Nas últimas horas de um fatídico 31 de março as tropas do exército aquartelada na cidade mineira de Juiz de Fora e comandadas pelo General Olympio Mourão Filho se puseram em marcha para invadir e dominar o Rio de Janeiro. Este foi o primeiro ato do golpe militar que ao destituir o presidente João Goulart, legitimamente eleito em 1960, lançou o Brasil no abismo do autoritarismo e da barbárie.
Uma longa, terrível e obscura noite de 21 anos cobriu o país. O regime ditatorial estabelecido pelos generais instaurou a censura, fechou o Congresso Nacional, perseguiu todas e todos que divergiam da ordem totalitária vigente, prendeu e torturou cidadãos, matou centenas de brasileiras e brasileiros muitos dos quais os restos mortais continuam desaparecidos até o dia de hoje.
O presidente Lula comete um erro categórico e de desdobramentos dramáticos ao impedir que nestes 60 anos do Golpe de 1964 o governo brasileiro não relembre as atrocidades e arbitrariedades cometidas pelos militares brasileiros ao longo de duas décadas de autoritarismo no que tudo indica ser uma concessão as instituições castrenses.
Hoje lembrarmos juntos a Ditadura Militar é defender a democracia.
A democracia em todo o mundo está sendo atacada por movimentos radicalistas, especialmente aquele vinculados a extrema direita. No Brasil, nos últimos anos, assistimos um torturador como o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra ser considerado um herói tanto pelo ex-presidente como pelo ex-vice-presidente da nação. Do mesmo modo a cada dia fica mais claro e nítido que um golpe de estado foi tramado e urdido dentro do Palácio do Planalto por Bolsonaro e seus asseclas.
A sociedade brasileira observou uma escalada de violência que começou com acampamentos em quartéis e passou por bloqueio de rodovias e vias públicas, a tentativa de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília até culminar com as invasões e depredações do 8 de janeiro. Tudo isso realizado por fanáticos fascistas que se consideram cidadãos de bem.
Lembrar o Golpe de 64 é um recado para a extrema direita de que seus atos contra a democracia serão punidos de forma exemplar e sem anistia. Lembrar o Golpe de 64 também é uma clara mensagem ao establishment militar de que as Forças Armadas são instituições de Estado e que não podem ser sequestradas por grupos políticos e nem se arrogarem a condição de moderador dos poderes constitucionais e assim tentar tutelar a República.
É um dever de memória, não apenas neste 31 de março, mas todos os dias não esquecermos dos horrores da Ditadura Militar. Cabe a nós lembrar daquelas e daqueles que foram vencidos, que deram sua vida na luta contra o autoritarismo do regime dos generais senão elas e eles serão mais uma vez vencidos e mortos.
Lembrar 64 é defender a democracia!
Marcus Cruz é diretor do Instituto de Geografia, História e Documentação (IGHD) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
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