por Guilherme Boulos*
Se fossemos analisar os dados econômicos frios, Bolsonaro já estaria derrotado. PIB provavelmente negativo no ano eleitoral, desemprego elevado e inflação crescente. Mesmo quando houve algum crescimento econômico em seu governo, foi alicerçado no agronegócio, que gera poucos empregos e está voltado para a exportação.
De fato, todos esses fatores definem o favoritismo de Lula, atestado em qualquer pesquisa de opinião. Aliás, nem precisaria do Datafolha. O Data Boteco, o clima nas ruas e nas redes sociais, revela uma mudança de ventos contra Bolsonaro e a favor do ex-presidente, que renasce como uma Fênix após anos de linchamento público e uma prisão política de quase dois anos.
Mas insisto aqui num ponto que tenho martelado em todas as conversas políticas: o jogo não está ganho. A disputa será mesmo, ao que tudo indica, contra Bolsonaro. Nenhum nome da chamada terceira via — a começar pelo patético Sergio Moro — demonstra condições de crescimento.
Mas é justamente Bolsonaro que, apesar da aparência de cachorro morto, pode crescer onde hoje as pesquisas menos indicam: o eleitorado popular, as periferias do Brasil. Pode parecer um contrassenso, dada a popularidade de Lula entre os mais pobres e particularmente no Nordeste.
Mas não é. Seria um erro grosseiro subestimar o efeito de um benefício de R$400 para 18 milhões de famílias brasileiras que se encontram na extrema pobreza. É a diferença entre comer ou não. Ser despejado ou conseguir pagar o aluguel. Não é pouca coisa em tempos de vacas magras.
Que o Auxílio Brasil seja uma jogada eleitoreira, que tem prazo de validade no fim do ano; que a fome, a inflação e a estagnação econômica foram produzidas pela política deste mesmo governo.
Tudo isso, quem está no calor da luta política sabe, mas pode não surtir tanto efeito diante da sensação de melhora de vida para milhões de pessoas atiradas no desespero.
Enquanto a grande mídia e a maioria das forças partidárias focam suas atenções em federações, coligações, montagem dos palanques, etc. — pode estar em curso, silenciosamente, uma recuperação relativa de Bolsonaro nas periferias urbanas e interiores do país.
Repito, não há dúvidas de que Lula é hoje o favorito para as eleições de outubro. Mas a vitória precisará ser conquistada a partir de ampla mobilização e diálogo nas periferias.
Mais do que nunca, essa campanha exigirá engajamento, muito além de jogadas espertas de marqueteiros profissionais. Será uma batalha de becos e vielas, que envolve os meios de comunicação e as redes sociais, mas também sola de sapato e militância.
* Guilherme Boulos é professor, coordenador do MTST e da Frente Povo Sem Medo. Foi candidato do PSOL à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo
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