O sistema de transporte público em Várzea Grande tem enfrentado uma série de dificuldades, desde ônibus superlotados até incidentes de segurança. Diante desse cenário crítico, o projeto do BRT (Bus Rapid Transit) surge como uma proposta para aliviar parte dos problemas. Mas será que a população está realmente confiante na implementação desse novo sistema?
A reportagem do visitou o Terminal André Maggi, em Várzea Grande, para ouvir a opinião dos usuários. Entre os entrevistados, grande parte expressou expectativas quanto ao projeto, mas de fato não acredita que ele sairá do papel. E, caso aconteça, não será no tempo estipulado pelo governo.
Uma mulher que preferiu não se identificar, de 27 anos, mãe atípica de um menino de cinco anos diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), revelou que vê o novo modal de transporte como um facilitador em sua rotina, visto que precisa pegar cerca de seis ônibus por dia para levar seu filho aos locais de tratamento.
Em sua avaliação, o BRT será mais eficiente devido às linhas por onde o veículo passará, fazendo com que a troca de ônibus para chegar aos destinos não seja tão frequente. Ela espera, no entanto, que o preço do novo transporte público não ultrapasse o valor das passagens dos ônibus atuais.
“Crianças especiais acabam sofrendo muito porque tudo é muito lotado. O ideal seria um transporte grande, confortável e com limite de pessoas, sem ultrapassar a capacidade. Mas também não pode ser um valor muito diferente do que pagamos agora”, declarou ela.
Além disso, ela acredita que, em razão do tamanho dos novos ônibus, não sofrerá com desconforto e aglomerações, algo que atualmente afeta muito seu dia a dia. Isso porque crianças especiais tendem a ser mais impactadas por essas situações.
“O que mais temos hoje em dia são crianças especiais, seja com TEA, TDAH ou TOD. Então, se o transporte não estivesse tão lotado, elas poderiam ter mais conforto. Porque quanto mais aglomeradas, mais agitadas e nervosas elas ficam. E as pessoas acham ruim, porque não entendem. Por isso, precisa haver mais espaço e conforto”, explicou.
Em relação à entrega do projeto, a mulher acredita que ele sairá do papel, mas não no prazo estipulado inicialmente pelos governantes, tanto em Várzea Grande quanto em Cuiabá. "Acho que será entregue, mas acredito que vá demorar mais do que o planejado. É muita coisa para mudar na cidade, um projeto muito longo com um tempo curto para ser concluído".
Já Maria, 56 anos, realmente não acredita que o projeto sairá do papel e, mesmo que saia, não será uma solução definitiva para o problema do trânsito em Várzea Grande. Em sua opinião, o ideal seria focar na melhoria dos ônibus já existentes, oferecendo mais qualidade.
“Antes seria o VLT, agora o BRT. Não acho que vá sair do papel e, mesmo que saísse, isso não resolveria o problema do transporte público em Várzea Grande. Seria mais eficaz investir nos ônibus que já temos, proporcionando mais qualidade”, afirmou Maria, refletindo o ceticismo gerado pelo fracasso do projeto do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).
Três horas por dia no ônibus
Em contrapartida, Aristeu, 68 anos, que utiliza o transporte público regularmente para ir ao trabalho e passa cerca de três horas no veículo, acredita firmemente que o BRT é a solução de que a cidade precisa. Para ele, mesmo que o sistema não atenda a todas as expectativas de conforto, a agilidade do novo modal será um grande avanço para o município. "A gente estava aguardando isso há muito tempo. Pode até ser que não seja tão confortável, mas se for ágil, vai aliviar o trânsito em Várzea Grande", declara com otimismo.
A gente estava aguardando isso há muito tempo
A opinião também reflete os problemas enfrentados atualmente com o transporte oferecido. Durante a entrevista, o idoso relatou um incidente que presenciou com a frota que utiliza todos os dias: um incêndio ocorrido durante o horário de pico.
"Hoje de manhã (terça-feira), quando eu estava indo para o trabalho, o ônibus pegou fogo ali na avenida da FEB, e todo mundo teve que descer. Como eu estava atrasado para o serviço, não pude esperar outro ônibus e fui a pé."
Promessa de modernização
Apesar do ceticismo, muitos ainda veem o BRT como uma possível solução para os problemas do transporte público em Várzea Grande. O projeto promete maior agilidade, menos paradas e linhas diretas, o que poderia reduzir significativamente o tempo de viagem. Além disso, por ser movido a energia elétrica, o BRT é considerado uma alternativa mais econômica e sustentável.
No entanto, o desafio vai além de apenas colocar o BRT em operação. O transporte público na cidade enfrenta dificuldades estruturais que precisam ser resolvidas para que o novo sistema funcione de forma eficiente e inclusiva, atendendo às demandas de todos os passageiros, em especial os mais vulneráveis.
Custo e conclusão
As obras do BRT em Cuiabá e Várzea Grande, iniciadas em janeiro de 2024, estão enfrentando atrasos. A previsão original era concluir o projeto em 2025, mas diversos fatores têm prejudicado o andamento, incluindo um atraso de nove meses no início da construção em Cuiabá, devido à falta de autorização do município. Em Várzea Grande, a concretagem de parte do trajeto ainda não foi finalizada.
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O BRT substituirá o sistema do VLT, abandonado após problemas de corrupção e judicialização, e deverá contar com dois corredores principais, ligando regiões importantes como o Terminal André Maggi, no CPA, e o Terminal do Coxipó. O investimento total do Governo do Estado ultrapassa R$ 468 milhões para as obras, além de R$ 200 milhões para a compra dos ônibus.
A mudança do VLT para o BRT foi controversa e continua sendo alvo de disputas judiciais, com ações sobre o ressarcimento dos custos do VLT, que já consumiu mais de R$ 1 bilhão antes de ser paralisado em 2014.
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