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Artigos Sábado, 29 de Março de 2025, 15:08 - A | A

Sábado, 29 de Março de 2025, 15h:08 - A | A

Jannira Laranjeira*

Feminicídio vingança: quando o alvo é a mulher, mas quem morre é a criança

por Jannira Laranjeira

O mês de março está terminando. E com ele, as flores, os discursos e as homenagens que costumam marcar o Dia Internacional da Mulher. Mas entre um post e outro celebrando a força feminina, os noticiários nos lembram de uma verdade incômoda: ainda estamos
enterrando meninas e meninos que morreram por causa da violência contra suas mães.

O feminicídio vingança é uma das expressões mais cruéis da violência de gênero. É quando o agressor, ao perder o controle sobre a mulher, tenta feri-la de forma definitiva. E para isso, mata o que ela mais ama. Vivemos tempos em que a violência contra a mulher não se limita mais ao corpo feminino.

Ela se alastra, se transforma e atinge o que há de mais sagrado: os filhos.

1. Caso Theo Felber (São Gabriel, RS, 2025) - Pai arremessa filho de 5 anos de ponte em ato de vingança Em março de 2025, Tiago Ricardo Felber, de 40 anos, confessou ter jogado seu filho Theo, de 5 anos, de uma ponte em São Gabriel (RS) como forma de se vingar da ex-companheira. O crime ocorreu no dia do aniversário de Tiago, após uma tentativa frustrada de sufocar a criança no dia anterior.

2. Caso Jardel Oliveira dos Santos e filhos gêmeos (São Vendelino, RS, 2025) - Acidente ou ato intencional? Pai e gêmeos morrem em colisão frontal Em março de 2025, Jardel Oliveira dos Santos, de 37 anos, e seus filhos gêmeos, Bernardo e Vicente, de 6 anos, morreram após o carro em que estavam colidir frontalmente com um caminhão na RS-446, em São Vendelino (RS). A polícia investiga se o acidente foi proposital, possivelmente motivado por desavenças conjugais. O que esses casos têm em comum? Todos escancaram uma lógica perversa que atravessa os relacionamentos abusivos: a ideia de que a mulher é propriedade. E, como tal, só pode existir sob o domínio do agressor.

Quando essa mulher rompe o ciclo, tenta sair da relação ou simplesmente começa a reconstruir sua vida, o agressor se sente desafiado. Ferido no ego. Envergonhado socialmente. E transforma esse sentimento em uma necessidade de punição. Mas ele não quer só ferir. Ele quer aniquilar — e, para isso, mira o que é mais precioso para ela: os filhos.

A mensagem é cruel e clara: “Se você não for minha, ninguém mais vai te ver feliz.” É o mesmo padrão de feminicídio, mas travestido de tragédia familiar. São crimes premeditados, muitas vezes anunciados em ameaças, mas ignorados por quem deveria proteger. São expressões de ódio disfarçado de amor, que muitas vezes foram precedidas por violência psicológica, manipulação emocional, chantagem afetiva e isolamento.

É a tentativa de transformar a mulher em um território arrasado: sem filhos, sem futuro, sem paz. Como delegada e mulher que escolheu estar na linha de frente da proteção, eu afirmo: não se trata de tragédia. É crime. E mais que isso: é um crime de gênero. Mesmo quando a vítima direta é a criança, a motivação está ligada ao controle da mulher. Por isso, precisamos mudar o olhar.

Precisamos de políticas públicas que enxerguem o risco com lentes reais. Precisamos de sistemas de justiça e segurança que levem a ameaça a sério — e não só depois que a tragédia já aconteceu. Que essas crianças não tenham morrido em vão. Que o luto de tantas mães se transforme em urgência. Que a memória das vítimas nos empurre para a ação.

Março termina. Mas o enfrentamento precisa continuar todos os dias. Porque enquanto houver uma mulher sendo ameaçada, há uma criança em risco. E quem protege uma mulher, salva uma família inteira.

*Jannira Laranjeira - Delegada de Polícia / Especialista em Enfrentamento à Violência Contra a Mulher e em Gestão Estratégica em Segurança Pública / Membro da Associação Mato-grossense de Mulheres na Carreira Jurídica.

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