por Luiz Henrique Lima*
Berlim é uma das principais cidades do mundo. De história milenar, possui belos monumentos, imensos parques e ricos museus. Da mesma forma, Paris, Roma ou Moscou. O que torna Berlim singular é o culto à memória. Não, como em toda a parte, o culto a conquistas militares, batalhas vencidas e triunfos heroicos. Muitas vezes tais celebrações são enganosas, distorcem a realidade histórica, demonizam adversários eestimulam o belicismo.
Em Berlim, o culto à memória expõe as entranhas, as mazelas e as misérias das duas mais impactantes e letais experiências políticas do século XX: o nazismo e o comunismo. Duas ideologias extremistas que conquistaram dezenas de milhões de adeptos e produziram os mais sanguinários e impiedosos regimes que o planeta conheceu. Duas barbáries que trouxeram massacres, guerras, mortes, mutilações e sofrimentos em escala nunca antes concebida. Duas vergonhas para a espécie Homo Sapiens Sapiens.
Em Berlim, a vergonha histórica não é oculta, dissimulada ou confinada em locais de difícil acesso. Ao contrário, é exposta com crueza, ao ar livre, em exposições e monumentos de acesso gratuito. A memória dos horrores é viva, pulsante, como uma denúncia permanente, estridente e incômoda para que as pessoas não se esqueçam do que aconteceu, não finjam que desconhecem, não minimizem ou racionalizem a loucura dos extremismos e, principalmente, não permitam que jamais isso possa novamente ocorrer.
No coração de Berlim, as ruínas da sede da Gestapo, a polícia secreta nazista, abrigam uma exposição permanente, denominada Topografia do Terror. No exato local em que se situavam as câmaras de tortura, painéis, em diversos idiomas, contam a história da ascensão do nazismo e da progressiva implantação da ditadura, com a implantação da censura, a aprovação de leis arbitrárias e as perseguições e assassinatos de opositores políticos, ciganos, homossexuais, judeus e deficientes físicos. Além dos dados estatísticos, são apresentadas fotografias, vídeos, documentos e depoimentos gravados, tanto de vítimas, como de algozes. São relatados episódios de grande coragem de resistentes e também de enorme covardia e torpeza como os de espiões judeus recrutados pela Gestapo para denunciar seus vizinhos e conhecidos em troca de dinheiro e de promessas não cumpridas de proteção a suas famílias.
Nenhuma pessoa que tenha um pouco de compaixão, solidariedade e amor ao próximo fica insensível a uma visita à Topografia do Terror. Ninguém minimamente inteligente deixa de entender o perigo que representa para a humanidade o discurso do ódio, do racismo e da intolerância, da apologia do militarismo e do sacrifício das liberdades e dos direitos humanos.
A poucos metros da antiga sede da Gestapo é preservado um trecho do infame Muro de Berlim, erguido pela ditadura comunista no auge da Guerra Fria. O muro, erguido unilateralmente em 1961 e derrubado pacificamente em 1989, no desmanche do comunismo soviético, foi uma insanidade, que partiu uma cidade, rasgando bairros, dividindo ruas, separando famílias e amigos, destruindo relações acadêmicas e comerciais.
Dezenas foram mortos pela polícia comunista, e muitos milhares presos, ao tentar passar para o lado ocidental. O memorial do Muro descreve a vida na cidade dividida e documenta a opressão na ditadura marxista-leninista.
Outras cidades criaram memoriais semelhantes, como o Museu do Apartheid em Joanesburgo, no qual desde a entrada os visitantes são segregados de acordo com a cor de sua pele, de modo a experimentarem a sensação da odiosa discriminação que vigorou por décadas na África do Sul.
É triste constatar que, embora historicamente derrotadas, tais ideologias ainda recrutam adeptos na juventude brasileira que, nas redes sociais e de outras formas, expressam admiração por tiranetes da série B, como as hereditárias ditaduras cubana e norte-coreana, ou saudosismo das ditaduras militares do Cone Sul, inclusive a brasileira. Façamos como os berlinenses: procuremos aprender com a história!
Luiz Henrique Lima é Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT.
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