Depois de uma disputa ferrenha na eleição para o governo federal em 2022, o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e o PL de Jair Bolsonaro se uniram em Minas Gerais para eleger o próximo presidente da Assembleia Legislativa do estado.
Além da defesa de um mesmo nome para o cargo, o do deputado reeleito Tadeu Leite (MDB), a união das duas legendas atingiu ainda o governador, Romeu Zema (Novo), que já tinha o PT como adversário, mas foi o principal cabo eleitoral de Bolsonaro em Minas na campanha do então presidente pela reeleição.
Zema articulava inicialmente para que o deputado Roberto Andrade (Avante), líder do governo, também reeleito, fosse colocado como o candidato de seu grupo político na disputa pelo comando da Casa. Ao perceber que Tadeu Leite ganhava força, desistiu.
O governador tentou articular um outro nome para o comando da Casa, que viria do PSD, mas, ao final, capitulou e vai apoiar o emedebista. A eleição acontece na quarta (1º), quando assumem os deputados estaduais que venceram a eleição do ano passado. A tendência é que Leite seja candidato único.
A parceria entre bolsonaristas e lulistas em Minas fez com que deputados dos dois lados buscassem justificativas para a até pouco tempo improvável união entre os dois grupos, fosse qual fosse o objetivo.
A bancada do PL na Assembleia tem, por exemplo, Bruno Engler (PL), parlamentar reeleito com a maior votação no estado e protagonista de acalorados embates com petistas no plenário e comissões da Casa.
Engler está entre os principais apoiadores do ex-presidente em Minas. O deputado tem como referência Olavo de Carvalho, mentor intelectual dos bolsonaristas.
Ao longo do mandato do ex-presidente, Engler era frequentemente convidado pelo presidente para visitar o Palácio do Planalto, o que ocorria inclusive aos finais de semana, juntamente com outros parlamentares mineiros apoiadores do ex-presidente.
Há deputados que se esquivam de comentar a união dos dos partidos. Pelo lado do PT, o parlamentar reeleito Ulysses Gomes, líder da minoria na Assembleia, disse ter compromissos e, por isso, não daria entrevista sobre a parceria com o PL.
Coube à vice-líder, Leninha Souza (PT), a tarefa. A parlamentar afirma que o partido já havia encampado a candidatura de Leite. "Estamos juntos desde a primeira hora. Quem veio depois foi o PL", diz a deputada, também reeleita.
A deputada afirma não haver constrangimento na aproximação com o PL para a eleição da Mesa-Diretora. "A gente tem maturidade para construir a melhor política. E se o candidato tem capacidade para aglutinar forças, mérito dele", justifica.
Pelo PL, o líder do partido na Assembleia, o deputado reeleito Gustavo Santana, diz ser preciso separar a disputa nacional entre Bolsonaro e Lula da eleição para a presidência da Assembleia.
"Não tem nada a ver uma coisa com a outra. O presidente escolhido será o presidente dos 77 deputados da Casa, e nela temos todos os partidos", argumenta.
Santana diz ainda não saber se da parceria com o PT para a eleição do comando da Mesa-Diretora poderá sair também um acordo para os dois partidos estarem juntos em um bloco parlamentar. "Ainda é cedo para falar sobre isso", afirma.
O vice-governador e um dos principais articuladores políticos de Zema, Mateus Simões (Novo), questionado se Zema reclamou do fato de o PL não ter apoiado seu candidato, disse que o objetivo do governo é a pacificação da base. O vice disse que Zema vai apoiar Leite.
"Como todos os potenciais candidatos eram de partidos que já estavam conosco desde a eleição, Avante e MDB, ou desde o segundo turno, PL, ou desde as conversas pós-eleição, PSD, não havia razão para trabalhar fora da unificação. Acabou sendo natural (o apoio a Leite)", diz Simões.
PT e PL elegeram no pleito do ano passado, respectivamente, a maior e a segunda maior bancadas da Assembleia Legislativa. O partido de Lula terá 12 cadeira e o de Bolsonaro, 10.
Ao longo dos seus quatro primeiros anos como governador, e também nas articulações para formação de sua base para o segundo mandato, Zema sempre teve dificuldades no relacionamento com a Assembleia.
Durante a maior parte do seu governo, o governador não tinha mais do que 21 dos 77 deputados da Casa em sua base considerada fiel.
A falta de apoio fez com que um dos principais sonhos de Zema, a privatização da Cemig, a estatal de energia do estado, que precisa ser aprovada pelo legislativo, nunca fosse levada adiante.
Os problemas na Casa permaneceram mesmo depois da vitória folgada do governador, em primeiro turno, na eleição do ano passado. Zema derrotou o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), na disputa pelo Palácio Tiradentes.
No início de dezembro, as contas do governo apontavam que o governador iniciaria seu segundo mandato com 32 parlamentares em sua base. Uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que é o texto necessário para a aprovação da privatização da Cemig, por exemplo, precisa do voto de 48 deputados.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do deputado Tadeu Leite e aguarda retorno.
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