por Luiz Henrique Lima*
Eu estava lá na rua do Catete em 8 de maio de 1985. E estava feliz. Foi uma manhã repleta de esperança. Naquela hora, pensei que a revolução estava começando e poderia ser vitoriosa.
A revolução que tantos bons brasileiros sonharam e para a qual dedicaram suas vidas. Não uma revolução sangrenta, de tomada dos palácios do poder, de substituição de uma casta de dirigentes por outra, ainda mais sedenta de privilégios. Não. Não era essa, que nunca me seduziu, com seu séquito de horrores camuflado em slogans emotivos.
Era a revolução pacífica, progressiva, verdadeiramente libertadora e transformadora de pessoas e, por meio delas, da sociedade. A revolução que o Brasil sempre precisou fazer e ainda não conseguiu. A revolução da educação. Educação para todos. Educação de qualidade.
Naquela manhã, o governador Leonel Brizola inaugurou o Centro Integrado de Educação Pública Presidente Tancredo Neves, o primeiro de centenas de CIEPs que espalhou por todo o estado do Rio de Janeiro, especialmente nas comunidades mais pobres da periferia. Escolas modernas, amplas, arejadas, com quadras de esporte, bibliotecas e refeitórios e a melhor tecnologia disponível à época. Escolas não apenas de horário integral, mas construídas a partir do conceito de educação integral, envolvendo assistência nutricional, médica e odontológica e articulada com a prática de esportes, música e dança. Tudo aquilo tornou-se real e funcionou muito bem por algum tempo.
Ainda guardo fotos daquela modesta cerimônia. Em uma delas, estou com Darcy Ribeiro, o grande idealizador daquele projeto, e nossos sorrisos expressavam a alegria de ver um primeiro e importante passo concretizado.
As misérias da baixa política se encarregaram de destruir aquela experiência. O estelionato eleitoral do Plano Cruzado reuniu uma formidável aliança que uniu os comunistas das linhas soviética e albanesa aos setores mais reacionários e corruptos da sociedade fluminense. No topo do seu programa de governo estava a paralisação do Programa Especial de Educação, acusado de "muito caro". Em paralelo, os grupos mais sectários à esquerda promoveram intensa campanha contra o "populismo" de proclamar a educação como prioridade absoluta da ação governamental. Além disso, o próprio governo Brizola cometeu erros que o prejudicaram. Numa eleição em que não havia o segundo turno, Darcy Ribeiro foi derrotado e os vitoriosos infames não cumpriram as suas promessas de "emprego, casa e comida" e "acabar com a violência em seis meses"; em compensação, fizeram o que para eles era o mais estratégico: destruíram o programa dos CIEPs, abandonando as obras em andamento, descontinuando a proposta pedagógica, asfixiando a manutenção da rede que já estava em operação, revertendo o horário integral para turnos múltiplos etc.
Naquele momento, é bom que se recorde, ainda não havia a Lei de Responsabilidade Fiscal ou a Lei de Improbidade Administrativa. Ministério Público e Tribunais de Contas não dispunham das garantias constitucionais que lhes foram asseguradas pela Carta Cidadã. O hediondo crime contra a educação foi planejado, anunciado, praticado às claras e permaneceu impune.
Hoje, cariocas e fluminenses não têm mais os CIEPs na sua concepção original e transformadora. Restaram os prédios, muitos dos quais se tornaram redutos de facções criminosas ou milícias. Os que derrotaram os CIEPs hoje usam outra sigla: OTT, que significa "Onde tem tiroteio", um aplicativo para smartfones, de consulta obrigatória para quem quer fazer deslocamentos urbanos com menor risco na Região Metropolitana do Rio ...
Aquela revolução foi perdida. Ainda sonho, contudo, com o dia em que os brasileiros entenderão a necessidade absoluta da revolução educacional.
Há sinais de esperança aqui e acolá. Iniciativas como a Escola Plena em Mato Grosso e tantas outras espalhadas pelo país são animadoras, pois recuperam as propostas de horário integral e de integração do ensino formal com a arte e o esporte.
Por esta revolução, vale a pena sonhar e trabalhar.
*Luiz Henrique Lima - Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT
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