por Rosana Leite Antunes de Barros*
No mês onde a prevenção e combate ao suicídio é maior, com a campanha "Setembro Amarelo", pesquisas mostram, mais uma vez, o quanto a violência doméstica e familiar é preocupante. Dentre os fatores que fazem com que mulheres atentem contra a própria vida, está a violência no seio familiar.
Esse silencioso problema faz com que a família viva como se o terror habitasse o lar. A falta de vontade de estar em casa com o companheiro, pelo modo de tratamento, é comum. Os absurdos psicológicos são tão grandes, a ponto dos envolvidos, principalmente a mulher, não se dar conta da forma errônea que está vivendo. Os questionamentos são sempre os mesmos, e o tratamento desrespeitoso também. É como se os maus tratos fizessem uma parceria com o tal do amor. A linha é muito tênue, ficando imperceptível as situações de constrangimentos e humilhações. Os pedidos de desculpas fazem com a companheira sinta um certo conforto, ou credo, de que a brutalidade daquela vez foi a última. Não será. Ela se repetirá por inúmeras vezes, porquanto, o agressor, repete as suas ações até que a sua vítima se canse e lhe ofereça cartão vermelho. Claro, muitas não conseguem por fim ao jogo e morrem sofrendo agressões. Outras, são assassinadas pelo parceiro, como último estágio.
Entretanto, o que vem acontecendo é o cansaço de mulheres, adquirindo doenças devido à qualidade de vida dentro do âmbito doméstico. A Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará analisou cem mulheres que lavraram boletins de ocorrência por serem vítimas de violência doméstica. Grande parte das pesquisadas afirmou sofrer depressão. O grave é que 39% delas afirmou ter sofrido de pensamento suicida, em razão da amargura.
Enquanto a mulher não assume que é uma vítima dessa epidemia, não consegue sair do quadro. O agressor dificilmente se reconhecerá como tal, entendendo que o tratamento dado à companheira é de desprezo ao seu gênero. Cabe a elas essa compreensão, como primeiro passo, quebrando o ciclo e saindo ilesa. Os legisladores e legisladoras andaram muito bem com a Lei Maria da Penha, trazendo nas medidas protetivas soluções para as mulheres vítimas.
Entre 2011 a 2016 ocorreram 31,3% de mortes de mulheres por suicídio, que já haviam tentado outras vezes. No caso das tentativas de suicídio, no mesmo período, 69% ocorreram entre as mulheres. Os números reforçam a necessidade de prevenção à violência doméstica e familiar, o que consequentemente diminuirá as mortes por suicídio e feminicídio.
Baixa autoestima, abuso emocional e físico, distúrbios de ansiedade, que deságuam em problemas graves na saúde mental, são frequentes entre aquelas que decidem deixar o mundo da matéria. A taxa de suicídio entre os homens sempre foi maior que das mulheres. Porém, passaram a aumentar entre elas, principalmente pelas situações vivenciadas em casa.
A vontade da mulher nunca poderá ser substituída. Ainda que ela viva em um relacionamento abusivo, a ninguém cabe resolver sobre a vida que deseja levar. O discernimento, na maioria das vezes, é perdido. As campanhas são primordiais para que as informações possam alcançar as mulheres, vítimas em potencial.
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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