por Janielly Camargo*
Essa célebre frase de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista, demonstra a força que as palavras têm sobre a mente humana. Isso também mostra claramente que as famosas “Fake News" não foram inventadas hoje, apesar de estarem em evidência na atualidade.
Mas o que isso tem a ver com a situação da água em Várzea Grande?
Tudo e Nada!!!
Nada, pois, não estamos falando de FAKE NEWS.
Tudo, pois, estamos falando de estratégias de comunicação bem-sucedidas.
A equipe de marketing de campanha da atual Prefeita de Várzea Grande trabalhou maravilhosamente bem ao usar como principal arma de campanha, o maior anseio da população várzea-grandense: UMA SOLUÇÃO IMEDIATA PARA A FALTA DE ÁGUA NO MUNICÍPIO!!!
Mas agora a Prefeita e sua equipe têm uma bomba relógio em suas mãos.
A população esperançosa, com sangue nos olhos e dentes afiados, segue cobrando água em suas torneiras e, a Prefeita e sua equipe, seguem enfrentando dificuldades em realizar a concessão do DAE à iniciativa privada, conforme prometido em campanha.
Mas pergunto a você nobre leitor:
-Privatizar resolverá os problemas???
Certamente não!!!
O mundo inteiro já conta com experiências malsucedidas de concessão de serviços essenciais de saneamento à iniciativa privada. Cito como exemplo, um estudo conduzido pelo centro de pesquisa holandês, chamado Instituto Transnacional (TNI), que apontou que nos anos de 2000 a 2019, 312 cidades em 36 países, incluindo França (Paris), Alemanha (Berlim), Argentina (Buenos Aires) e Bolívia (La Paz), reestatizaram seus serviços de tratamento de água e esgoto por mau funcionamento dos serviços realizados pelas empresas privadas.
Os principais problemas apontados por esse estudo foram as quebras ou não renovações dos contratos após tarifas muito altas e promessas de universalização não cumpridas, além de problemas com transparência e dificuldade de monitoramento do serviço pelo setor público.
A população deve abrir o olho para essa fantástica solução mágica da Prefeita, pois a lógica de uma empresa privada é o lucro, logo, a empresa privada que assumir o DAE (Departamento de Água e Esgoto) precisará aumentar as tarifas para arcar com os custos das melhorias necessárias para a resolução da falta de água no município e, ainda se manter viável economicamente. Essa situação irá se perpetuar por todo o período que a concessão estiver ativa, gerando um ciclo vicioso, onde a população sempre precisará arcar com os custos das obras de manutenção e ampliação dos serviços.
Não precisamos ir longe para demonstrar isso na prática, é só olhar nossa capital Cuiabá, onde a conta ficou muito mais cara após a concessão dos serviços de saneamento à iniciativa privada, com constantes pedidos de reajuste tarifário por parte da empresa de saneamento.
O saneamento básico é o coração de um município e, a população precisa entender que enquanto não tiver acesso a ele, irá padecer profundamente com problemas graves, tais como o aumento da poluição ambiental, o aumento de várias doenças, o aumento da pobreza e da desigualdade social, a privação de direitos e etc.
Caro leitor, não seja inocente, não pense que a Prefeita irá resolver em 100 dias problemas crônicos criados ao longo de 157 anos de existência do município. Para aqueles que não lembram, esse foi o prazo dado publicamente por ela e pelo presidente do DAE, o Coronel Sandro Azambuja, para a realizar um diagnóstico de rede que visa elaborar melhor estratégia de distribuição de água em Várzea Grande.
Atualmente, a Prefeita tem feito gestão da falta da água e não gestão da água, digo isso por causa dos seus famosos boletins diários que apresentam o cronograma de abastecimento de água na cidade.
A população tem reclamado que o boletim criou mais frustração do que solução, pois ele não traz a resolução, apenas mostra onde o problema está. E mais uma vez, os moradores que lutem para realizar suas atividades mais básicas, como lavar roupa, cuidar de suas crianças, tomar banho e cozinhar.
Como moradora de Várzea Grande me pergunto, até quando a população mais pobre vai ficar sofrendo dessa forma? Sem um direito básico e fundamental à vida que é a água, declarada pela ONU, como “condição para o gozo pleno da vida e dos demais direitos humanos” (Resolução Nº ONU A/RES/64/292, de 28/07/2010).
O acesso à água e ao saneamento é direito humano mínimo para garantir à dignidade da pessoa humana e sua sobrevivência. Nossos governantes devem respeitar esse direito fundamental e oferecer qualidade e a quantidade suficientes desse recurso para a sobrevivência das comunidades, sempre priorizando o acesso humano, em caso de escassez.
Se privatização não é o caminho, o que devemos fazer?
Primeiramente, a população, a Prefeita e sua equipe, os vereadores do município, o governador, deputados e senadores do Estado devem sentar-se à mesa para buscar soluções conjuntas, pautadas na governança compartilhada, que garantam novas fontes de recursos orçamentários e financeiros para a realização de investimentos para:
a) a ampliação e melhorias da rede de distribuição de água do município, que sabidamente é antiga, cheia de vazamentos e insuficiente;
b)construção de novas ETA’s no município;
c)ampliação e modernização do DAE e qualificação do seu corpo técnico, incluindo a contratação de novos servidores.
Essa tarefa será árdua e longa e, certamente não será completamente executada na gestão da atual Prefeita, sempre sendo necessários novos ajustes todas as vezes que uma nova gestão assumir a prefeitura.
Então caro leitor, peço a você que lute e cobre seus direitos e, que não aceite ficar com essa conta para pagar, pois o problema da falta de água crônica é fruto da omissão de vários gestores que operaram o sistema e não dos munícipes, que estão ficando com o ônus desse problema a anos.
Pare e Pense!!!
*Janielly Camargo - Bióloga, Mestre e Doutora em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais
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