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Artigos Terça-feira, 06 de Fevereiro de 2018, 17:12 - A | A

Terça-feira, 06 de Fevereiro de 2018, 17h:12 - A | A

OPINIÃO

Leite derramado

                                                                                                                                                                                 por Eduardo Mahon*

A postura mais fácil que um governante pode adotar é culpar a administração anterior pela frustração das promessas eleitorais. Em Mato Grosso, particularmente, a herança maldita de um para o outro governo é evidente. 

Da mesma forma que o Rio de Janeiro, o governo peemedebista armou uma bomba para quem quer que se sentasse na cadeira: incremento salarial às carreiras, inchaço da máquina pública, estrangulamento da arrecadação e o eterno vício de compartilhar receita com os demais poderes por falta de um orçamento realista. 

Tudo isso o governador Pedro Taques sabia antes mesmo de assumir, assim como sabia antecipadamente que as obras estavam superfaturadas, que o consórcio do Veículo Leve sobre Trilhos não iria prosseguir o trabalho, que o Estado meteu-se numa sinuca fiscal difícil e, por fim, reformas profundas deveriam ser realizadas desde o primeiro dia.

Como guerra avisada não mata soldado, quem predispôs-se a governar tinha conhecimento das vicissitudes administrativas a que estava sujeito. Diz a máxima popular: quem casa com a viúva, herda os filhos sem reclamar. No caso de Taques, o Estado foi conduzido com o olho fixado no retrovisor, sem que houvesse nenhuma medida concreta de desfazimento das situações jurídicas urdidas no governo anterior.

O governo Taques tem, até hoje, mais de 80% de apoio legislativo, o que daria folga suficiente para impor – desde o início – uma agenda reformadora positiva: 1) repasse imediato dos inativos ao respectivo poder; 2) desvinculação de repasses para os poderes da receita apurada; 3) rescisão imediata com as empreiteiras das obras superfaturadas; 4) amplo debate sobre a taxação do agronegócio; 5) revisão imediata das isenções fiscais; 6) corte radical na máquina pública; 7) judicialização de alguns reajustes classistas sem o devido estudo de impacto financeiro. 

Tudo isso foi diagnosticado pela equipe de transição. Com 57.25% dos votos válidos, já em primeiro turno, elegeu-se Pedro Taques, após a tragédia de corrupção que solapou Mato Grosso. Tinha a imagem austera e dura, imprescindível para aquele momento de transição crítica. Frente às prisões em cascata contra gestores passados, ganhou legitimidade e justificativas para implementar as reformas que o Estado carecia. 

No entanto, não foi isso que aconteceu. Mantendo a linha sisuda, Taques dialogou pouco com as instituições e dialogou mal. Foi cedendo a pauta de reformas, perdido na gestão caótica de um secretariado inexperiente e igualmente desconfiado de tudo e de todos. 

Os servidores que propunham uma agenda positiva de incremento de arrecadação foram tomados como bandidos, assim como bandidos eram todos aqueles que não apoiavam o atual governador. 

Instalou-se o medo da crítica. Coincidentemente, o restolho de oposição teve mais problemas judiciais para se preocupar na própria cozinha do que para manter o enfrentamento. O processo contra Silval Barbosa que redundou nos acordos de colaboração premiada com respectiva confissão dos picaretas que compunham uma quadrilha, em nada repercutiu de prático para o atual governo.

 

Estrategicamente, perdemos a maior e melhor oportunidade de entabular uma discussão séria sobre o aumento da arrecadação, a divisão republicana e a contenção de despesas públicas. A máquina continuou a girar da mesma forma, com personagens diferentes. No entanto, os fundamentos administrativos que gerariam a atual crise não foram tocados: o Estado – que se arvorava tão bom de briga – não deu combate aos aumentos salariais, às empreiteiras, ao agronegócio, a nada que pudesse ameaçar fundamentalmente a composição de forças em Mato Grosso. 

O que vemos? Uma aliança entre antigos caciques, um governador arrostado pelo endividamento, o funcionalismo frustrado e raivoso, a briga jurídica extemporânea paralisando a administração pública no que diz respeito à mobilidade urbana. 

Há alternativa? Parece que não. Mas, em política, sempre há alternativas. Os homens não são pedras que se possam colecionar. O rompimento é tão mais factível quanto menor a força do governante. Os profissionais pressentem o navio fazendo água e não conheço um único político disposto a se afogar com o comandante no navio que vai a pique. 

Uma outra eleição poderia garantir força necessária para implementar a agenda de reformas impopulares? Não sabemos. Não é possível prever se a mesma pessoa pode mudar tanto de comportamento que passe a enxergar o que, até hoje, não viu. Pessoalmente, nunca vi tamanha resistência, crítica, rancor contra um governante. 

Ao se realizar uma breve retrospectiva, percebemos quantos aliados importantes tornaram-se críticos vorazes, parceiros insossos ou aliados dúbios. Um sentimento de fracasso toma conta das rodas de discussão, o que fermenta outras pretensões, outros nomes, outros projetos. Ineficaz chorar o leite derramado. Continuamos na torcida. Na torcida por Mato Grosso. 

*EDUARDO MAHON é advogado em Mato Grosso.

Brasil unido pelo Rio Grande do Sul

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