por Caiubi Kuhn*
Para início de conversa, não estarei aqui neste artigo abordando sobre o desmatamento, o corte – que digo – é outro, mas também afeta o futuro da nossa região diretamente. Este artigo fala um pouco sobre os efeitos da redução do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) nas universidade e centros de pesquisas situados na Amazônia Legal.
Entende-se por Amazônia Legal o território composto por 9 estados sendo eles: Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, que juntos representam 59% do território Brasileiro. Nestes estados há ocorrência da vegetação amazônica, mas para além da vegetação os estados possuem também problemas econômicos, políticos e sociais similares em vários aspectos.
A dificuldade enfrentada na região da Amazônia Legal vai muito além da falta de logística para exportar a produção da região. Os centros de pesquisas também possuem seus problemas entre eles, a dificuldade de conseguir se tornar atrativo para pesquisadores renomados, devido à escassez de recursos das agências de fomento e falta de estrutura para desenvolvimento de pesquisa. Mesmo com essas dificuldades, nas últimas décadas ocorreu um crescimento surpreendente do número de programas de pós-graduação com cursos de mestrado e doutorado. Estou falando dos programas de pós-graduação, pois neles que boa parte da pesquisa brasileira é desenvolvida e apresentada através de teses e dissertações.
Contudo, mesmo com esse crescimento, os programas de pós-graduação, em geral, ainda estão com uma estrutura muito menor que a existente em universidades no Sul e Sudeste e parte do Nordeste. Esses números ficam claros quando analisamos o relatório Research in Brazil divulgado recentemente pela Clarivate Analytics. O documento trouxe a público o resultado do desempenho em desenvolvimento de pesquisa das principais universidades Brasileiras no período entre 2011 e 2016, e adivinha só, entre as 20 melhores não está nenhuma universidade situada na Amazônia Legal. Na classificação por Estado, todos os 9 estados da região estão situados entre as 14 piores posições, sendo as 6 últimas compostas só por estados da Amazônia Legal.
A pesquisa faz parte do tripé da universidade, e possui relação direta com ensino e com a extensão universitária. Ou seja, a pesquisa possibilita formar profissionais melhores e mais qualificados e auxilia a buscar soluções para os problemas que a população vive no dia-a-dia. O Corte no orçamento do MCTIC certamente reduz ainda mais os já escassos recursos existentes nas instituições de pesquisa, e o efeito dessa medida do governo será sentido com maior intensidade nos estados da Amazônia Legal. Precisamos defender nossas instituições de pesquisa, pois um país com ciência e educação precária, com certeza está fadado a um destino trágico.
*Caiubi Kuhn - Geólogo, mestre em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
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