O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nomeou seu cunhado e o cunhado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem é aliado, como seus assessores especiais. A nomeação foi publicada no Diário Oficial nesta quarta-feira (11).
A Folha de S.Paulo questionou o governo sobre as nomeações, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.
O militar Mauricio Pozzobon Martins, cunhado de Tarcísio, já havia sido contratado pela campanha eleitoral do governador, como mostrou a Folha. Também foi esse mesmo cunhado que alugou a Tarcísio um imóvel em São José dos Campos, no interior de São Paulo, por valor inferior ao de mercado.
Martins foi nomeado para o cargo de "assessor especial do governador 2", cujo salário bruto previsto é de R$ 21.017,85 ao mês. Ele foi escalado no lugar de Wilson Pedroso, tucano que foi braço direito dos ex-governadores João Doria e de Rodrigo Garcia no Palácio dos Bandeirantes.
Já Diego Torres Dourado, irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, foi nomeado, como mostrou a coluna Painel, para o cargo de "assessor especial do governador 1", com vencimento previsto de R$ 19.204,22 ao mês.
As nomeações foram reveladas por Leonardo Sakamoto, no UOL, e confirmadas pela Folha de S.Paulo.
O Diário Oficial traz ainda a nomeação do policial federal Danilo César Campetti, que trabalhou na segurança de Tarcísio durante a campanha e atuou no episódio em que um tiroteio em Paraisópolis interrompeu a agenda do então candidato, em outubro passado.
Em dezembro passado, Campetti já havia sido cedido pela Polícia Federal para a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Ele foi nomeado "assessor técnico de gabinete 4", cujo salário inicial é de R$ 9.864,70.
Na segunda-feira (9), a Procuradoria Regional Eleitoral divulgou uma ação em que pede que a campanha de Tarcísio seja multada pela atuação de Campetti. A ação será julgada pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Segundo o Ministério Público Eleitoral, há prova de que Campetti empregou seus instrumentos de trabalho (arma e distintivo) em benefício de Tarcísio no dia do tiroteio -a lei eleitoral proíbe o uso de bens públicos na campanha. A equipe de Tarcísio argumenta que o policial federal estava de folga naquele dia.
Um áudio obtido pela Folha aponta que um integrante da campanha de Tarcísio mandou um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do tiroteio.
Além de Campetti, o cunhado de Tarcísio também atuou na campanha eleitoral. Ele recebeu R$ 40 mil a título de serviços de administração financeira para a campanha do candidato bolsonarista.
O pagamento consta na prestação de contas entregue por Tarcísio ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que não informa se o cunhado recebeu por meio do fundo eleitoral (dinheiro público) ou de doações de pessoas físicas.
Martins é militar e foi para a reserva em 2019. Segundo o currículo dele, desde então e até junho de 2021, o militar atuou na Infraero, órgão vinculado ao Ministério da Infraestrutura, que era comandado por Tarcísio.
Para comprovar o domicílio eleitoral em São Paulo, Tarcísio, que é carioca e fez carreira em Brasília, apresentou à Justiça Eleitoral um contrato de aluguel firmado com Martins referente ao apartamento num bairro nobre de São José dos Campos.
Trata-se de um apartamento de 176 m², com três vagas na garagem, comprado pelo cunhado do ex-ministro de Bolsonaro em 2015, segundo matrícula do cartório. O imóvel está avaliado em cerca de R$ 1,6 milhão, usando como base apartamentos similares anunciados à venda.
O aluguel cobrado, de R$ 1.185 por mês, está bem abaixo do de imóveis da região. Um apartamento com padrão semelhante na cidade tem aluguel por volta de R$ 7.000 mensais, segundo sites imobiliários.
A candidatura chegou a ser impugnada em razão da ausência de comprovação do domicílio eleitoral em São Paulo. Por fim, a Justiça Eleitoral deferiu o registro da chapa.
Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, Tarcísio não vivia no imóvel, que estava em reforma. À reportagem ele disse, na ocasião, manter base na capital devido aos compromissos de campanha. A falta de ligação entre Tarcísio e o estado de São Paulo foi explorada por adversários na campanha.
O cunhado de Bolsonaro, por sua vez, também é militar. Dourado é filho de Vicente de Paulo Reinaldo e irmão de Michelle por parte de pai. Até outubro do ano passado, trabalhou como assistente parlamentar da primeira-secretaria do Senado, à época comandada pelo senador Irajá (PSD-TO), aliado da família Bolsonaro. No cargo, recebia salário de R$ 13,5 mil.
Antes de ir para o Senado, ele recebia R$ 5.600 no Ministério da Defesa, também em cargo de confiança.
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