chamada 'Eu quero mandar a Copa 2014 para a Inglaterra'. O texto, que já conta com mais de 4 mil assinaturas, tenta resumir o sentimento do povo em um documento só:
"O Brasil não é o país do futebol. O país do futebol é a Inglaterra, pois foi lá que o esporte nasceu. Claro que o Brasil pode ter orgulho de ser um grande campeão mundial, mas isto não é motivo para que a Copa 2014 seja realizada aqui. Aliás, a única vez em que isto ocorreu, em 1950, sofremos uma derrota histórica. No entanto, o grande motivo para mandar a Copa de 2014 para a Inglaterra é que não temos dinheiro, não temos competência e não temos honestidade para realizar um evento deste porte.
O Brasil é o país da corrupção no futebol. A presidência da Confederação Brasileira de Futebol é praticamente vitalícia e nem com CPI, que comprovou dezenas de ilícitos, conseguiu ser mudada. Os clubes, na sua grande maioria, são dirigidos por políticos corruptos ou por agentes de jogadores, usados como currais eleitorais ou como fonte de bilionários negócios pessoais. A estrutura para a prática do futebol é um fiasco, tanto é que a realização da Copa está exigindo investimentos de mais de U$ 3 bilhões apenas em estádios. Tudo com financiamento a fundo perdido pelo BNDES ou dá para acreditar que os clubes, maiores devedores de INSS e FGTS, vão pagar estes empréstimos? E o BNDES vai fazer o quê com um estádio de futebol confiscado para pagamento de dívida?
Além disso, o Brasil não possui nem mesmo aeroportos decentes para receber os torcedores do mundo inteiro e, mesmo que o governo arranje dinheiro para construir e reformar, nenhum deles ficará pronto para 2014, segundo relatório do IPEA, órgão público federal. Este é apenas um exemplo. O custo para realizar a Copa do Mundo 2014 no Brasil está orçado em U$ 15 bilhões, sem contar com os U$ 30 bilhões destinados a construir um trem-bala para ligar São Paulo com o Rio de Janeiro, um projeto fadado à falência, por ser economicamente inviável. Aliás, o trem-bala também não ficará pronto para o evento.
O mais grave de tudo, no entanto, é que com a desculpa de agilizar as obras, o governo federal quer fazer todas as obras ao arrepio da lei, eliminando licitações e afrouxando a fiscalização. Será uma roubalheira generalizada. Lembram do Pan de 2007, que deveria custar R$ 400 milhões e acabou custando R$ 4 bilhões, sendo que até hoje o Tribunal de Contas da União não aprovou as contas? Senhores e senhoras, o custo orçado de U$ 25 bilhões acabará sendo de U$ 50 bilhões."
Criada no ano passado, a petição voltou à tona agora em meio a tantos protestos contra a realização do Mundial no Brasil.
Gastos com o Mundial e caos na Copa das Confederações
Os gastos do governo brasileiro para a realização da Copa do Mundo de 2014 podem superar os R$ 28 bilhões, custo estimado e revisado pelo governo federal para o evento na última terça-feira (18). Isso porque existe uma possibilidade — ainda que remota — de a Fifa pedir o cancelamento da Copa das Confederações, torneio-teste para o Mundial.
Após casos de furtos de jogadores, assalto a torcedores, confrontos nos arredores dos estádios nas cidades onde ocorrem as manifestações e a ameaça de uma grande seleção (provavelmente a Itália) deixar a Copa das Confederações, a entidade máxima do futebol pode pedir a suspensão da competição, o que geraria um ônus ainda maior para os cofres públicos.
Além disso, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT) pediu ao governo local explicações sobre mais de R$ 2,8 milhões gastos com a aquisição de ingressos e camarotes na partida de abertura da Copa das Confederações, no Estádio Mané Garrincha. Segundo o órgão, o dinheiro utilizado indica ausência de interesso público, desvio de finalidade e violação do princípio da impessoalidade.
Agnelo Queiroz (governador do Distrito Federal), Cláudio Monteiro (secretário extraordinário da Copa) e Antônio Carlos Lins (presidente da Companhia Imobiliária de Brasília) têm até 48 horas para responder o ofício. A ausência da devolução do valor ao erário poderá ser caracterizada como ato de improbidade administrativa.
Ainda segundo o comunicado divulgado pelo MP-DFT, a distribuição de ingressos para personalidades da capital federal configura a utilização de cargo público para autopromoção.
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