por Edina Araújo*
É revoltante constatar o silêncio seletivo de mulheres em posições de poder – diante de casos de violência contra mulheres, especialmente quando os envolvidos são figuras de influência. A sensação que se tem é a de que há "um peso e duas medidas", dependendo de quem seja o autor da violência.
Um caso recente ilustra essa realidade alarmante: Walter Luis da Silva, investigador da Polícia Civil de Mato Grosso e produtor de eventos, foi acusado de agredir sua namorada em um hotel em Goiânia. De acordo com o relato da vítima, publicado em suas redes sociais, o agressor – com quem ela manteve um relacionamento de oito meses – agiu de forma violenta, trancando-a no quarto e agredindo-a fisicamente, com tapas e tentativa de sufocamento. Temendo por sua segurança, a vítima solicitou medidas protetivas. Apesar da gravidade do caso, Walter Luis, que trabalha na Corregedoria da Polícia Civil, segue livre, sem qualquer medida restritiva, enquanto o silêncio das autoridades persiste.
Infelizmente, essa não é uma situação isolada. Em setembro de 2024, o policial civil Sanderson Ferreira de Castro Souza foi acusado de agredir física e psicologicamente a personal trainer Débora Sander, conforme noticiado em primeira mão pelo Portal . Na ocasião, foi necessária intensa pressão pública para que figuras políticas se manifestassem e o agressor fosse preso.
Outro caso envolveu a esposa de um delegado-geral adjunto, também da Polícia Civil, Rodrigo Bastos da Silva. Apesar da gravidade da denúncia, o episódio foi abafado, e mais uma vez o Portal trouxe o caso à tona. Contudo, delegadas se recusaram a se posicionar, demonstrando um comportamento corporativista, enquanto outras, prestes a se aposentar, evitam qualquer manifestação para não enfrentar possíveis retaliações. O silêncio foi, novamente, a resposta predominante.
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Agora, o mesmo padrão se repete, com a ausência de posicionamento das mesmas autoridades que, em situações anteriores, se manifestaram sob pressão. Esse silêncio apenas reforça a impunidade e a vulnerabilidade das vítimas.
A vítima de Walter Luis expôs, por meio das redes sociais, os abusos psicológicos e físicos sofridos ao longo do relacionamento. Em seu desabafo, relatou as promessas manipuladoras do agressor, seguidas por ciclos de violência e arrependimento fingido. Ela descreveu a humilhação constante, destacando que Walter utilizava sua profissão como ferramenta de intimidação psicológica.
"Há bastante tempo eu vinha sofrendo abuso psicológico", escreveu. "Depois começaram as agressões físicas; já houve outras vezes em que levei pancadas no rosto. Ele pedia desculpas, dizia que ia mudar". Contudo, as agressões continuaram, sustentadas por manipulações emocionais e pelo apoio de pessoas próximas ao agressor, segundo a vítima.
Por que as reações à violência são tão seletivas? Por que a aplicação da lei e as manifestações públicas dependem de quem é o agressor ou a vítima? Enquanto figuras públicas, especialmente mulheres, permanecerem omissas em casos envolvendo pessoas poderosas, a sensação de impunidade prevalecerá.
A violência contra a mulher não pode ser tratada como uma pauta seletiva ou um instrumento de conveniência política. Trata-se de uma questão de justiça e dignidade. O silêncio das autoridades contribui para a perpetuação dessa violência. A sociedade precisa exigir posturas firmes e imparciais que defendam os direitos das mulheres de forma igualitária, independentemente do status ou profissão do agressor.
*Edina Araújo, jornalista e diretora do Portal VGNOTICIAS
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