O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu, na noite desta sexta-feira, em discurso na abertura de congresso do PT , em São Paulo, as acusações de que o PT promove a radicalização na política brasileira ao se opor ao governo do presidente Jair Bolsonaro. O ex-presidente afirmou que, após suas primeiras declarações depois de ganhar a liberdade no último dia 8, foi aconselhado a ter cuidado para "não tumultuar o ambiente político". Defendeu, porém, a necessidade de o partido manter a polarização com Bolsonaro.
Disseram que eu deveria ter cuidado para não polarizar o país, que seria melhor calar certas verdades para não tumultuar o ambiente político, para o PT não provocar uma ameaça à democracia.
O petista argumentou que o seu partido sempre defendeu e teve compromisso com a democracia.
Quando perdemos (eleições), aceitamos o resultado e fizemos oposição, como determinaram as urnas. Quando vencemos, governamos com diálogo social, participação popular e respeito às instituições.
A fala de Lula foi anunciada como um pronunciamento à nação por parte do petista. O ex-presidente leu a maior parte do discurso. Depois de encerrar a leitura, o petista, falando de improviso, defendeu a necessidade de um pouco de radicalismo.
Não venham dizer que o PT é radical. Um pouco de radicalismo faz bem à nossa alma (...). Não estou mais radical, estou mais consciente — declarou.
Sem citá-los nominalmente, o petista também atacou o PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por terem aprovado a emenda da reeleição em 1997.
Outros partidos mudaram as regras da reeleição em benefício próprio. Nós rejeitamos essa ideia, mesmo gozando de uma aprovação que nenhum outro governo jamais teve, porque sempre entendemos que não se pode brincar com a democracia.
Lula acrescentou que nas gestões do partido "nenhum general deu murro na mesa".
Não fomos nós que falamos em fechar o Congresso, muito menos o Supremo, com um cabo e um soldado. Em nossos governos, as Forças Armadas foram respeitadas e os chefes militares respeitaram as instituições — afirmou, numa referência à declaração do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, no ano passado.
Lula ainda afirmou que o PT não pediu anulação da eleição para desgastar adversários numa referência à iniciativa de Aécio Neves (PSDB) após perder para Dilma Rousseff em 2014. O ex-presidente negou também que o partido seja de alguma forma responsável pela eleição de Bolsonaro.
Não fomos nós os responsáveis, ativos ou omissos, pela eleição de um candidato que tem ojeriza à democracia — afirmou.
O ex-presidente disse que polarização não é sinônimo de "extremismo político e ideológico" e que o país está há séculos séculos polarizado entre os poucos que têm tudo e os muitos que nada têm".
Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho: somos e seremos oposição a esse governo de extrema-direita que gera desemprego e exige que os desempregados paguem a conta.
Pedido de autocrítica
Como já havia feito na semana passada, Lula rebateu os apelos para que o PT reconheça seus erros.
Embora tantos tenham cometido erros antes e depois dos nossos governos, é somente do PT que exigem a autocrítica que fazemos todos os dias. Na verdade, querem de nós um humilhante ato de contrição, como se tivéssemos de pedir perdão por continuar existindo no coração do povo brasileiro, apesar de tudo que fizeram para nos destruir.
Na visão do ex-presidente, o erro maior do partido no poder foi não ter feito mais e melhor. Lula citou como exemplo nesse ponto um trabalho maior "para democratizar o acesso à informação e aos meios de comunicação, apoiando mais as rádios comunitárias, fortalecendo mais a televisão pública, a imprensa regional, o jornalismo independente na internet".
Antes na parte em que falou de improviso, o ex-presidente parabenizou o povo chileno e o povo do Equador por protestos que têm promovido em seus países.
Candidata a vice de Fernando Haddad na eleição presidencial do ano passado, Manuela D´Ávila discursou em nome do PCdoB, assim como o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros. Ambos pregaram a união dos partidos de esquerda. Livres da prisão ou das restrições impostas pelo regime semiaberto por causa de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que barrou a prisão após a segunda instância, o ex-ministro José Dirceu e os ex-tesoureiros João Vaccari Neto e Delúbio Soares também participam do ato.
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