por Edina Araújo*
O cenário político brasileiro, historicamente marcado por surpresas e contradições, tem se mostrado um terreno fértil para celebridades que, de tempos em tempos, decidem se aventurar no mundo da política. Muitos artistas, embalados por sua popularidade, se lançam em campanhas frequentemente sem apresentar projetos consistentes ou contribuir de forma significativa para o país. A experiência demonstra que essas incursões, em muitos casos, são passageiras e, por vezes, desastrosas.
Atualmente, o cantor Gusttavo Lima desponta como mais um nome a flertar com a ideia de ingressar na vida pública, anunciando sua possível candidatura à Presidência da República. Suas declarações controversas e atitudes polêmicas vêm ganhando destaque. Recentemente, ele chegou a afirmar que, se fosse eleito, distribuiria um “bolsa cachaça” — uma fala que gerou ampla repercussão e ao mesmo tempo indignação. É claro que, como cidadão brasileiro, ele tem todo o direito de se candidatar a qualquer cargo eletivo; contudo, sua atuação exige seriedade e responsabilidade.
Esse tipo de discurso é especialmente problemático em um país onde uma parcela significativa da população enfrenta problemas relacionados ao alcoolismo — um fator que contribui para a violência doméstica e outros graves problemas sociais. A declaração de Gusttavo Lima contrasta diretamente com a realidade dos programas sociais, como o Bolsa Família, o Bolsa Atleta entre outros, iniciativas que buscam reduzir a fome e as desigualdades no Brasil. Esses programas visam melhorar a qualidade de vida de cidadãos em situação de vulnerabilidade. Associá-los a propostas irresponsáveis, como o “bolsa cachaça”, demonstra uma clara falta de compreensão sobre a gravidade do contexto social em que vivemos e assemelha a uma piada de mau gosto.
Assim como outros políticos populistas, Gusttavo Lima parece adotar a estratégia de fazer declarações consideradas “absurdas”, mas que encontram ressonância entre aqueles que compartilham de suas visões. Essa tática, amplamente utilizada em outros contextos, tem como objetivo dividir opiniões, aumentar a visibilidade e gerar engajamento nas redes sociais, colocando o artista no centro das discussões públicas. Todavia, a questão central permanece: além de lucrar com shows financiados por Prefeituras — muitas delas em situação financeira precária e com baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) — a preços elevados, o que Gusttavo Lima realmente tem feito pelo Brasil? Será que ele considera as condições de vida dos munícipes ou apenas busca maximizar seus lucros?
Além disso, o histórico recente do cantor levanta dúvidas sobre sua possível entrada na política. Gusttavo Lima foi citado em um inquérito relacionado a apostas ilegais e teve um avião apreendido pela Polícia Federal. O cantor também foi beneficiado por incentivos do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), segundo dados da Dirbi (Declaração de Incentivos, Renúncias, Benefícios e Imunidade de Natureza Tributária), fato que suscitou questionamentos sobre a necessidade de tais vantagens para um artista multimilionário. Ainda, houve a polêmica envolvendo seu filho, ainda criança, flagrado dirigindo um veículo — episódio que gerou críticas quanto ao exemplo dado pelo cantor. Esse comportamento é, no mínimo, contraditório, considerando que ele se autointitula defensor de valores como “Deus, Pátria e Família”.
A imprensa e a sociedade têm um papel fundamental nesse debate. É imprescindível que o espaço público não seja utilizado para promover discursos vazios ou declarações irresponsáveis, como a do suposto “bolsa cachaça”. Menos, Gusttavo Lima. O Brasil não precisa de figuras que busquem transformar a política em uma extensão de suas carreiras no entretenimento.
O povo brasileiro merece mais do que aventuras oportunistas ou promessas descabidas. Gusttavo Lima, continue cantando — é o que você faz bem. Para ajudar a melhorar a vida dos cidadãos brasileiros necessitados, não é preciso ingressar na política, mas sim demonstrar empatia, amor ao próximo e menos ostentação. E isso você pode começar a fazer agora!
*Edina Araújo, é jornalista e diretora do Portal VGNOTICIAS
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