por Rosana Leite Antunes de Barros *
Ominterrupção ou manterrupting, deriva do neologismo inglês, para explicar as interrupções masculinas às falas das mulheres, de forma consciente ou não. Entre casais, é perceptível o costume feminino de primeiro permitir que o companheiro faça uso da palavra, ficando ínsita a deferência.
Em algumas uniões, o gênero masculino é aquele que detém o controle da situação. As companheiras chegam a tirar os filhos de perto das rodas, com a finalidade de os distrair, a fim de não prejudicar a conversa masculina.
Em público, é comum o gênero masculino fazer uso da palavra mais constantemente que o feminino. A mulher é "cortada" em suas colocações, sendo ignorada, situações que ela não consegue concluir o raciocínio.
É, também, uma possibilidade de mostrar que as explanações femininas merecem pouco destaque.
Ocorrências fáticas ficaram públicas, quando a sociedade e a mídia perceberam que determinadas mulheres, mesmo sendo autoridades, manifestaram sofrer a terrível prática.
Na última campanha à presidência dos EUA, quando Trump e Hillary Clinton se enfrentaram nas urnas, em um determinado debate, a candidata foi interrompida 51 vezes pelo candidato.
A ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, relatou conversa com a ministra Sotomayor, da Corte Suprema dos EUA, onde foi questionada sobre o tema no Brasil. Segundo a ministra americana, as mulheres que compõem os tribunais constitucionais são interrompidas em média 18 vezes mais que os homens.
A ministra brasileira, por sua vez, afirmou que as mulheres dos tribunais de terras brasileiras sequer conseguem falar, por isso não são interrompidas.
Cuida-se de um exercício machista. E as explicações, quando acontecem, são com o pseudo argumento de que nada tem a ver com condutas discriminatórias e preconceituosas de gênero, mas, sim, comportamento de pessoa mal educada.
Existe a hostilidade, assim como pessoas temperamentais, sendo preciso avaliar o caso concreto. Porém, a explicação das interpelações, via de regra, não o serão no verdadeiro motivo, o patriarcalismo.
Para detectar os cortes do gênero masculino ao feminino, foi desenvolvido um aplicativo denominado woman interrupted, que é capaz de apontar quantas vezes a mulher é desmerecida em suas preleções.
O dispositivo ao ser acionado reconhece a voz de acordo com o gênero, detectando o preconceito velado.
Parece, a primeiro juízo, um problema de pequena monta. Todavia, é de muita relevância, porquanto, o que adianta as mulheres ocuparem espaços públicos importantes, se não forem ouvidas como deveria?
A misoginia fica evidente, deixando a mulher, mais uma vez, relegada a cidadã de segunda categoria, como sempre foi tratada.
Voltando à disputa Hillary versus Trump, o atual presidente afirmou em um dos debates que a candidata possuía pouca "estamina", deixando transparecer que seria fraca para assumir tão importante cargo.
Declarou, outrossim, que as mulheres são facilmente suplantas pelo poder, se tornando extremamente agressivas e bravas.
Além das interrupções, é aparente que o homem levanta a voz com facilidade para as mulheres, sendo alvo de maior desrespeito. A violência de gênero se faz presente em larga escala em espaços públicos, onde o tratamento digno deveria ser premissa.
A própria desvalorização dos assuntos trazidos à baila pelas mulheres, como se mimimi fossem, faz com que o enfrentamento deva ocorrer pontualmente.
Os preconceitos e discriminações trazem sinais identificáveis com a sensibilidade humana. Muita atenção!
* Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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