As investigações ainda estão no início, mas sabe-se que a Polícia Federal suspeita que uma parcela dos baderneiros que invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo no último domingo foi financiada por empresários ligados ao agronegócio um setor que apoiou abertamente a candidatura de Jair Bolsonaro nas últimas eleições.
Buscar uma reaproximação dos produtores rurais com o governo e pacificar as relações, portanto, será o primeiro (e complexo) desafio da gestão de Carlos Fávaro, o novo ministro da Agricultura.
Em sua opinião, o extremismo entre alguns representantes da categoria é concreto, mas argumenta que tal sentimento fica restrito a uma minoria que estava gostando do “passa-boiada” dos últimos quatro anos.
A outra grande missão de sua administração será resgatar a imagem do Brasil perante a comunidade internacional, uma tarefa não menos complicada.
Senador de Mato Grosso, o atual ocupante da pasta é pecuarista, ex-assentado, hoje proprietário de três fazendas que juntas somam 3 000 hectares e foi indicado ao cargo na cota do PSD.
Segundo ele, o ranço do agronegócio com a administração petista se deve muito mais à desinformação difundida pelos radicais do que à realidade.
Nesta entrevista a VEJA, Fávaro garante que a meta agora é buscar a sustentabilidade e que, ao contrário dos piores temores dos ruralistas, Lula não vai proibir a posse de armas no campo nem permitir invasões de terras produtivas. A seguir, os principais trechos da conversa.
Dizem que o senhor assumiu o cargo mais tranquilo da Esplanada, mas com a missão mais difícil. É verdade?
Nós saímos de uma eleição em que o Brasil se dividiu, principalmente no agronegócio, setor que apoiou muito o bolsonarismo, que se engajou na campanha bolsonarista, às vezes de maneira até raivosa, como se viu.
Temos agora de conscientizar todos de que a eleição acabou.
É preciso olhar para a frente, mirar em construir um agro cada vez mais forte, sustentável, que respeite o meio ambiente, que cumpra as regras.
Todos que pensarem dessa forma terão as portas abertas no governo. Minha missão é reconstruir essa ponte junto com o presidente Lula, com a ministra Marina Silva e todos os outros ministérios.
O que teria levado ao rompimento de tal ponte?
As fake news, as ações de desinformação.
Durante a campanha eleitoral, repetia-se a todo instante nas redes sociais que “se o Lula ganhar a eleição,ele vai acabar com o direito de propriedade”, que “se o Lula ganhar a eleição, as invasões de terra vão voltar”,“se o Lula ganhar a eleição, as exportações serão taxadas”,“se o Lula ganhar a eleição, vai acabar o direito de ter arma de fogo na propriedade”.
Tudo isso era mentira, até mesmo porque o Lula já foi presidente da República e não retirou o direito de propriedade de ninguém, não taxou as exportações, não vai compactuar com invasões ilegais e não vai impedir o fazendeiro de ter uma arma para autodefesa.
“Lula não retirou o direito de propriedade de ninguém, não taxou as exportações, não vai compactuar com invasões ilegais e não vai impedir fazendeiro de ter uma arma”
O vandalismo do último domingo mostra que essa pacificação não será uma missão muito fácil.
Esses atos do fim de semana passado foram horrorosos, são inaceitáveis e precisam ser reprimidos com o rigor da lei.
Temos de dar exemplo para quem ousar afrontar a democracia e os poderes constituídos.
A Justiça será rigorosa com esses bandidos, fascistas, terroristas. Eles não passam disso. As pessoas de bem, homens e mulheres que produzem, fiquem tranquilos, nós vamos pacificar o Brasil.
Empresários ligados ao agronegócio estão sendo acusados de financiar a baderna.O senhor, como representante do setor, avalia isso de que maneira?
Lamentavelmente acho que é verdade. Fazem parte daqueles poucos, mas muito raivosos, que não fazem bem ao agronegócio. Aqueles que desmatam e tocam fogo ilegalmente são os mesmos que agora atentam contra a nossa democracia.Eles precisam ser punidos rigorosamente para o bem do agronegócio e do Brasil.
Uma das entidades mais resistentes ao atual governo desde a campanha eleitoral é a Aprosoja.
Como ex-dirigente da entidade, isso não chega a ser constrangedor? Sem dúvida.
A Aprosoja foi um símbolo, inclusive de apoio aos atos antidemocráticos, o que é descabido e deve ser reprimido.
Eu fui presidente da entidade em meu estado. É a maior entidade de produtores do Brasil.
Mas não posso fechar os olhos. Membros da Aprosoja participaram, sim, de atos antidemocráticos.
Um delegado da entidade foi preso ateando fogo em caminhão, em uma praça de pedágio.
Não estou trabalhando com hipóteses, são fatos reais. É realmente lamentável.
Leia também; Shaman anuncia fim da banda após membro apoiar atos terroristas em Brasília
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).