por Vinicius de Carvalho*
Tive a oportunidade de entrevistar pela internet 10 dos 11 candidatos ao senado federal por Mato Grosso nessa eleição suplementar. Como o título da live era sempre pré-jogo, não posso deixar de comparar os 11 candidatos com um time de futebol.
Das 11 candidaturas vejo que seis têm uma relação muito forte com a política nacional. São as do deputado estadual Elizeu Nascimento (DC), Euclides Ribeiro (Avante), Fernanda Rubia (Patriotas), Reinaldo Moraes (PSC), o deputado federal José Medeiros (Podemos) e Luciano Azuaga (Novo). Os cinco primeiros orbitam o eleitorado bolsonarista em Mato Grosso, em busca dos apoiadores aqui do atual Presidente da República.
São quase todos nomes novos ou dissidentes na política estadual, participando pela primeira vez da disputa. Até os nomes dos partidos são dessa nova safra. Apenas José Medeiros está concorrendo como titular pela segunda vez e Elizeu Nascimento que tem um pouco mais de estrada. Azuaga também é novato e segue uma orientação nacional do Novo para lançamento de candidatos na maior parte possível dos Estados. Um ponto forte entre elas é o forte uso das mídias sociais e o apelo à chamada “nova política”, que seria definida pelo fato de serem nomes sem experiência política e adotarem métodos de trabalho diferentes dos políticos tradicionais.
Os demais cinco candidatos estão mais articulados à política estadual, já que essa eleição tem se apresentado como um segundo turno ou repescagem de 2018. O 3º colocado Carlos Fávaro (PSD) está concorrendo com o 5º Nilson Leitão (PSDB), o 6º Procurador Mauro (PSOL) e a 7ª Maria Lúcia Cavalli Neder (PC do B), que trocou de lugar com o PT e passou para a 1ª suplência. Está presente o candidato que ficou em 3º lugar para Governador, Pedro Taques (Solidariedade). Este último está na fronteira entre as dinâmicas estadual e nacional, uma vez que vem se posicionando como um dissidente, tentando navegar na onda da anti-política. Seria uma forma de voltar dez anos atrás, quando foi eleito senador com esse discurso.
Neste segundo grupo temos aqueles com as estruturas político-partidárias mais extensas e sólidas, no terreno da política analógica. Marca o enfrentamento de grupos políticos importantes, como aquele que ganhou o primeiro plano a partir da eleição de Blairo Maggi em 2002 e é formado, de modo majoritário, por empresários do setor primário. Destaque para Mauro Mendes e o próprio Fávaro. A única exceção é o deputado Carlos Bezerra (MDB), que vem acompanhando esse grupo nas candidaturas majoritárias desde 2006, dentro do seu forte faro pela permanência no poder. O outro expressa mais o tradicionalismo político, sendo formado por aqueles que detinham mandato popular antes da Era Blairo Maggi. Nilson Leitão, a família Campos e o senador Wellington Fagundes se encaixam nesse critério, assim como o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro (MDB).
Pelo lado esquerdo há também entre o PT e o Procurador Mauro. O PT perdeu espaço em Mato Grosso desde a sua política equivocada de aliança tática com Blairo Maggi contra o PSDB, iniciada de modo informal em 2002 e confirmada em 2006. Favoreceu as disputas presidenciais do partido, mas o enfraqueceu no plano estadual. Isso foi agravado com a famosa disputa entre Serys e Abicalil que acabou prejudicando os dois e fragilizando mais ainda o partido. A ascensão do Procurador Mauro aconteceu exatamente nesse contexto, nos escombros do PT. Minha hipótese é que ele herdou uma parte desse eleitorado com perfil mais a esquerda, somados àqueles com perfil crítico ao sistema político. É um confronto paralelo importante, independente da improvável vitória de qualquer um deles. Acompanhemos.
*Vinicius de Carvalho é gestor governamental, analista político e professor universitário.
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