por Eduardo Gomes *
Em 1995 Rondonópolis tinha 137.980 habitantes e atravessava um complicado período caracterizado por invasões urbanas – que os defensores do politicamente correto chamam de ocupações. Acampamentos surgiam da noite para o dia apinhados de sofridos trabalhadores sem horizonte e de oportunistas. Com a mesma rapidez do aparecimento as barracas de lona eram desarmadas e seus donos cortavam a cerca de algum terreno vazio e ali se instalavam em barracos.
A cidade estava mergulhada no caos social. A solução do grave problema ia muito além do esbulho, do enfrentamento ao coice da carabina, da ameaça de pistoleiros. Algo precisava urgentemente ser feito por aquela gente e pelo ordenamento social.
A classe política rondonopolitana é cheia de defeitos e permeada por alguns nomes pouco recomendáveis, mas tem figuras respeitáveis. Essa miscelânea de água e óleo diverge em muitos campos, mas quando se trata do interesse comum do município ela o abraça.
Em silêncio, longe, bem distante dos jornalistas e do clero radical, políticos rondonopolitanos bateram o martelo para solucionar o problema social eliminando a indústria do grilo. A saída seria assentar em áreas do Incra e do Instituto de Terras do Estado (Intermat) os invasores e acampados.
Para levar adiante a proposta os políticos tiveram a cautela de quem pisa em ovos, por conta do posicionamento do governador Dante de Oliveira, em início de mandato, e que não admitia o emprego da Polícia Militar nos despejos, uma vez que defendia a redistribuição da terra.
Toda cautela era pouca, mas Carlos Bezerra, Wellington Fagundes, Moisés Feltrin, Augustinho de Freitas, Rogério Salles e outros políticos sem excluir a turma do baixo clero, conseguiram matar dois coelhos com uma só cajadada – frase que também não agrada ao citado pessoal do politicamente correto.
O discurso que sustentava as invasões era a ineficácia da reforma agrária. Fazendo coro com essa tecla a classe política tratou de transferir os reclamantes para assentamentos em vários municípios.
Quando a fome se junta à vontade de comer não há quem resista. Rondonópolis ficou sem a população nômade com a desmobilização da indústria do grilo. A cidade socialmente organizada respirou aliviada. Os invasores e acampados ganharam a oportunidade do recomeço, no campo, em paz, num ambiente salubre, com fartura.
Não se tratou de uma ação de depuração social. Foi uma jogada política benéfica para o conjunto da população. A demanda agrária para aproximadamente quatro mil brasileiros de todas as idades foi atendida. Uma cidade talhada ao desenvolvimento tem mesmo que encontrar solução para os seus, tanto dentro quanto fora de seus limites.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
Brasil unido pelo Rio Grande do Sul
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