por Caiubi Kuhn*
As chuvas voltaram, e com elas também um problema recorrente de Cuiabá: os alagamentos em diversos pontos da cidade. Esse problema é resultado da falta de planejamento urbano e da inércia do poder público em implementar medidas de prevenção contra desastres naturais. Mas essa situação poderia ser evitada? E até que ponto eventos ainda mais graves, com danos sociais, ambientais e econômicos de maior escala, podem ocorrer? Esses serão alguns dos temas abordados neste texto.
As rochas existentes na capital mato-grossense dificultam a infiltração de grandes volumes de água no subsolo. Quando ocorrem chuvas concentradas, comuns na região, o volume de água tende a se acumularnos fundos de vales ou até mesmo em áreas planas. Em áreas com bacias hidrográficas de grandes dimensões ou com relevo mais íngreme, esse acúmulo é ainda mais frequente durante fortes chuvas, aumentando o risco de alagamentos.
A impermeabilização de áreas urbanas, a construção de avenidas sem consideração pelo volume de chuva em eventos extremos, o dimensionamento inadequado das galerias de águas pluviais e a falta de manutenção desses sistemas favorecem ainda mais a ocorrência de alagamentos. Esse problema poderia ser mitigado com a realização de análises técnicas adequadas da bacia hidrográfica e do uso e ocupação do solo. No entanto, ano após ano, a cidade de Cuiabá enfrenta alagamentos recorrentes em diversos locais, causando inúmeros prejuízos à população e evidenciando a falta de ação do poder público em realizar intervenções preventivas.
A história nos mostra que, em eventos de chuva extrema, os impactos podem ser ainda mais devastadores. Em abril de 2001, em apenas cinco horas de chuva, uma precipitação de 129 mm causou alagamentos e inundações em Cuiabá, resultando na morte de 15 pessoas e deixando mais de 5 mil desabrigadas. Esse episódio triste reforça a urgência de que o planejamento contra desastres naturais seja uma prioridade para a gestão pública, pois eventos de chuva com intensidade semelhante podem voltar a ocorrer. É necessário que as medidas apropriadas sejam tomadas para minimizar o máximo possíveis danos.
É preciso ações concretas para que no futuro não vejamos mais imagens de carros navegando como lanchas em ruas inundadas. As manchetes de jornais e a indignação da população com os alagamentos precisam ecoar no meio político e se transformar em ações concretas para um planejamento urbano eficaz. Apenas assim alcançaremos uma cidade mais resiliente e preparada para os desafios do presente e do futuro. No cenário de mudanças climáticas do século XXI, eventos extremos serão cada vez mais frequentes e intensos, o que reforça ainda mais a necessidade e a responsabilidade em tratar essa questão. Prevenir desastres não pode ser uma pauta para o amanhã; é necessário agir hoje.
*Caiubi Kuhn, geólogo, Doutor cotutela em Geociência e Meio Ambiente (UNESP) e Environmental Sciences (Universidade de Tubingen), Professor na UFMT, presidente da Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO)
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