por Jairo Pitolé Sant'Ana
Dentro de alguns dias, serão incineradas cerca de 20 toneladas de medicamentos, vencidos ou estragados, da Farmácia de Alto Custo de Cuiabá - um dos medicamentos custa R$ 5 mil cada ampola. Nesta semana, em Brasília, foram encontrados remédios vencidos desde 2013 e armazenados em condições inapropriadas.
Embora sejam duas notícias que deveriam ser assustadoras, e, portanto, macular os nomes dos responsáveis por estas situações, é apenas a ponta de um grande (perdão pela hipérbole) iceberg, que navega por mares e sertões brasileiros mais tempo do que poderia supor alguém não acostumado com tamanhas aberrações.
Ou seja, não são ações pontuais, esporádicas ou, como se dizia na época da ditadura, casos isolados. Ao contrário, é quase um padrão e acontece em todo o Brasil. Aqui em Mato Grosso, por exemplo, há notícias de 55 toneladas incineradas em 2012 e 20 toneladas em 2011. Segundo notícias da época, as 55 toneladas já teriam sido compradas com prazo de validade vencido.
É bem provável que o Silval (Barbosa, governador de Mato Grosso no período) tenha falado sobre isso em sua delação premiada.
No Rio de Janeiro, apenas em 2013, foram incineradas 214 toneladas de medicamentos e insumos vencidos. Em 2016, gastou-se quase R$ 3 milhões para incinerar outros medicamentos vencidos, a um custo de R$ 2,86 o quilo.
A operação é completa. Deixa-se vencer o medicamento para incinerá-lo depois, a preços acima do mercado. Seria cômico se não fosse trágico, e criminoso.
Em 2008, a Controladoria Geral da União(CGU) identificou 16 cidades que incineraram medicamentos vencidos. Quase uma década depois, em agosto deste ano, a mesma CGU divulgou um relatório, referente a 2014 e 2015, mostrando que 11 dos 27 estados brasileiros perderam medicamentos, seja por validade vencida ou por armazenagem incorreta.
Motivo: falta de um elementar planejamento. Tipo: um simples controle do estoque evitaria todo o desperdício. Estas farmácias têm o direito de devolver medicamentos armazenados até 15 dias antes do vencimento do lote. Detalhe: o material é trocado sem nenhum custo para o contribuinte.
Portanto, o problema só pode ser a soma de descaso, desmazelo, indiferença, inação e impunidade.
Só pra fechar: o relatório fala em prejuízo de R$ 16 milhões, enquanto uma estimativa do Conselho Federal de Farmácia, divulgada na imprensa em 2010, já alertava que o prejuízo resultante do desperdício de medicamentos no Brasil era de R$ 1 bilhão a cada ano. O equivalente a 20% dos remédios comprados no varejo pelo poder público e pelos hospitais privados.
Jairo Pitolé Sant'Ana é jornalista em Cuiabá. Contato: [email protected]
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