por Eduardo Gomes*
Impeachment, a palavra que abalou Brasília em 1992 volta à tona. Antes o alvo foi o presidente Fernando Collor de Melo. Agora é a presidente Dilma. Esta matéria mostra como comportou a bancada mato-grossense àquela época e o que se espera dos deputados 24 anos depois de Collor.
Em 1992 o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Barbosa Lima Sobrinho, e o jurista Marcelo Lavenère, ofereceram à Câmara dos Deputados denúncia contra o presidente Collor de Melo. Num dos trechos a denúncia dizia: “Nos regimes democráticos, o grande juiz dos governantes é o próprio povo, é a consciência ética popular. O governante eleito que se assenhoreia do poder em seu próprio interesse, ou no de seus amigos e familiares, não pratica apenas atos de corrupção pessoal, de apropriação indébita ou desvio da coisa pública: mais do que isso, ele escarnece e vilipendia a soberania popular”.
Diante da forte argumentação uma Comissão Especial da Câmara presidida por Gastone Righi (PTB/SP) aprovou por 16 votos a 5 o relatório de Nelson Jobim (PMDB/RS) pela instauração do processo de impeachment de Collor.
Antes mesmo da aprovação do relatório, bem na fase embrionária da denúncia os oito deputados mato-grossenses ouviram as vozes das ruas, dialogaram com os cidadãos e assumiram seu posicionamento. Augustinho Freitas, Rodrigues Palma e Joaquim Sucena (do PTB); Jonas Pinheiro (PFL); e José Augusto Curvo (Tampinha), Wilmar Peres e Wellington Fagundes (do PL) garantiram que votariam pelo processo de impeachment e votaram. João Teixeira (PL), defensor de Collor ficou ao lado do presidente e não compareceu à votação, tentando esvaziar o plenário.
O processo do impeachment foi criado em votação aberta, por 441 votos (bastavam 336 para tanto), com 38 votos contrários, 23 ausências incluindo João Teixeira e a abstenção de Gastone Righi, que se sentiu impedido por sua função na Comissão Especial. Collor renunciou.
Transcorridos quase 24 anos do episódio Collor, impeachment volta ao cenário nacional, na Câmara, onde se inicia o processo que tem rito bicameral. Na bancada mato-grossense, com firmeza, três querem o afastamento de Dilma; um a defende com unhas e dentes; e quatro serão impulsionados pelo que melhor lhes convier.
Nilson Leitão (PSDB), Victorio Galli (PSC) e Adilton Sachetti (PSB) querem a cabeça e a faixa presidencial de Dilma; a primeira por convicção herodiana e a outra por gula pelo poder.
Ságuas Moraes (PT) é Dilma desde criancinha e não dorme sem tomar bênção ao padinho Lula.
Ezequiel Fonseca (PP) e Valtenir Pereira (PMDB) estão agarrados no alto do muro. Ezequiel encontra-se licenciado e substituído por José Augusto Curvo, o Tampinha (PSD), que votou pela queda de Collor. Porém, com o afunilamento da tramitação, Ezequiel voltará à sua cadeira. Valtenir seguramente esperará a poeira baixar pra ficar com a opção que melhor convier aos seus interesses.
Carlos Bezerra (PMDB), por enquanto está ao lado da presidente, mas se o contexto político criar perspectivas que interessem à cúpula do PMDB, ele saltará do barco sem nenhum constrangimento.
Fábio Garcia (PSB) até recentemente era indeciso e agora assume a bandeira do impeachment por força de definição partidária; porém que ninguém se surpreenda caso ele mude de lado.
RITO– Ontem, por 61 votos a 1, os deputados criaram a Comissão Especial do Impeachment, composta por 65 membros escolhidos pela lideranças partidárias. Nilson Leitão e Valtenir Pereira são titulares e Victori Galli suplente. O presidente é Rogério Rosso (PSD/DF) e Jovair Arantes (PTB/GO). Dilma terá prazo de 10 sessões ordinárias para apresentar defesa e depois disso a Câmara terá cinco sessões ordinárias para votar o parecer pela continuidade ou não ao processo do pedido de impedimento da presidente. Também ontem, o primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB/SP) a notificou sobre a criação da Comissão Especial do Impeachment.
Barbosa Lima Sobrinho e Lavenère nos ensinaram em 1992 que: “Nos regimes democráticos, o grande juiz dos governantes é o próprio povo, é a consciência ética popular”. A bancada mato-grossense na Câmara precisa ouvir o eleitor que a elegeu. O homem público que exerce mandato eletivo não pode se isolar daqueles que representa, principalmente em situações como a atual.
ONDE ESTÃO? – Dos oito que votaram no impeachment de Collor, um continua no Congresso e dois são suplentes de congressistas. Dois morreram.
O cuiabano José Augusto da Silva Curvo, o Tampinha (PSD) é médico e ocupa a cadeira de Ezequiel Fonseca. À época do impeachment de Collor, Tampinha era suplente de Oscar Travassos, que deixou a Câmara para ser secretário de Segurança Pública de Jayme Campos. Antes do Congresso foi vereador por Cuiabá, onde reside.
O empresário e veterinário Wellington Antônio Fagundes conquistou mais cinco mandatos de deputado federal e em 2014 chegou ao Senado pela legenda do PR, do qual é presidente em Mato Grosso. Entre um e outro mandato perdeu duas eleições para prefeito de Rondonópolis, cidade onde nasceu e reside.
O cuiabano Manoel Antônio Rodrigues Palma se reelegeu e agora é segundo suplente do correligionário senador republicano Blairo Maggi. Antes de ser deputado federal foi deputado estadual e prefeito nomeado ou biônico de Cuiabá, cargo que lhe foi dado pelo sogro e então governador Garcia Neto. Palma é tio do deputado federal Fábio Garcia e mora em Cuiabá.
Jonas Pinheiro da Silva nasceu em Santo Antônio de Leverger, era veterinário da Empaer, cumpriu três legislaturas na Câmara e depois conquistou dois mandatos de senador. Jonas morreu em Cuiabá e seu corpo foi sepultado em sua cidade; deixou a cadeira para Gilberto Goellner.
Barra-garcense, Wilmar Peres de Farias antes de votar o impeachment foi vice-governador de Júlio Campos. Depois foi prefeito de Barra do Garças, município que agora é administrado por seu filho Roberto Farias. Wilmar morreu em sua cidade, onde seu corpo foi sepultado.
O pecuarista mineiro João Teixeira deixou seu Estado por Alta Floresta, onde seu irmão José Luiz era vice-prefeito. Antes de ser congressista foi vereador por Alta Floresta e deputado estadual. Depois tentou voltar a Assembleia e buscou uma cadeira de vereador, mas sem sucesso. Mora em Cuiabá, é capoeirista, narrador de rodeios e cuida de sua propriedade rural.
* Eduardo Gomes é jornalista
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