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Artigos Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2018, 16:00 - A | A

Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2018, 16h:00 - A | A

Opinião

De estranha democracia

por Eduardo Gomes de Andrade*

Acredito que em Cuiabá ninguém - tanto quanto eu - acompanhou com presença, interesse e paixão a luta dos moradores na vila Estrela do Araguaia e na zona rural daquela região araguaiana, ao longo da tramitação do processo que resultou na sua desintrusão para entrega-la aos xavantes aldeados em Merure, São Marcos e outras reservas.

Uma grande operação de guerra botou no olho da rua cerca de cinco mil brasileiros que tiveram suas casas, escolas, igrejas, postos de saúde, estabelecimentos comerciais e seus sonhos demolidos pela soldadesca a mando do Supremo Tribunal Federal.

Estrela do Araguaia, a referência urbana da fazenda Suiá-Missú, era conhecida como Posto da Mata e foi riscada do mapa em 10 de dezembro de 2012. A área da desintrusão é de 155 mil hectares, se estende por Alto Boa Vista, São Félix do Araguaia e Bom Jesus do Araguaia, e pertenceu a um dos braços econômicos do Vaticano, que era proprietário de um latifúndio com um milhão de hectares, onde segundo antigos moradores, a fabricante de armas Beretta testava armamentos. Em sucessivos parcelamentos de área, remanesceu a região de onde os brasileiros foram arrancados pelos fuzis. Hoje, transcorridos cinco anos daquela fatídica data, a região é desabitada; quem trafega pela BR-158 vê escombros das construções que durante décadas abrigaram pobres moradores de mãos calejadas, crianças, portadores de necessidades especiais, idosos, jovens...

Nas minhas idas ao lugar sempre ouvia relatos de esperança, via o brilho da vida nos olhares e respeitava o sentimento de fé de indefesas criaturas à espera de um milagre, que acabou não acontecendo.

Suiá-Missú virou terra indígena Marãiwatséde, nação soberana perante a ONU, segundo documento que o Brasil de Lula da Silva é signatário. Os antigos moradores enfrentam as consequências da diáspora no Araguaia; alguns estão à beira do caminho longe dali, outros morreram de desgosto ou puseram fim à vida, vários foram enrodilhados pelos tentáculos do crime urbano - muito triste!

A data da desintrusão de Suiá-Missú coincide com o aniversário de Rondonópolis, a cidade que é referência para Poxoréu - sede do município do distrito de Jarudore.

O roteiro sobre Jarudore passa pelos índios bororos e será o mesmo de Suiá-Missú. Em breve – muito em breve – teremos mais 1.500 brasileiros na sarjeta deixando para trás seus sonhos, alguns iniciados há 70 anos, por seus avós e pais. Somos o país onde sobra terra e falta razoabilidade. Somos Mato Grosso, o lugar onde um só raio poderá cair em dois lugares. Estranha democracia.

*Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
[email protected]

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