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Artigos Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2018, 12:12 - A | A

Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2018, 12h:12 - A | A

OPINIÃO

Escola sem partido e a direita “festiva

                                                                                                                                                                                        por Caiubi Kuhn*

A educação no nosso país precisa melhorar muito, isso é um senso comum na sociedade. Agora quais os principais problemas da educação brasileira? Para a direita festiva, o grande problema é a fantasiosa doutrinação ideológica que vem atuando nas escolas Brasileiras nas últimas décadas.

Mas qual a realidade da educação Brasileira? Estamos com nota vermelha na avaliação do Programa para Avaliação Internacional de Estudantes (Program for International Student Assessment - PISA) ocupando as últimas posições em leitura, matemática e ciências. Os índices do PISA contradizem os avanços significativos registrados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), visto que no mesmo período os dados do PISA não apresentam significativa melhora registradas nos índices do IDEB.

O Brasil é uma país continental e com muitas diferenças regionais, a realidade da educação também apresenta disparidades entre os estados e entre o meio urbano e rural. Em pleno século XXI ainda temos crianças que não tem acesso à escola. Ou seja, temos muito o que melhorar e muito o que fazer pela educação. As ações necessárias passam desde mudanças de políticas, valorização dos educadores, melhoria das condições estruturais nas escolas e é claro garantir uma maior eficiência e eficácia dos gastos públicos através de análise de indicadores adequados.

Antes de voltar a abordar sobre a fantasiosa doutrinação ideológica, irei fazer um relato da situação educacional de Chapada dos Guimarães, meu município natal. Cresci na zona rural, e na década de 90 quando, quando estava iniciando os estudos nem se quer existia transporte escolar, quando começou a existir, eu e meus irmãos tínhamos que andar quase um quilometro até a parada de ônibus (que não tinha e até hoje não tem, nenhum abrigo para proteger da chuva, frio ou sol), o ônibus costumava passar dia sim, dia não. Vinte anos depois sei que essa ainda continua sendo a realidade de milhares de brasileiros que dependem de um transporte escolar sazonal. Nas escolas rurais ou nas escolas situadas nas periferias, até hoje ainda existem falta de professores.

Ao analisarmos os indicadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), em Chapada dos Guimarães, podemos observar outras dificuldades enfrentadas pelos profissionais da educação e pelos estudantes da rede pública. Em 2005 a proporção entre professor e aluno no ensino fundamental era 30,46 nas escolas públicas estaduais, 16,42 nas escolas municipais e 8,88 nas municipais nas escolas particulares. Hoje a proporção aluno professor melhorou, mas os desafios da educação em Chapada e em outros municípios do Brasil continuam gigantes.

A direita festiva Brasileira coloca como principal pauta no campo da educação o projeto escola sem partido, alegando que existe uma doutrinação ideológica no Brasil. Nas escolas devemos falar de todos os pensadores e fatos históricos, devemos debater a sociedade, devemos discutir filosofias. Mas acho que fica difícil fazer isso sem as condições adequadas, sem que professores sejam valorizados. Na atual realidade da educação brasileira a dita doutrinação, não passa de um fato fantasioso que alguns insistem em dizer que existe, só para ganhar terreno político e fazer firulas festivas.

Os dados do PISA demonstram que precisamos urgentemente melhorar nosso sistema educacional em todos os campos, também precisamos garantir a cada brasileiro que ele tenha acesso a educação. Amigos de direita, vamos parar de ficção e comecem a lutar pela educação, lutar contra os cortes no Ministério de Ciência e Tecnologias e Comunicações e no Ministério da Educação. A educação e a ciência precisam ser uma pauta prioritária para todos nós brasileiros. Se um jovem souber ler, escrever, interpretar textos, fazer contas de matemática e entender os conceitos básicos das ciências da natureza, certamente ele conseguirá tomar decisões políticas conscientes, sejam elas com viés para direita ou para esquerda.

*Caiubi Kuhn - Geólogo, mestre em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

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