por Margareth Botelho*
A morte encontrou Rodrigo Patrício Lima Claro, aos 21 anos, sem que ele tivesse tempo para realizar o sonho de ser bombeiro militar.
Horas de treinamento brutal na Lagoa Trevisan, com sessões de afogamento segundo relatos de colegas, pelas mãos da instrutora e tenente Isadora Ledur tiraram a vida do rapaz.
O Rodrigo, herói do futuro que salvaria pessoas, é o Rodrigo vítima hoje, que sucumbiu sem chance de defesa diante da implacável bombeira.
A mãe Jane, namorada, família, vizinhos e amigos nunca mais verão o sorriso tímido que por vezes escapava e iluminava o rosto do jovem.
A dor cravada na alma de todos que amaram e amam Rodrigo estarrece a cidade, Mato Grosso e sei lá mais onde, assim que a notícia chega.
Como podemos aceitar, enquanto mães e pais, que um rapaz entregue aos cuidados de uma corporação secular como a Polícia Militar, seja devolvido inerte.
É admissível em pleno século 21, na velocidade quase cibernética do mundo, recorrer a práticas cruéis para ensinar alguém uma profissão, que prioriza o cuidado e a proteção das pessoas.
Penso que nada justifica. Não mesmo. Barbárie e mente doentia camufladas sob pretensa legalidade?
Onde está escrito que o treinamento de um futuro bombeiro precisa ser conduzido em condições como as relatadas pelos companheiros de Rodrigo? No regimento da corporação?
Se estiver, até onde sei é um flagrante desrespeito à própria Constituição Federal e aos princípios universais dos Direitos Humanos, ratificados pelo Brasil.
Ainda não se sabe oficialmente a causa da morte de Rodrigo. Mas a família não tem nenhuma dúvida de que as sessões de afogamento e o treinamento excessivo são responsáveis pelo óbito precoce.
A versão do Comando do Corpo de Bombeiros é de que o Rodrigo passou mal enquanto atravessava a nado a Lagoa Trevisan. Penso que a morte do formando não pode se resumir a explicações tão vagas.
E convenhamos, mesmo que seja essa a verdade, fica mais evidente que algo errado aconteceu naquele momento. Esforço desmedido é fator para qualificar um aspirante a bombeiro?
Ainda mais grave. No contraponto da tragédia, uma promoção na carreira militar aguarda a instrutora Isadora, investigada por tortura que pode ter matado Rodrigo.
Na solenidade, marcada para 2 de dezembro mesmo dia em que se formaria o aluno, a tenente bombeiro mudará de patente, passando a capitã.
A “premiação”, como encara a família, é motivo de revolta. Jane Patrícia Lima Claro, mãe de Rodrigo, já acalenta no coração a dor da ausência, mas não considera razoável, nada razoável, que Isadora vire capitã.
Difícil entender que os meandros legais permitam a promoção de Isadora. Superiores alegam que ela fez por merecer.
Talvez tenha feito sim, pelo menos até aquela violenta tarde de quinta-feira, 10 de novembro. É o que pensa Jane. Ela aguarda um gesto do Estado de Mato Grosso. E a sociedade espera uma resposta.
Margareth Botelho é jornalista em Cuiabá.
Brasil unido pelo Rio Grande do Sul
Entre no grupo do VGNotícias no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).