por Michel Medeiros*
Para o grande público, o pronunciamento de Moro resgata a sua figura de “herói” com essa saída. Sua exposição de motivos, enfatizando as tentativas de interferência de Bolsonaro, retoma o foco de homem combativo e que luta contra a corrupção.
Hoje ele fala à oposição e, mais uma vez, aquela parcela gigantesca de pessoas que abriu mão de votar no segundo turno por não se sentir representada.
Moro, que já não era bem quisto pelo chefe do Executivo e os três patetas, foi fundamental para o primeiro momento de Bolsonaro e, segundo bastidores, já vinha desgastado. Essa mudança no comando da PF foi um prato cheio para ele sair e não soar como alguém que pulou fora do barco, mas um homem de princípios.
Seu pronunciamento foi muito inteligente e teve traços políticos muito fortes. Embora saibamos que esse pedido de pensão para a esposa seja infundado, ele se mostra humano. Marido, pai, pessoa comum. Coloca suas “fraquezas” e preocupações como chefe de família à tona.
Ele também ressaltou isso quando falou que está desempregado. Sabemos que agora ele ficará rico, mas nessa hora ele fala diretamente aos que se encontram na mesma situação. Mais uma vez, o homem sobressai ao Ministro e ao Juiz. Moro é um desempregado. Até o olhar e a voz mudaram nessa hora. Um belo orador, que estava ofuscado e conseguiu um revés a seu favor. Mas vale ressaltar que de coitado Moro não tem nada. É um estrategista, com sede interminável!
Os pontos altos foram enfatizar a autonomia da PF no governo Dilma; desmentir a exoneração a pedido; e expor o desejo presidencial de informações sobre o trabalho em curso.
Não, Moro não é herói, tendo em vista toda sua “interferência” (mesmo que contraditória, questionável e velada) no processo que levou à prisão de Lula e ao Impeachment de Dilma. É claro e transparente que ele extrapolou sua função julgadora e tornou-se quase parte do processo. Caminhos que o conduziram ao posto que ele almejava como ministro da Justiça, inicialmente. Ele tem papel fundamental na construção do “Mito” e na eleição de Bolsonaro, sendo protagonista e não coadjuvante para todo esse atropelo político que vive-se hoje.
Ainda assim, para os desavisados, hoje ele recupera essa aura de paladino da justiça e guardião da moral e , sem dúvida, colabora com o enfraquecimento de Bolsonaro. Seus apontamentos mostram que o presidente está longe de ser esse homem que coíbe as velhas práticas. Afinal, ele se deleita há 30 anos da vida política e é fruto dos velhos hábitos.
Muito se fala de não haver nada contra ele ao longo desse trajeto. Contudo, com um salário em torno de 25 mil é bem difícil se construir o patrimônio que ele construiu, com duas casas milionárias na Lúcio Costa, entre outras coisas. Mas isso não cabe aqui.
Moro sai mas, espertamente, deixa o recado de que está aqui, caso precisemos. Será uma sinalização para 2022? Se for, as candidaturas da cento-direita foram pelo ralo. Por hora, ninguém é páreo para o “super-herói” de Curitiba.
Mas ao contrário do que muita gente pode pensar, Lula e o PT também não lucram com esse revés num possível pleito.
Mais uma vez vale a lição: nunca contrate quem você não pode demitir. Hoje Bolsonaro poderia dizer: Brasil acima de tudo, Moro em cima de todos!
*Michel Medeiros - Jornalista, especialista em Jornalismo Político e sócio da L4 Comunicação Estratégica
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